segunda-feira

O CASAMENTO DO MEU MELHOR AMIGO

O CASAMENTO DO MEU MELHOR AMIGO (My best friend's wedding, 1997, TriStar Pictures, 105min) Direção: P.J. Hogan. Roteiro: Ronald Bass. Fotografia: Laszlo Kovacs. Montagem: Garth Craven, Lisa Fruchtman. Música: James Newton Howard. Figurino: Jeffrey Kurland. Direção de arte/cenários: Richard Sylbert/William Kemper Wright. Produção executiva: Gil Netter, Patricia Whitcher. Produção: Ronald Bass, Jerry Zucker. Elenco: Julia Roberts, Cameron Diaz, Dermot Mulroney, Rupert Everett, Rachel Griffiths, Philip Bosco, Paul Giamatti. Estreia: 20/6/97

Indicado ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original Comédia/Musical

O sucesso repentino não fez muito bem à Julia Roberts. Alçada da noite para o dia à condição de maior e mais bem paga estrela de Hollywood no início da década de 90, ela cometeu uma sucessão de escolhas profissionais equivocadas e tornou-se a matéria-prima preferida de tablóides sensacionalistas, graças principalmente ao fim de seu noivado com o ator Kiefer Sutherland e seu casamento-relâmpago com o cantor country Lyle Lovett. Tendo sua vida pessoal devassada pela imprensa marrom e seus trabalhos ignorados pelo público - e massacrados pela crítica - só restava a ela dar uma pausa para respirar antes de voltar à ribalta. O enorme sucesso de bilheteria de seu retorno, a comédia "O casamento do meu melhor amigo", a despeito das qualidades do filme, provou o que todos já sabiam: a plateia estava com muita saudade não da Julia Roberts triste de "Tudo por amor" e "O segredo de Mary Reilly", mas da carismática e sorridente estrela de "Uma linda mulher".

Dirigido pelo australiano P.J. Hogan - que também comandou o tragicômico "O casamento de Muriel", de 1995 - o filme que devolveu a atriz às boas graças do público foge do tradicional modelo das comédias românticas ao não contar uma história de amor onde moça encontra rapaz, se apaixona por ele, come o pão que o diabo amassou e finalmente consegue viver a seu lado, feliz para sempre. Utilizando uma alta dose de sarcasmo, o roteiro de Ronald Bass - que tem um Oscar em casa pelo script de "Rain Man" - criou uma protagonista que, ao contrário do que se espera de uma mocinha íntegra e passional, tem defeitos gritantes e, mais do que tudo, não mede esforços para atingir seus objetivos. Aqui, outra novidade: ela não quer apenas conquistar o homem que ama, mas sim roubá-lo da mulher com quem ele está prestes a se casar. Mezzo heroína/mezzo vilã, a personagem de Julia Roberts conquista exatamente por estar muito mais perto das espectadoras do que as sonhadoras moçoilas que são ícones de um dos gêneros mais queridos pelo público - e, paradoxalmente ou não - desprezados pela crítica.

Roberts, desprovida do glamour exagerado de "Uma linda mulher" mas ainda assim apresentando seu sorriso matador, vive Julianne Potter, uma respeitada crítica gastronômica que, às vésperas de completar 28 anos, recebe um telefonema inesperado de um ex-namorado e atual melhor amigo. O jornalista esportivo Michael O'Neal (Dermot Mulroney), por telefone, lhe comunica seu iminente casamento com a doce e milionária Kimberly Wallace (Cameron Diaz) e lhe pede que seja a dama-de-honra da noiva. Julianne, estupefacta, aceita o convite, mas seus planos são bem mais diabólicos do que simplesmente acompanhar a cerimônia de enlace entre o casal: sentindo-se no direito de reivindicar a promessa feita por Michael anos antes, de que se casaria com ela se ambos estivessem solteiros aos 28, a jovem resolve viajar para Chicago com a intenção de impedir o casamento. Descobrindo-se apaixonada por Michael (ou sentindo apenas o amargo gosto do orgulho ferido), ela arma inúmeras situações para separá-lo de Kimberly, que, inocente, nem desconfia que sua confiável nova amiga quer na verdade afastá-la do noivo que ama profundamente.

