segunda-feira

CHAMADA DE EMERGÊNCIA


CHAMADA DE EMERGÊNCIA (The call, 2013, TriStar Pictures/Stage 6 Films/Troika Pictures, 96min) Direção: Brad Anderson. Roteiro: Richard D'Ovidio, estória de Richard D'Ovidio, Nicole D'Ovidio, Jon Bokenkamp. Fotografia: Tom Yatsko. Montagem: Avi Youabian. Música: John Debney. Figurino: Magali Guidasci. Direção de arte/cenários: Franco-Giacomo Carbone/Robert Gould. Produção executiva: Philip M. Cohen, William C. Gallo, Guy J. Louthan, Dale Rosenbloom. Produção: Bradley Gallo, Jeff Graup, Michael A. Helfant, Michael J. Luisi, Robert L. Stein. Elenco: Halle Berry, Abigail Breslin, Michael Eklund, Morris Chestnut, Roma Maffia, Michael Imperioli, Justina Machado. Estreia: 14/3/2013

Depois de ganhar o Oscar de melhor atriz em 2002 por "A última ceia" - e tornar-se a primeira e até hoje única mulher negra a conseguir tal façanha -, Halle Berry passou a sofrer do mesmo problema de várias outras intérpretes premiadas com a estatueta: acometida da proverbial "maldição do Oscar", viu sua carreira entrar em uma espiral decadente, tanto em termos artísticos quanto financeiros. Filmes sofríveis como "Mulher-gato" (2004) e "Na companhia do medo" (2003) pareciam afundá-la em uma série de escolhas tão equivocadas que nem mesmo sua presença na série de continuações da série "X-Men" (onde dava vida à Tempestade) conseguia equilibrar. Foi somente em 2013, mais de uma década depois de sua vitória - e quando pouca gente ainda acreditava no potencial comercial de seu nome - que Berry voltou a cair nas graças do público: mesmo que não tenha feito um sucesso avassalador, "Chamada de emergência" arrecadou respeitáveis 68 milhões de dólares pelo mundo (contra um orçamento quase irrisório de 13 milhões) e reposicionou sua atriz principal na indústria - ainda que logo em seguida ela retornasse à sua rotina de más decisões profissionais.

Dirigido por Brad Anderson - mas sem o tom claustrofóbico e féerico de seu "O operário" (2004) -, "Chamada de emergência" é um filme de suspense que se utiliza sem pudores de todos os seus elementos mais clássicos. Sua coragem em assumir-se claramente como entretenimento é uma de suas maiores qualidades: em nenhum momento Anderson tenta transformar o roteiro em algo maior do que ele é, escorando-se com extrema confiança em um ritmo ágil, no talento de seus atores e na premissa, um tanto inverossímil mas bastante eficiente. Enxuto (apenas 96 minutos contando com os créditos) e nervoso, o filme conduz o espectador a uma viagem de constante tensão, que vai se avolumando até o terceiro (e um tanto exagerado) ato. Halle Berry brilha no papel central - e divide os méritos com Abigail Breslin (a Pequena Miss Sunshine em pessoa) e com o ótimo Michael Eklund, excelentes como as demais peças de um jogo violento e imprevisível.


 

Jordan Turner (Berry) trabalha como operadora do sistema de emergência de Los Angeles. Experiente mas incapaz de ser totalmente insensível em relação ao que testemunha, ela acaba por passar por um incidente traumático (mostrado nos primeiros ótimos minutos de projeção) e, insegura quanto à sua própria capacidade de lidar com o stress da profissão, tenta readaptar-se aos poucos na rotina de seus colegas. Seis meses depois do evento que a abalou profundamente, porém, ela terá uma chance de convencer a si mesma de que mantém intacto seu talento em ajudar as vítimas que procuram ajuda. A adolescente Casey (Abigail Breslin) liga desesperadamente para a emergência, e pede socorro: acaba de ser sequestrada em um shopping-center e está telefonando de um celular, trancada no porta-malas de um carro. Assumindo as rédeas da situação, Jordan conta com a ajuda de sua tarimba para manter a jovem em relativa calma e dos colegas policiais para que sigam as pistas que podem levá-los a evitar o pior. Nesse meio-tempo, Casey se demonstra uma vítima pouco propensa à passividade - o que não basta, no entanto, para diminuir seu terror diante da violência que passa a presenciar conforme seu raptor vai ficando cada vez menos pacífico.

É interessante lembrar que o primeiro cineasta ligado à "Chamada de emergência" foi Joel Schumacher, que em 2003 lançou "Por um fio" - os roteiros de ambos os filmes lidam com a urgência do tempo, com psicopatas violentos e com protagonistas lidando com a pressão de nunca abandonar o telefone. "Chamada de emergência" sofre, nesse ponto, com algumas inverossimilhanças que, se não atrapalham a tensão, podem minar a suspensão de realidade tão necessária a filmes do gênero: Casey consegue ficar conectada com Jordan o filme todo, sem que a ligação caia nem mesmo em situações em que isso seja pouco provável, e o final apresenta uma série de coincidências que soam um tanto forçadas em uma história que fluía com tanta naturalidade - também é um pouco frustrante a explanação a respeito dos motivos do criminoso, uma subtrama que em nada acrescenta à tensão construída com tanto cuidado até então. O fato de Jordan buscar justiça com as próprias mãos também é algo que incomoda, apesar de tal subterfúgio fazer parte da lista de elementos clássicos do gênero - em especial dentro de uma indústria que praticamente exige o embate entre herói e vilão nos momentos decisivos da ação. Apesar disso, o final é corajoso ao evitar (um pouco) o previsível e encerrar a história deixando no público a satisfação de um desfecho compensador. "Chamada de emergência" é um filme de suspense assumidamente realizado com o objetivo de divertir durante sua hora e meia de duração - e cumpre sua missão com louvor. Não muda a história do cinema, mas leva o espectador a um passeio de montanha-russa dos mais eficazes.

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