A PRAIA (The beach, 2000, 20th Century Fox, 119min) Direção: Danny Boyle. Roteiro: John Hodge, romance de Alex Garland. Fotografia: Darius Khondji. Montagem: Masahiro Irakubo. Música: Angelo Badalamenti. Figurino: Rachael Fleming. Direção de arte/cenários: Andrew McAlpine/Anna Pinnock. Produção: Andrew McDonald. Elenco: Leonardo DiCaprio, Tilda Swinton, Robert Carlyle, Virginie Ledoyen, Guillaume Canet, Lars Arentz-Hansen. Estreia: 02/02/00
Depois do sucesso inesperado – e merecido – de seu “Trainspotting, sem limites” e o convite recusado para dirigir “Alien, a ressurreição”, o cineasta escocês Danny Boyle deu sua primeira escorregada artística com o fracasso comercial de sua comédia romântica de humor negro “Por uma vida menos ordinária”, que não agradou nem a crítica nem o público. Talvez para minimizar o estrago ele tenha aceitado fazer inúmeras concessões ao estúdio produtor de seu novo projeto. O principal deles, e o que provou-se o mais equivocado, foi limar do papel principal o alter ego do diretor, o ator Ewan McGregor, que rompeu a parceria com o diretor e foi aventurar-se no mainstream cinematográfico como Obi Wan Kenobi na segunda trilogia “Star Wars”.
Na verdade, McGregor até teve sorte de não ter seu nome relacionado a mais uma decepção comercial. Mesmo com Leonardo DiCaprio no papel principal – em seu primeiro filme de verdade desde o mega-sucesso “Titanic” -, o que parecia um tiro certeiro em termos de bilheteria, “A praia”, baseado em um livro de Alex Garland, não conseguiu nem cobrir seu orçamento de 50 milhões de dólares nas bilheterias americanas. O resultado decepcionante é parte culpa do diretor, parte culpa do projeto em si e boa parte da escolha de seu ator central. Mostrando-se não tão infalível assim (tanto em termos financeiros quanto artísticos) DiCaprio prejudica "A praia" em um papel inadequado a seu tipo físico franzino e ainda adolescente apesar de seus 25 anos de idade à época do lançamento.
“A praia” até que começa muito bem. DiCaprio é Richard, um mochileiro que vive viajando pelo mundo em busca do prazer absoluto. Em sua procura hedonista ele encontra, em plena Bangcock, o misterioso e alucinado Daffy (Robert Carlyle, em participação pequena mas marcante), que lhe garante a existência de uma ilha paradisíaca não muito longe dali. Antes de cometer suicídio, o inglês desenha um mapa da tal ilha para Richard, que acompanhado de um jovem casal de franceses (por cuja metade feminina ele imediatamente se sente atraído), parte atrás da realização do seu sonho. Quando ele finalmente torna-se realidade, as coisas parecem ser perfeitas: a ilha existe, e é a casa de uma comunidade alegre, leve e sem grandes preocupações. Liderada pela quase despótica Sal (a excelente Tilda Swinton), a comunidade tem apenas uma regra: manter segredo absoluto de sua existência e localização. Não demora muito e o sonho dourado torna-se um pesadelo depois de envolver-se com sua amiga e com a própria Sal em uma viagem, ele vira um proscrito e tem que lutar pela própria sobrevivência. E é justamente a partir dessa segunda metade, quando o sonho de uma vida alternativa dá lugar a um pesadelo violento, que o filme se perde.
Sem as ousadias visuais que lhe trouxeram glória, Danny Boyle transforma-se, como diretor de “A praia”, em um cineasta mediano, que não lembra quase em nenhum momento o criativo autor de cenas marcantes dos anos 90 como a overdose de Ewan McGregor em “Trainspotting”. Preso a um academicismo quase tedioso, ele ainda tenta agradar os fãs em sequências pretensamente alucinantes, como Leonardo DiCaprio como personagem de vídeo-game e a cena de amor entre DiCaprio e a bela Virginie Ledoyen no oceano (que, justiça seja feita, é visualmente deslumbrante). Enquanto apresenta seus personagens e suas belíssimas locações – fotografadas magnificamente por Darius Khondji – ele conquista e desperta o interesse. Na segunda parte, no entanto, ao entregar a um Leonardo DiCaprio sem maior estofo dramático o papel de herói acossado, ele derrapa em momentos quase constrangedores. Felizmente, as cenas finais, a trilha sonora sensacional e a fotografia esplendorosa conseguem salvar o filme de um desastre. É um entretenimento eficaz. Mas em nenhum momento deixa-se de pensar em como Boyle já foi melhor e como tudo seria muito melhor se Ewan McGregor estivesse em cena.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
5 comentários:
Coloque escorregão.......único filme dele que realmente ficou abaixo da minha expectativa......e muito abaixo.
A crítica detonou o filme, mas não considerei tão ruim.
Mesmo longe de ser o melhor de Boyle e DiCaprio, ainda vale uma sessão sem compromisso.
Abraço
Olá, Clênio, venha participar no meu blog de um despretensioso teste de conhecimentos cinematográficos. Começo com NICHOLAS RAY (Juventude Transviada). O vencedor leva DVDs clássicos.
Abração,
O Falcão Maltês
Entrei pra conhecer seu blog e achei muito legal.Gostei muito de ver a praia... por não ter agradado a mídia, não achei que foi tão ruim assim.Tomei a liberdade de seguir-te, caso goste do meu blog siga-me também. Abraço!
Smareis
Não acho tão ruim também e é visível sua implicância com o filme, você não gosta mesmo de DiCaprio, rs!
Um abraço!
Postar um comentário