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OESTE SEM LEI

OESTE SEM LEI (Slow west, 2015, See-Saw Films/Film4/DMC Film, 84min) Direção e roteiro: John Maclean. Fotografia: Robbie Ryan. Montagem: Roland Gallois, Jon Gregory. Música: Jed Kurzel. Figurino: Kirsty Cameron. Direção de arte/cenários: Kim Sinclair/Amber Richards. Produção executiva: Katherine Butler, Michael Fassbender, Zygi Kamasa. Produção: Iain Canning, Rachel Gardner, Conor McCaughan, Emile Sherman. Elenco: Michael Fassbender, Kodi Smith-McPhee, Caren Pistorius, Ben Mendehlson, Brian Sergent, Edwin Wright, Rory McCann. Estreia: 24/01/15 (Festival de Sundance)

Que Michael Fassbender é um dos maiores atores de sua geração não é novidade para ninguém. Em poucos anos, ele entregou performances arrebatadoras em filmes tão distintos como "Fome" (2008), "Shame" (2011) e "12 anos de escravidão" (2013) - todos dirigidos pelo cineasta Steve McQueen - e trafegou pelos mais diversos estilos, incluindo a ficção científica ("Prometheus", de 2012), o filme de ação ("Assassin's Creed", de 2015) e a cinebiografia ("Steve Jobs", também de 2015). Em "Oeste sem lei" ele volta sua atenção para outro gênero caro ao inconsciente coletivo da plateia - e um dos mais tradicionais de Hollywood: o western. Assinando também como produtor executivo do filme, ele banca a estreia do músico John Maclean (da banda folk The Beta Band) como roteirista e diretor, e aproveita sua versatilidade em favor de uma trama que, se não apresenta grandes novidades, ao menos respeita os cânones do gênero e mantém a atenção do público até seu climático final - com direito a um tiroteio dos mais empolgantes e um desfecho emocionante.

É interessante perceber como Maclean se utiliza dos elementos mais clássicos do western - a figura do cavaleiro solitário, a fotografia caprichada, ataques indígenas, o embate entre mocinhos e bandidos - ao mesmo tempo em que os envolve com certa aura de modernidade. Ao contrário de outras produções que transformaram o gênero em piada (como os filmes "Young guns"), o cineasta estreante demonstra reverência ao que já foi realizado enquanto conta sua história com ritmo e estilo próprios. Evitando a prolixidade e o exagero, Maclean é minimalista, lembrando mais os contemplativos filmes de Clint Eastwood do que os épicos de John Ford - até a duração é tímida, pouco menos de uma hora e meia (modesta para os padrões comerciais). Modesto também foi seu orçamento, estimado em meros dois milhões de dólares, o que lhe permitiu estrear no Festival de Sundance de 2015 - de onde saiu laureado com o Grande Prêmio do Júri. Aplaudido também por críticos europeus (que reconheceram nele as qualidades que sua bilheteria escassa escondeu do grande público), "Oeste sem lei" é uma grata surpresa para quem procura entretenimento sem abrir mão de alguns "detalhes" - como um bom roteiro, uma direção inspirada e atores competentes.


Apesar de Michael Fasbnder ser o produtor executivo e o nome mais conhecido do elenco, seu personagem não é o protagonista da trama. Quem comanda a narrativa é o muito jovem Kodi Smith-McPhee, conhecido por seu trabalho em "A estrada" (2010) e "Deixe ela entrar" (2011). Ele vive Jay Cavendish, um escocês de apenas 16 anos de idade que cai na estrada atrás daquela que considera a mulher de sua vida, a independente Rose Ross (Caren Pistorius) - que, junto com seu pai, John (Rory McCann), tornou-se fugitiva depois de um incidente com o tio de Jay, que não aprovava a amizade do sobrinho com alguém de nível social inferior. Seguindo os passos de Rose, Jay chega ao oeste norte-americano, onde encontra o experiente Silas Selleck (Fassbender em pessoa), com quem logo inicia uma relação de camaradagem - ainda que o misterioso cavaleiro não seja uma pessoa de muitas palavras. O que Jay nem desconfia é que Silas também quer encontrar Rose e John, mas por motivos bem menos emocionais: a dupla está sendo procurada e existe uma recompensa de cinco mil dólares à espera de quem os entregar.

 O roteiro de "Oeste sem lei" se concentra em dar consistência à nascente amizade entre Jay e Silas, enquanto, através de flashbacks, vai contando a história de amor unilateral entre o menino e Rose. Equilibrando as duas linhas narrativas sem maiores sobressaltos, John Maclean se revela um cineasta discreto e inteligente: com pouco dinheiro para gastar, preferiu priorizar os personagens à ação, para somente nos minutos finais entregar à plateia o clímax emocional, que encerra a trajetória de seus protagonistas de forma coerente e digna. O desfecho do "romance" entre Jay e Rose pode até soar um pouco rápido demais, mas é inegável que proporciona ao filme uma conclusão verossímil e emocional. Fugindo com destreza dos clichês ao mesmo tempo em que os abraça quando necessário, o filme é uma bela surpresa para os fãs do gênero, de Fassbender e do bom cinema independente.

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