NO CORAÇÃO DO MAR (In the heart of the sea, 2015, Warner Bros, 122min) Direção: Ron Howard. Roteiro: Charles Leavitt, estória de Charles Leavitt, Rick Jaffa, Amanda Silver, livro de Nathaniel Philbrick. Fotografia: Anthony Dod Mantle. Montagem: Dan Hanley, Mike Hill. Música: Roque Baños. Figurino: Julian Day. Direção de arte/cenários: Mark Tildesley/Dominic Capon. Produção executiva: David Bergstein, Bruce Berman, Sarah Bradshaw, Erica Huggins, Steven Mnuchin, Palak Patel. Produção: Brian Grazer, Ron Howard, Joe Roth, Will Willard, Paula Weistein. Elenco: Chris Hemsworth, Benjamin Walker, Tom Holland, Ben Whishaw, Brendan Gleeson, Cillian Murphy, Michelle Fairley, Charlotte Riley. Estreia: 02/12/15
Publicado em 1851 e tornado um clássico indiscutível e obrigatório, o romance "Moby Dick" atravessou o tempo como parte do inconsciente coletivo de várias gerações, como prova do gênio de seu autor, Herman Melville, e gerando estudos e discussões a respeito de seu tema e sua linguagem. Adaptado para o cinema - mais notavelmente na produção dirigida por John Huston em 1956 - e frequentemente citado em listas dos melhores livros já escritos, "Moby Dick" tem, por incrível que pareça, inspiração em uma história real, ocorrida em 1820 no Oceano Pacífico. E é essa história verdadeira e quase inacreditável que é narrada em "No coração do mar", primeiro filme do cineasta Ron Howard na Warner - e mais um injusto fracasso comercial na sua carreira, logo depois da fria recepção do público ao excelente "Rush: no limite da emoção" (2014): com uma renda mundial de pouco mais de 93 milhões de dólares, o filme não chegou nem mesmo a cobrir seu orçamento milionário, além de ter sido solenemente ignorado pelas cerimônias de premiação. Nem mesmo seu maior trunfo (os efeitos visuais caprichados) foi percebido pela Academia ou aplaudido pela crítica. No entanto, é entretenimento de primeira, valorizado pelo bom elenco - liderado pelo carismático Chris Hemsworth - e pelo excepcional desenho de produção.
O roteiro de Charles Leavitt é baseado no livro de Nathaniel Philbrick, que narra a trágica e emocionante aventura do navio Essex e seus tripulantes, já contada em um filme feito pela BBC em 2015 - mas toma a liberdade de inserir na trama o próprio Herman Melville, antes de escrever sua obra-prima e disposto a pagar por informações detalhadas que possam tornar seu próximo romance o mais realista possível. Vivido por Ben Winshaw, o escritor chega até um dos sobreviventes da aventura, o hesitante e quase agressivo Tom Nickerson (Brendan Gleeson), que só aceita relembrar os acontecimentos que presenciou décadas antes mediante o pagamento de um dinheiro que pode lhe pagar dívidas e a comida. Essa introdução - e suas subsequentes inserções no decorrer da ação - pode até contextualizar a trama e servir como seu fio condutor, mas é, de uma certa forma, uma quebra no ritmo que prejudica consideravelmente a fluidez da edição. Mesmo assim, não chega a incomodar tanto a ponto de alienar a atenção do espectador, que, a esta altura, já está totalmente envolvido nas desventuras dos personagens.
A história que Nickerson conta a Melville começa na Nova Inglaterra de 1820, quando ele tinha apenas 14 anos de idade (e o rosto de Tom Holland, o menino que comoveu multidões em "O impossível", de 2012): contratado para trabalhar no Essex, um navio que zarpa com o objetivo de retornar com centenas de litros de óleo de baleia, ele testemunha a rotina dos companheiros de missão com o olhar ingênuo e atento. O que mais lhe chama a atenção, no entanto, é a disputa nem sempre silenciosa entre o experiente Owen Chase (Chris Hemsworth) e o novato George Pollard (Benjamin Walker): escalado como subalterno de Pollard porque este tem origem social mais importante, Chase sente-se diminuído, mas aceita o trabalho com a promessa de ter um retorno profissional que poderá dar estabilidade à sua família. Os conflitos entre os dois, porém, levam a um impasse quando uma gigantesca baleia branca passa a perseguir sua embarcação - e ambos se unem na luta por salvarem suas vidas e eliminar a ameaça que os cerca.
Contando sua história com o máximo de realismo possível, com sequências de ação bem construídas e um elenco escalado com cuidado, "No coração do mar" segue a tendência de Ron Howard em retratar personagens reais em sua filmografia - tendência esta que tem como exemplos os elogiados "Apollo 13: do desastre ao triunfo" (95) e "Frost/Nixon" (2008) e o premiado "Uma mente brilhante" (2001). Sem descuidar do capricho na construção de seus personagens, no entanto, dessa vez ele aposta mais no visual: os ataques da baleia são esteticamente apurados, e a fotografia do premiado Anthony Dod Mantle (Oscar por "Quem quer ser um milionário?", de 2008) empresta ao filme um tom nostálgico que se reflete nos tons azulados e na constante sensação de ameaça transmitida pela câmera. Diante de tal capricho na ação, resta aos atores pontuar com correção os esforços da produção em apresentar um filme capaz de agradar a qualquer tipo de audiência que busca um entretenimento de qualidade - está longe de ser um filme inesquecível ou brilhante, mas cumpre o que promete e entrega um dos passatempos mais interessantes do gênero. Diversão garantida, apesar do fracasso de bilheteria.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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2 comentários:
As postagens pararam meu amigo. O que houve?
Conheci filmes incríveis no seu blog!
Oi, Vitor. De vez em quando dou um tempo por não conseguir dar conta da missão. Mas estou de volta. Continue por aqui... abração.
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