quarta-feira

OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM

OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM (Dead Man Walking, 1995, Polygram Filmed Entertainment/Working Title Films, 122min) Direção: Tim Robbins. Roteiro: Tim Robbins, livro de Helen Prejean. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Lisa Zeno Churgin. Música: David Robbins. Figurino: Renée Ehrlich Kaifus. Direção de arte/cenários: Richard Hoover. Produção executiva: Tim Bevan, Eric Fellner. Produção: Jon Kilik, Tim Robbins, Rudd Simmons. Elenco: Susan Sarandon, Sean Penn, Raymond J. Barry, Robert Prosky, R. Lee Ermey, Celia Weston, Lois Smith, Clancy Brown, Margo Martindale, Peter Sarsgaard, Jack Black, Jon Abrahams. Estreia: 29/12/95

4 indicações ao Oscar: Diretor (Tim Robbins), Ator (Sean Penn), Atriz (Susan Sarandon), Canção Original ("Dead Man Walking")
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Susan Sarandon)
Urso de Prata no Festival de Berlim: Melhor Ator (Sean Penn)

Militância política - não a partidária preconizada por Arnold Schwarzenegger, entenda-se - não é exatamente vista como uma qualidade pelos conservadores olhos de Hollywood, e que o digam Susan Sarandon e Tim Robbins: um dos casais mais politicamente ativos da indústria, eles despertaram a ira da Academia quando, no Oscar de 1993, fizeram um discurso criticando a maneira com que o governo do Haiti lidava com os imigrantes soropositivos. Banidos da cerimônia por dois anos consecutivos, eles, no entanto, voltaram por cima, com o poderoso "Os últimos passos de um homem", escrito, produzido e dirigido por Robbins e estrelado por Sarandon. Aclamado pela crítica e premiado no Festival de Berlim, a crítica nada velada à pena de morte saiu da festa de 1995 com a estatueta de melhor atriz para Susan, além de ter concorrido a outros três importantes prêmios. Quem ri por último ri melhor.

"Os últimos passos de um homem" é uma história real, adaptada de um livro escrito pela religiosa Helen Prejean, vivida no filme por uma Sarandon desprovida de qualquer elemento sexual ou romântico. Sua personagem é uma mulher que abandonou as regalias de uma classe social privilegiada para seguir sua vocação e trabalhar com crianças de comunidades carentes. Sua vida pacífica e sem sobressaltos sofre um abalo quando ela recebe a carta de um homem condenado à morte, acusado por estupro e duplo homicídio. Orientada por seu superior, Helen procura o presidiário, Matthew Poncelet (Sean Penn), que lhe pede ajuda para reverter sua sentença, alegando inocência. Racista, misógino, anti-semita e nem um pouco dado a sutilezas, Poncelet não é um exemplo de réu, e aos poucos a religiosa percebe que qualquer súplica às autoridades competentes será inútil para trasmutar a pena de morte em prisão perpétua. Oferencendo-se para ser sua conselheira espiritual em seus últimos dias, ela acaba despertando a revolta nos pais de suas vítimas, que não conseguem entender como ela é capaz de ficar ao lado de "um animal que merece a morte".


Apesar de ser abertamente contra a pena capital, Tim Robbins toma o cuidado muito bem-vindo de jamais deixar que seu filme assuma um tom de sermão ou discurso. Seu roteiro, equilibrado e inteligente, discute com propriedade todos os lados da questão levantada e o faz com parcimônia e bom gosto. Helen Prejean faz as vezes de espectador, sendo questionada frequentemente a respeito de sua escolha em colaborar com o homicida cruel vivido por Penn. Seus diálogos com os pais das vítimas são comoventes e jamais soam artificiais, em especial ao cuidado de Robbins na direção de atores: em especial R. Lee Ermey e Raymond J. Barry vão muito além do chamado do dever em suas cenas, o mesmo podendo ser dito de Roberta Maxwell, que não precisa falar muito para roubar a cena como a mãe de Poncelet. Coadjuvantes preciosos, eles pontuam o show inesquecível de seu par de atores centrais.

Se Susan Sarandon levou um Oscar que já lhe era devido no mínimo desde "Thelma & Louise", Sean Penn contruiu um Matthew Poncelet irretocável. Asqueroso em sua arrogância inicial, ele faz com que o público se compadeça aos poucos de sua personagem, sem jamais perder sua essência. A mudança que ocorre com Poncelet em seus últimos passos não parece forçada ou anti-natural e sim uma consequência do amor que finalmente recebeu. Por sua capacidade de transmitir os contraditórios sentimentos do condenado, Penn foi indicado ao Oscar e levou o prêmio de melhor ator no Festival de Berlim. Nada mais merecido!

Mas e quanto à ideologia contida em "Os últimos passos de um homem"? Talvez o filme de Robbins não mude a ideia de nenhum espectador, ainda que consiga no mínimo levantar uma discussão válida e sempre pertinente - é chocante ver, por exemplo, como a execução é tratada, com sanduíches sendo distribuídos à plateia e a frieza com que tudo é tratado. Essa frieza, no entanto, não consegue impedir que o clímax do filme seja poderoso a ponto de provocar lágrimas de emoção até mesmo no mais cínico espectador. E mesmo aqueles que acham que todo o arrependimento do protagonista não teria acontecido se ele não tivesse sido também vitimado por um homícidio (ainda que legalizado) não conseguirão tirar tão cedo da mente as belas interpretações de Sarandon e Penn, sonorizadas pela bela canção final de Bruce Springsteen.

4 comentários:

Adecio Moreira Jr. disse...

De fato, levantando uma discussão válida é o suficiente.

Convenhamos, apesar de muitas vezes ser indigesto, o filme é lindo!!

^^

Alan Raspante disse...

Quando o vi pela primeira vez, nõ me encantou muito. Mas deve-se ao fato de não ter pensado muito bem sobre o filme. A discussão e reflexão que ele causa é incrível. Após ver o filme, consegui ter uma opinião sobre o assunto e tudo mais. É, um filme. Mas serve como um ótimo estudo envolvendo 'pena de morte'.

Muito bom.
abs :)

Guilherme Z. disse...

Adoro esse filme. Sean Penn e Susan Sarandon estão maravilhosos e Tim Robbins prova que além de um grande ator é um diretor de mão cheia. Gostei do blog e to seguindo. Por favor, visite os meus

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Anônimo disse...

Thanks for this post, it is great

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