Apesar de ter em mãos uma personagem um tanto quanto malévola, Roberts dá humanidade e simpatia a ela, que desperta a compaixão e até mesmo a torcida da audiência, apesar do fato de não ser exatamente uma pessoa confiável. Talvez levado pela máxima que diz que "o amor justifica tudo", o público aceita as armações de Julianne sem rejeitá-la, no que o trabalho de Julia tem influência gigantesca. Ao fugir do maniqueísmo, a atriz encontra no texto inteligente de Bass o veículo ideal para desenvolver uma personagem que não é totalmente má nem completamente boa. Julianne Potter comete erros grotescos, mas também sofre as suas consequências, e seus planos, ainda que aparentemente infalíveis, sempre acabam sendo malogrados por um fato incontestável: apesar de adorá-la, Michael ama, na verdade, sua noiva e nem mesmo todas as armadilhas do mundo mudam isso. É essa certeza que o público tem, mas Julianne não, que faz toda a diferença. Antes de ser uma vilã, Potter é uma mulher equivocada e confusa e respeito de seus sentimentos.


E, se Julianne não sabe com certeza o que se passa dentro de seu coração, é seu grilo falante quem lhe dá todas as dicas - e de quebra, rouba absolutamente todas as cenas das quais participa. O inglês Rupert Everett dá um show particular de bom humor e carisma na pele de George Downes, o editor de Julianne que lhe serve de ombro amigo e que, nas melhores cenas do filme, vai até ela com a missão de fazê-la desistir de seus planos. Homossexual assumido - assim como sua personagem - Everett é o protagonista da já clássica sequência em que comanda um improvisado coral em um restaurante lotado em uma versão de "I say a little prayer". Sua química com Julia Roberts é tamanha que, após exibições-teste, os produtores resolveram lhe dar um espaço maior nas cenas finais - cortando, assim, a participação do ator John Corbett, que adiaria por alguns anos a relativa fama conquistada no filme "Casamento grego" e na série "Sex and the city" - cuja atriz central, Sarah Jessica Parker era a primeira escolha para liderar o filme de P.J. Hogan.

Hogan, aliás, merece boa parte dos créditos pelo sucesso de "O casamento do meu melhor amigo". Aparentemente fascinado pela cafonice intrínseca das cerimônias matrimonias - haja visto seu currículo que inclui o ótimo "O casamento de Muriel" - o australiano compartilha com o conterrâneo Baz Luhrmann o talento em selecionar uma trilha sonora impecável para seus projetos. Enquanto em seu primeiro filme ele usava e abusava de canções do grupo sueco ABBA, aqui ele varia o cardápio, comentando a ação com pérolas do compositor Burt Bacharach e iniciando a projeção com uma irônica sequência musical com a inacreditável "Wishing and hoping" dublada por uma ansiosa noiva. Esses primeiros minutos dão o tom exato do que virá pela frente: um filme agradável, divertido e que não se leva exatamente a sério. Ou seja, um programa perfeito para marcar o retorno de Julia aos holofotes sem que tenha sido para falar de sua vida particular.

"O casamento do meu melhor amigo" não é, e nem tenta ser, um filme para ser louvado pela crítica especializada ou homenageado por cerimônias de premiação. Mas é um passatempo que não ofende a inteligência do público e que serviu como uma luva para que a estrela de Julia Roberts voltasse a brilhar, dessa vez em definitivo.

7 comentários:

Alan Raspante disse...

Mais um daqueles filmes que sempre passam na "Sessão da Tarde" e eu, claro, sempre revejo! Roberts em sua melhor forma!

[]s

renatocinema disse...

Disse tudo: um passatempo.

Eu adoro quando esse passatempo da as caras na televisão.kkkk

Thomás R. Boeira disse...

É um filme bacana.
A atuação de Rupert Everett é muito boa mesmo.

Abraço,
Thomás
http://www.brazilianmovieguy.blogspot.com/

Hugo disse...

É um filme divertido com personagens simpáticos.

Julia Roberts está perfeita, assim como Rupert Everett.

Abraço

Cristiano Contreiras disse...

Rupert, num mundo justo, levaria o Oscar de ator coadjuvante pela atuação neste filme.

É meu filme favorito de Julia Roberts, doa a quem doer. Mas é.

Abs

Silvano Vianna disse...

Sou antipático com a Julia Roberts acho que o Oscar dela foi "comprado", ele é feia, chata e muito mal na maioria dos filmes. Só consigo "suportar" ele em Uma Linda Mulher o único filme que para mim ele não conseguiu estragar.

(sei que vou receber muitas cutucadas por causa disso, mas é a minha opinião)

Aline disse...

"forever and ever you´ll stay in my heart and I´ll love you"!!!!
rsrsrsrrsrsr.

ou

"I don´t know what to do with myself" (Cameron dias cantando desafinado no karaoke)

ADORO:
J. R. na rodoviária :"eu sou um coco de cachorro"
ELE: "não, você é a mosca varejeira que senta no coco do cachorro!"

passatempo, sim; divertido sim - MUITO.

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