sexta-feira

LONGE DO PARAÍSO

LONGE DO PARAÍSO (Far from heaven, 2002, Focus Features, 107min) Direção e roteiro: Todd Haynes. Fotografia: Edward Lachman. Montagem: James Lyons. Música: Elmer Bersntein. Figurino: Sandy Powell. Direção de arte/cenários: Mark Friedberg/Ellen Christiansen. Produção executiva: George Clooney, Eric Robison, John Sloss, Steven Soderbergh, John Wells. Produção: Jody Patton, Christine Vachon. Elenco: Julianne Moore, Dennis Quaid, Dennis Haysbert, Patricia Clarkson, James Rebhorn, Viola Davis. Estreia: 22/11/02

4 indicações ao Oscar: Atriz (Julianne Moore), Roteiro Original, Fotografia, Trilha Sonora Original

Um dos mais populares cineastas da década de 50, o alemão Douglas Sirk teve uma história dramática o suficiente para chegar às telas: quando o nazismo começou a ameaçar o mundo, em 1937, ele teve que abandonar seu país devido às perseguições a sua segunda mulher, a atriz de teatro Hilde Jary. Quem a denunciou (obrigando o casal a fugir para a Itália) foi a primeira esposa de Sirk, a mãe do seu filho (que ele nunca mais viu). O cineasta que, por ironia, era admirado por Goebbels, chegou em Hollywood em 1941, mas foi depois de 1950 que tornou-se uma espécie de marca registrada. Seus filmes estrelados por Rock Hudson ("Sublime obsessão", de 1954, "Tudo que o céu permite", de 1955 e "Palavras ao vento", de 1956), além do clássico "Imitação da vida", que Lana Turner estrelou em 1959 tinham como assinatura um visual extravagante (hoje denominado "kitsch") e um pendor para o melodrama que, apesar do sucesso comercial, só começou a ser reconhecido como estilo a partir dos anos 60, pela prestigiosa revista francesa "Cahiers du Cinéma".

Um dos maiores admiradores de Sirk, o cineasta Todd Haynes encontrou, em 2002, uma maneira de homenageá-lo. "Longe do paraíso", estrelado por Julianne Moore em um momento de grande inspiração, foi um dos filmes mais elogiados do ano, chegando a concorrer a quatro Oscar: além de Moore, a trilha sonora de Elmer Bernstein, a fotografia de Edward Lachman e o roteiro do diretor também foram indicados, mas todos acabaram perdendo as estatuetas. Mesmo assim, o filme de Haynes é um dos mais bem-acabados exemplares de um gênero que era extremamente popular há 60 anos mas que, com o advento do que convencionou-se chamar de "cinema moderno" caiu no limbo: o melodrama. Dono de um visual caprichadíssimo e uma trama que explora os preconceitos e as relações sociais da época, "Longe do paraíso" é uma poderosa vitrine para o talento de todos os envolvidos.



Julianne Moore - no mesmo ano em que também concorreu ao Oscar como coadjuvante por "As horas" - vive Cathy Whitaker, uma dona-de-casa perfeita dos anos 50. Sua vida consiste em cuidar da casa, dos filhos e do marido, o executivo Frank (Dennis Quaid, na melhor atuação de sua carreira), além de ser uma espécie de exemplo para todas as amigas. Seu mundo cor-de-rosa vira do avesso, porém, quando ela descobre que seu marido é homossexual - fato que levará o casal a tentar até mesmo eletrochoques - e começa uma amizade desinteressada por Raymond Deagan (Dennis Haysbert, o presidente dos EUA nas primeiras temporadas da série "24 horas"), o jardineiro de sua casa. Sua relação com um homem negro choca a sociedade e a leva a questionar a fragilidade de sua vida aparentemente intocável.

Além de seu elenco impecável - que também conta com a sempre ótima Patricia Clarkson - "Longe do paraíso" conta com um visual deslumbrante, que remete diretamente ao estilo de cinema que se pretende louvar. Cada cena, milimetricamente elaborada, é uma festa para os olhos, de um colorido obtido através do uso dos mesmos equipamentos utilizados na época em que se passa a trama de Haynes. O technicolor brilhante não apenas conta à audiência como eram os filmes então, e sim a mergulha diretamente no universo de Cathy, de cores exageradas que escondem a escuridão de sua vida matrimonial. Em conjunto com a grandiloquente música do maestro Elmer Bernstein (em seu último trabalho), a reconstituição de época detalhista, a fotografia e o roteiro (que consegue fugir da simples homenagem para ter uma potente vida própria), o filme do diretor de "Velvet goldmine" é um presente para os fãs do cinemão hollywoodiano que não se faz mais no século XXI. E talvez por isso possa parecer tão restrito.

"Longe do paraíso" não foi um sucesso de bilheteria, tendo rendido pouco mais de 15 milhões de dólares no mercado doméstico, o que não deixa de ser esperado. Mas é um dos dramas mais interessantes dos anos 2000, tanto em termos visuais quanto dramáticos. E Julianne Moore é um espetáculo à parte.

Um comentário:

Paulo Alt disse...

Tu ganhou minha atenção novamente para querer ver o filme quando tinha deixado de lado com essa frase: "...presente para os fãs do cinemão hollywoodiano que não se faz mais no século XXI."
Obrigado pela contextualização, quando assistir vou comentar aqui o que achei! Veremos... hehe. Mas confio na sua opinião. Sempre. (Até hoje não tive decepções hehe).
^^

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