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PULP FICTION - TEMPO DE VIOLÊNCIA

PULP FICTION, TEMPO DE VIOLÊNCIA (Pulp fiction, 1994, Miramax Films/Jersey Films/A Band Apart, 154min) Direção: Quentin Tarantino. Roteiro: Quentin Tarantino, histórias de Quentin Tarantino e Lawrence Bender. Fotografia: Andrzej Sekula. Montagem: Sally Menke. Figurino: Betsy Heinman. Direção de arte/cenários: David Wasco/Sandy Reynolds-Wasco. Produção executiva: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Produção: Lawrence Bender. Elenco: John Travolta, Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Harvey Keitel, Christopher Walken, Tim Roth, Amanda Plummer, Maria de Medeiros, Ving Rhames, Frank Whaley, Quentin Tarantino, Alexis Arquette. Estreia: Maio de 1994 (Festival de Cannes)

7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Quentin Tarantino), Ator (John Travolta), Ator Coadjuvante (Samuel L. Jackson), Atriz Coadjuvante (Uma Thurman), Roteiro Original, Montagem
Vencedor do Oscar de Roteiro Original
Vencedor do Golden Globe de Roteiro Original
Palma de Ouro no Festival de Cannes (Melhor Filme)

Já faz mais de quinze anos que "Pulp fiction" levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e sua influência sobre o cinema americano - e mundial - ainda está longe de arrefecer. Primeiro filme de Quentin Tarantino depois de sua bombástica estreia - o violento "Cães de aluguel" - "Pulp fiction" pegou o mundo de surpresa ao subverter praticamente todas as regras pré-concebidas do cinemão comercial e apresentar um painel cru, engraçado e amoral de pessoas que circulam em um universo particularmente interessante ao cineasta. Desfilam pela tela - por cerca de duas horas e meia de duração - assassinos de aluguel, gângsteres de esquina, boxeadores fracassados e junkies irremediáveis. Vindo da cabeça de Tarantino - dono de um enciclopédico conhecimento sobre filmes B - não é de se estranhar nenhum detalhe de "Pulp fiction". O que é de deixar qualquer um surpreso é o fato do filme ter chegado pertinho de ganhar o Oscar máximo. Não chegou lá - ficou "apenas" com a estatueta de roteiro original - mas só concorrer ao lado de obras certinhas - excelentes, sem dúvida, mas pouco inovadoras - como "Forrest Gump" e "Um sonho de liberdade", já é motivo de choque.


Quentin Tarantino - assim como David Lynch e Pedro Almodovar - é uma espécie de deus de seu próprio universo. Em seus filmes qualquer coisa é possível, qualquer absurdo é compreensível e qualquer personagem é crível. Dentro de seu específico mundo - decorado e sonorizado com uma mistura de anos 60, 70 e 80 aparentemente sem nexo - ele conduz o espectador a situações bizarras sem dar espaço a questionamentos supérfluos. É somente dentro da obra sui generis do cineasta que matadores verborrágicos em vias de converter-se cruzam o caminho de foragidos ameaçados de morte que adiam a fuga para correr atrás de relíquias familiares - e que dão de cara com bizarros estupradores sadomasoquistas. Sim, isso é "Pulp fiction". Isso e muito mais.

Narrado fora de ordem cronológica - artifício que funciona à perfeição aqui, mas que virou quase uma praga em seu rastro, uma vez que qualquer filme "moderno" a utilizou sem parcimônia desde então - "Pulp fiction" começa apresentando um casal de assaltantes, Pumpkin (Tim Roth) e Honey Bunny (Amanda Plummer), que decide dar uma virada na vida e partir para ações mais ambiciosas e menos perigosas. Antes mesmo que sua história tenha um desfecho, o público é levado a conhecer Vincent Vega (John Travolta no mais consistente retorno de sua carreira) e Jules Winfield (Samuel L. Jackson), em vias de cumprir uma "missão" para seu chefe, o temível Marsellus Wallace (Ving Rhames). Tão logo o trabalho dos dois companheiros é finalizado, começa a história do encontro entre o desajeitado Vincent com Mia (Uma Thurman), a esposa de seu patrão, uma ex-atriz apaixonada por drogas pesadas que o leva a um pesadelo noturno ao sofrer uma overdose acidental. Em seguida, somos jogados na aventura de Butch Coolidge (Bruce Willis), um boxeador que, desafiando o combinado com seus contratadores - entregar uma importante luta - foge em disparada rumo aos braços da namorada, Fabienne (Maria de Medeiros), mas é obrigado a fazer uma retirada estratégica para recuperar o relógio de ouro que pertenceu a seu avô e a seu pai - só para ser vítima de um estranho sequestro ao lado de seu inimigo. E para finalizar tudo, Jules e Vincent são obrigados a chamar o eficiente Mr. Wolf (Harvey Keitel) para resolver um grave e sangrento acidente provocado com um tiro disparado sem querer.



