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BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA

BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA (Batman v Superman: The Dawn of Justice, 2016, Warner Bros, 151min) Direção: Zack Snyder. Roteiro: Chris Terrio, David S. Goyer, personagens criados por Bob Kane e Bill Finger (Batman), Jerry Siegel e Joe Shuster (Superman) e William Moulton Marston (Mulher Maravilha). Fotografia: Larry Fong. Montagem: David Brenner. Música: Junkie XL, Hans Zimmer. Figurino: Michael Wilkinson. Direção de arte/cenários: Patrick Tatopoulos/Carolyn "Cal" Loucks. Produção executiva: Wesley Coller, David S. Goyer, Geoff Johns, Benjamin Melniker, Steven Mnuchin, Christopher Nolan, Emma Thomas, Michael E. Uslan. Produção: Charles Roven, Deborah Snyder. Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Laurence Fishburne, Jesse Eisenberg, Gal Gadot, Diane Lane, Kevin Costner, Holly Hunter, Jeremy Irons, Michael Shannon, Jeffrey Dean Morgan. Estreia: 20/3/16

Primeiro foi a polêmica em torno do nome de Ben Affleck para viver o Cavaleiro das Trevas, praticamente imortalizado por Christian Bale na trilogia dirigida por Christopher Nolan entre 2006 e 2012. Depois, as críticas generalizadas a "O Homem de Aço" (2013), que recomeçava a apresentar o Superman às novas gerações de cinéfilos - depois do inesquecível Christopher Reeve e do pouco memorável Brandon Routh. Por fim, havia a dúvida se Zack Snyder (cujo currículo incluía o sucesso "300", de 2008, e o fracasso "Sucker punch", de 2010) seria capaz de apagar a má impressão de seu primeiro filme estrelado pelo herói de Krypton - criticado principalmente pelo excesso de violência e efeitos visuais supérfluos. Com um orçamento generoso de aproximados 250 milhões de dólares, a volta do britânico Henry Cavill à pele de Clark Kent e uma trama que daria origem ao esperado filme sobre a Liga da Justiça (daí o subtítulo "Dawn of justice"), "Batman vs Superman: a origem da justiça" chegou aos cinemas cercado de expectativas e medos. Como era de se esperar, dividiu opiniões: puristas e fãs dos quadrinhos surgiram com listas intermináveis de reclamações; a imprensa não exatamente ficou entusiasmada, mas o público não deixou de correr às salas de exibição. Com uma renda mundial de quase 900 milhões de dólares, o filme de Snyder conseguiu o principal: deixou felizes os executivos da Warner, preparou terreno para um próximo capítulo ainda mais explosivo e, para alegria dos espectadores, apresentou em primeira mão sua arma mais poderosa e esperada, a Mulher Maravilha do século XXI, interpretada pela israelense Gal Gadot.

Protagonista de seu próprio filme de origem, que viria a ser lançado em 2017, a Mulher Maravilha é apenas uma pequena (mas crucial) peça no roteiro escrito por David S. Goyer e Chris Terrio (Oscar por "Argo") a partir de uma ideia surgida em 2001, quando o roteirista Andrew Kevin Walker (de "Seven: os sete crimes capitais") propôs um filme em que o Batman, enfurecido pela perda de sua noiva nas mãos do Coringa, parte em busca de vingança e se vê impedido pelo Superman. Diz-se que, na época, o script ficaria a cargo de Akiva Goldsman (Oscar por "Uma mente brilhante"), a direção seria do alemão Wolfgang Petersen e os protagonistas seriam George Clooney (voltando ao papel do Homem Morcego) e John Travolta. Felizmente a ideia acabou não vingando nos termos imaginados por Walker, e depois de mais de quinze anos no limbo, o que parecia meio absurdo começou a tomar forma. Com sérias mudanças, é verdade, mas com seu principal trunfo intacto: o encontro entre dois dos maiores super heróis dos quadrinhos (e do cinema) em uma produção caprichada, repleta de astros e, felizmente, bem melhor do que o público médio poderia esperar (apesar das ressalvas da crítica especializada e dos leitores mais radicais).


Começando dois anos depois dos eventos de "O Homem de Aço" - ou seja, após o show de destruição comandado pelo Superman em sua luta contra o General Zod (Michael Shannon) -, o filme de Snyder mostra uma população dividida entre acreditar nas boas intenções do misterioso alienígena de Krypton e temer por ainda mais tragédias na Terra. Mesmo defendido ferrenhamente pela jornalista Lois Lane (Amy Adams), o Superman é constantemente atacado pela mídia e pela congressista June Finch (Holly Hunter), que o intima a comparecer a uma sessão no Capitólio para defender-se diante da população. A explosão de uma bomba - plantada pelo milionário Lex Luthor (Jesse Eisenberg) - acaba por dar ainda mais credibilidade a quem o considera uma ameaça: acusado de ser o responsável pelo atentado, Superman abandona o planeta. Acreditando que tem o dever de proteger a humanidade dos poderes daquele que considera uma temeridade à população, Bruce Wayne assume a responsabilidade de, como Batman, destruí-lo sem compaixão. De certa forma manipulado por Luthor, ele bate de frente com Superman - mas não demora para que ambos, auxiliados pela corajosa Mulher Maravilha, se unam diante de um perigo ainda maior, representado por um monstro criado por Lex Luthor.

A princípio, parece que a trama de "Batman vs Superman" é um tanto forçada, criada mais pela necessidade de unir seus protagonistas do que exatamente contar uma história interessante ou plausível. No entanto, é surpreendente como as peças se encaixam, de forma a prender a atenção do público e construir uma base razoavelmente verossímil para o explosivo conflito final - esse sim, mais uma vez, exagerado e sem muita criatividade. Por incrível que pareça, Snyder se sai melhor quando estabelece o clima e as causas de todo o desfecho do que quando finalmente põe as mãos no clímax. Para isso, claro, ele conta com um elenco coadjuvante de nomes como Holly Hunter, Jeremy Irons e Laurence Fishburne, com o poder de fogo de seus personagens e com a produção caprichada - da fotografia de Larry Fong à trilha sonora, dividida entre Hans Zimmer e Junkie XL, tudo funciona muito bem, sem maiores percalços. Infelizmente nem tudo são flores, e a luta final - que finalmente coloca os heróis todos ao mesmo lado - é desnecessariamente longa, minando a força de um final que poderia ter sido ainda mais poderoso. Sem muito o que fazer em cena, Amy Adams e Diane Lane (como Martha, a mãe adotiva de Clark Kent), apenas enfeitam o filme com seu talento e beleza, e Jesse Eisenberg talvez esteja a um passo do overacting, mas o que era motivo de mais questionamentos antes da estreia acabou por ser um ponto positivo: emprestando prestígio a uma produção de objetivos claramente comerciais, o premiado Ben Affleck não compromete como Batman, mesmo estando à sombra de Christian Bale e assumindo as rédeas de um dos mais icônicos personagens da cultura popular mundial. Sua criticada escalação é, por fim, uma das maiores qualidades de um filme que, mesmo não sendo inesquecível ou artisticamente potente, serve muito bem como entretenimento. É só deixar o mau-humor de lado e embarcar na viagem!

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