quinta-feira

UM SONHO DE LIBERDADE


UM SONHO DE LIBERDADE (The Shawshank Redemption, 1994, Castle Rock Entertainment, 142min) Direção: Frank Darabont. Roteiro: Frank Darabont, conto "Rita Hayworth and the Shawshank Redemption", de Stephen King. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Richard Francis-Bruce. Música: Thomas Newman. Figurino: Elizabeth McBride. Direção de arte/cenários: Terence Marsh/Michael Sierton. Produção executiva: Liz Glotzer, David Lester. Produção: Niki Marvin. Elenco: Tim Robbins, Morgan Freeman, Bob Gunton, Clancy Brown, James Whitmore, Gil Bellows. Estreia: 23/9/94

7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Morgan Freeman), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Som

Ainda bem que dinheiro não compra tudo, nem mesmo em uma terra tão gananciosa quanto Hollywood. Apaixonado pela adaptação feita por Frank Darabont do conto "Rita Hayworth and the Shawshak redemption", que Stephen King publicou em seu livro "Quatro estações", o cineasta Rob Reiner ofereceu 2,5 milhões de dólares ao roteirista para que pudesse dirigí-lo. Proposta devidamente recusada - o que salvou o mundo de um filme com Harrison Ford e Tom Cruise juntos - o roteiro chegou às telas dirigido pelo próprio Darabont com o nome de "Um sonho de liberdade" e, se não fez um estrondo nas bilheterias, hoje é considerado um dos melhores filmes de prisão de todos os tempos, adorado pela crítica e pelo público, que nem se importa se as sete indicações ao Oscar jamais tenham se convertido em estatuetas - é bom lembrar que concorreu com o incensado "Forrest Gump, o contador de histórias" e com o cultuado "Pulp fiction, tempo de violência".

Realizado com uma competência avassaladora - em especial se for levado em consideração que é o filme de estreia de Darabont - "Um sonho de liberdade" conquista o público por não cair na armadilha de ser apenas "um filme de prisão" e nem tampouco apelar para a violência explícita. Apesar de contar com o nome de Stephen King nos créditos pouca coisa denuncia que o escritor - mais conhecido por suas tramas de terror - seja o autor de uma história tão humana (ainda que do mesmo livro tenha saído o conto que deu origem ao belo "Conta comigo").  Ao deixar de lado criaturas do além, fantasmas e cachorros raivosos, King criou personagens que seduzem a audiência aos poucos e, com a ajuda do belo roteiro de Darabont, de maneira irremediável. Mesmo que chegue perto de duas horas e meia de duração, "Um sonho de liberdade" jamais cansa o espectador, graças principalmente ao enorme talento de todos os envolvidos.

A história de "Um sonho de liberdade" começa nos anos 40, quando o banqueiro Andy Dufresne (Tim Robbins) é condenado a uma pena dupla de prisão perpétua, acusado de ter assassinado sua esposa e o amante dela. Mesmo dizendo-se inocente, ele vai parar no presídio de Shawshank, no Maine (cenário habitual das histórias de King). Lá, ele faz amizade com Red Redding (Morgan Freeman), que há anos tenta uma liberdade condicional e é conhecido por conseguir levar qualquer coisa para dentro dos muros da prisão. Enquanto o relacionamento entre os dois vai se aprofundando com o passar dos anos - e das décadas - Andy testemunha várias histórias: algumas comoventes, como a do veterano bibliotecário Brooks Hatlen (o sensacional James Whitmore), que não consegue sobreviver em liberdade e outras trágicas, como a do jovem Tommy (Gil Bellows), única pessoa capaz de revelar a verdade sobre o crime que aprisionou Andy.



O impressionante roteiro - e o conto em si - não tem pressa em construir as relações entre as personagens nem tampouco atropela os acontecimentos, que vão se desenrolando frente aos olhos do público de maneira delicada. Todas os detalhes da trama vão sendo apresentadas de forma sutil, para que em seu final absolutamente inesquecível façam todo o sentido. Nada no filme é desnecessário ou supérfluo: cada linha de diálogo, cada cena é extremamente necessária. As surpresas, mais do que simples truques baixos para manter acesa a audiência, são realmente convincentes e utilizadas com parcimônia, nos momentos apropriados e casam com perfeição no clima proposto pela fotografia cinzenta de Roger Deakins e pela edição tranquila de Richard Francis-Bruce.

Talvez a maior qualidade de "Um sonho de liberdade" seja, no entanto, sua opção em brincar carinhosamente com todos os clichês dos filmes de prisão com inteligência ímpar. Estão na receita comandantes sádicos (um Clancy Brown impecável em sua frieza), apenados violentos e ameaçadores, planos mirabolantes de fuga e a crueldade de seu diretor (Bob Gunton). Mas algumas cenas criadas por Darabont e companhia são de lavar a alma e emocionam os espectadores por sua absoluta originalidade, em especial quando Dufresne se tranca na sala do diretor e oferece aos colegas prisioneiros a possibilidade de ouvir alguns minutos de ópera. Também é comovente o desfecho da história de Brooks Hantley, que sai da cadeia depois de décadas e percebe que o mundo fora das grades não lhe pertence.

Como dupla, Tim Robbins e Morgan Freeman não poderiam estar melhores. Freeman - que ficou com uma personagem que no conto de King é irlandês e branco - foi indicado ao Oscar, mas Robbins poderia tranquilamente também ter concorrido à estatueta, uma vez que a delicadeza de sua interpretação tem o tom perfeito exigido por sua personagem silenciosa e contemplativa. Juntos, ele e Morgan Freeman são a cara do filme, dando à história a complexidade e a humanidade que ela precisa. Somados ao roteiro preciso e à trilha sonora discreta mas eficiente de Thomas Newman, eles fazem de "Um sonho de liberdade" a adaptação mais brilhante de uma obra de Stephen King.

4 comentários:

Alan Raspante disse...

Assisti em uma exibição na tv aberta há algum tempo, lembro de ter gostado muito na época. O filme me traz uma boa lembrança!

[]s

Serginho Tavares disse...

Olá! Cai aqui de para-quedas e me deparo com este texto lindo sobre um dos melhores filmes que vi na minha vida. Nunca sai do meu top ten!
Abração
Adorei seu blogue

Thomás R. Boeira disse...

Um dos melhores filmes que já vi!
Concordo contigo, Tim Robbins também deveria ter sido indicado ao Oscar.
Quando o assunto é adaptação de livros de Stephen King, Darabont é o cara.

Abraço,
Thomás
http://www.brazilianmovieguy.blogspot.com/

Roberto Santana disse...

oi eu estava sem sono,e quando mim dei por mim estava assistindo mais uma vez essa obra prima. amo de paixão esse filme. abraços

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