Mesmo hoje, depois de dezenas de imitações baratas e sofríveis, "Pulp fiction" se mantém como revolucionário e impactante. Seu texto afiado (e principalmente repleto de uma naturalidade rara), sua trilha sonora sensacional (impossível não lembrar de sequências inteiras ao ouvir algumas de suas canções), sua absoluta falta de compromisso com o déja-vu e seu humor sardônico são marcas registradas de Tarantino e não são encontradas em quaisquer filmes que beberam de sua fonte. O estilo de Tarantino é legítimo, ao contrário de seus copiadores, e isso faz toda a diferença: o texto de "Pulp fiction soa orgânico e jamais forçado e encontra em seus atores os intérpretes ideais. E é nesse quesito que o cineasta mais influente da década de 90 se sobressai gritantemente: sem seu elenco, escalado a dedo, "Pulp fiction" provavelmente perderia muito de seu impacto.

Ainda que tenha sido John Travolta o mais festejado dos atores do filme - em um retorno que lhe deu uma merecida indicação ao Oscar - é difícil não se deixar fascinar pelos olhos hipnotizantes de Samuel L. Jackson (dono dos diálogos mais substanciais e cultuados da obra) ou seduzir pelo charme de Uma Thurman (que só aceitou fazer parte do elenco depois que o próprio diretor leu o roteiro todo pelo telefone). Tanto Jackson quanto Thurman concorreram à estatueta mais cobiçada do cinema e poderiam facilmente ter vencido. E é um duro golpe aos detratores que insistem em dizer que Tarantino não é bom diretor de atores ver o que ele consegue fazer com Bruce Willis, por exemplo, na melhor atuação de sua carreira, ou com Ving Rhames, um ator pouco conhecido alçado à categoria de assustador com sua performance como Marsellus Wallace - um gângster perigoso flagrado pelas câmeras hiperativas do cineasta em um momento de extrema fragilidade. E isso que nem é preciso falar de nomes consagrados como Harvey Keitel, Christopher Walken e Tim Roth, que apenas reiteram seu talento mesmo em pequenos papéis.

A força de "Pulp fiction" reside em suas inúmeras qualidades que, somadas, fazem dele o filme fundamental de sua época. Parte do inconsciente coletivo de uma legião de fãs da sétima arte, a obra-prima de Quentin Tarantino - se bem que quase todos os seus filmes o são - é um perfeito exemplo do quão inteligente, excitante e corajoso o cinema americano pode ser. Para ver, rever e trever, sempre com a mesma sensação de ineditismo.

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Assisti esses dias "Cães de aluguel" e bem, é um ótimo filme, mas acho 'Pulp fiction' insuperável. Tarantino faz da violência algo tão pop e avassalador, tras o espectador para um mundo velho, porém, novo.

Ah, uma obra de arte! ahsuahhs
Agora com tantos peronagens bons, me apaixonei pela personagem da Uma Thurman, inesquecível!


[]s

Thomás R. Boeira disse...

Este filme está no meu Top 5 de favoritos. Acho espetacular.

Sei quase de cor a fala bíblica de Samuel L. Jackson. E adoro a cena da dança, que é simplesmente memorável.

Adoro Forrest Gump e Um Sonho de Liberdade, mas em 1995 o Oscar deveria ter sido de Pulp Fiction.

Abraço,
Thomás
http://www.brazilianmovieguy.blogspot.com/

renatocinema disse...

"Quentin Tarantino - assim como David Lynch e Pedro Almodovar - é uma espécie de deus de seu próprio universo." você falou tudo. Incluiria nessa linha de universo próprio Tim Burton.

Filmaço do ínicio ao fim. Dialogos espetaculares e elenco afiado. Isso sem falar na ótima trilha sonora.

Tarantino foi muito bem com "Cães de Aluguel", porém, "Pulp Fiction" o deu o "diploma" de diretor acima de qualquer suspeita.

Ju B. disse...

Aahhh como eu amo Pulp Fiction!
Acho que vou seguir seu conselho e "trever" HOJE mesmo.
Um dos melhores roteiros da história do cinema, na minha opinião.
Ótimo post, linkei seu blog no meu recám-saído do forno:
http://moviewalk.blogspot.com/

Bjs.

Anônimo disse...

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