quinta-feira

ANIQUILAÇÃO


ANIQUILAÇÃO (Annihilation, 2018, Paramount Pictures/Skydance Media/Scott Rudin Productions, 115min) Direção: Alex Garland. Roteiro: Alex Garland, romance de Jeff VanderMeer. Fotografia: Rob Hardy. Montagem: Barney Pilling. Música: Geoff Barrow, Ben Salisbury. Figurino: Sammy Sheldon Differ. Direção de arte/cenários: Mark Digby/Michelle Day. Produção executiva: Jo Burn, David Ellison, Dana Goldberg, Don Granger. Produção: Eli Bush, Andrew Macdonald, Allon Reich, Scott Rudin. Elenco: Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Oscar Isaac, Gina Rodriguez, Tuva Novotny, Tessa Thompson. Estreia: 13/02/2018

Experiente como escritor - é dele o romance "A praia", que Danny Boyle levou às telas com Leonardo DiCaprio, em 2000 - e roteirista - ele é o nome por trás de "Extermínio" (2002), também de Boyle, e da adaptação de "Não me abandone jamais" (2001), baseado em livro de Kazuo Ishiguro -, o inglês Alex Garland sabe que a pressão não é pouca quando se transfere uma obra literária para o cinema. Com isso em mente, a primeira coisa que fez quando anunciou que estaria no comando da versão cinematográfica do livro "Annihilation", início de uma trilogia escrita por Jeff VanderMeer, foi declarar que, ao invés de reler a obra para escrever o roteiro, o faria como "um sonho do livro". Qualquer coisa que isso possa significar, o resultado foi um filme que não exatamente agradou aos fãs do original por suas diferenças claras - mas que, como produto audiovisual, caminha muito bem pelas próprias pernas. Inteligente, intrigante e oferecendo mais perguntas que respostas, "Aniquilação" ainda se beneficia da presença sempre magnética de Natalie Portman - por ironia uma das principais críticas dos leitores mais exigentes da trama de VanderMeer.

Indignados com a escalação de Portman para um dos papéis principais da história - que nas páginas é descrita como asiática - os fãs da trilogia tampouco gostaram de ver Jennifer Jason Leigh na pele de uma personagem de descendência indígena. Em sua defesa, Garland alegou - com certa coerência - que os detalhes físicos das protagonistas são revelados apenas no segundo livro da série (lançado apenas depois que o roteiro da adaptação já estava finalizado). A esta altura da pré-produção, o cineasta - cujo "Ex-machina: instinto artificial" (2014) havia agradado plenamente crítica e público - preferiu escolher seu elenco de acordo com as audições e com sua experiência anterior como diretor. Talvez a explicação não tenha sido completamente aceita pelos detratores, mas o fato é que, apesar da polêmica, "Aniquilação" é um suspense de ficção muito acima da média, que se utiliza de efeitos visuais como parte integrante da narrativa, e não como seu principal atrativo, e cujos elementos remetem ao clássico russo "Stalker" (1979), de Andrei Tarkovski - apesar das veementes negativas de VanderMeer a respeito de suas inspirações.

 

A trama começa quando o militar Kane (Oscar Isaac), tido como desaparecido em uma missão há pelo menos um ano, retorna à companhia da mulher, a biologista Lena (Natalie Portman). Kane não tem memória alguma a respeito do que aconteceu com ele e seus demais colegas - e subitamente começa a passar mal, sendo levado por seus superiores (sem maiores explicações) a uma instalação militar. É neste local que Lena começa a conhecer, ainda que superficialmente, a história por trás de todo o mistério que cercava a missão do marido - através da psicóloga Ventress (Jennifer Jason Leigh), Lena fica sabendo que Kane fazia parte de uma expedição que buscava informações científicas a respeito da Área X - uma região da Terra repentinamente cercada por uma cúpula a qual se convencionou chamar de Brilho. Sabendo que uma outra expedição está em vias de tentar novamente a sorte - até mesmo como forma de descobrir o paradeiro dos demais membros da primeira missão -, Lena se oferece como voluntária. Assim, se une a Ventress, à física Josie Radek (Tessa Thompson), à antropologista Cassie Sheppard (Tuva Novotny) e à paramédica Anya Thorensen (Gina Rodriguez) e entra em um universo novo, onde aparentemente organismos alienígenas estão provocando mutações genéticas das mais variadas - e ameaçando a existência da Terra nos moldes tradicionais.

Levando-se bastante a sério - uma vantagem em um gênero que frequentemente apela para um humor vazio como forma de conquistar plateias mais jovens - e oferecendo efeitos visuais criativos e longe do lugar-comum, "Aniquilação" estreou em um acordo entre a Paramount Pictures e a Netflix, resultado de bastidores pouco tranquilos entre os executivos do estúdio - enquanto David Ellison, preocupado com o tom intelectual do filme pedia por refilmagens e alterações cruciais no filme (incluindo mudanças substanciais na personalidade da protagonista interpretada por Portman), o produtor Scott Rudin declarava total apoio à integridade da obra de Garland. A briga resultou no lançamento do filme em streaming, uma aposta arriscada para uma produção de 40 milhões de dólares que, sem uma estreia tradicional, ficou muito aquém do que poderia ter conquistado - tanto em termos financeiros quanto de prestígio. Uma das mais interessantes ficções científicas a surgir em um período repleto de boas opções no gênero - "Interestelar" (2015), "Perdido em Marte (2015) e "A chegada" (2016) elevaram o patamar em muitos graus -, o filme de Garland tem, certamente, um lugar garantido no coração dos fãs.


Nenhum comentário:

VAMPIROS DO DESERTO

VAMPIROS DO DESERTO (The forsaken, 2001, Screen Gems/Sandstorm Films, 90min) Direção e roteiro: J. S. Cardone. Fotografia: Steven Bernstein...