segunda-feira

NOSSO TIPO DE MULHER

NOSSO TIPO DE MULHER (She's the one, 1996, 20th Century Fox, 96min) Direção e roteiro: Edward Burns. Fotografia: Frank Prinzi. Montagem: Susan Graef. Música: Tom Petty. Figurino: Susan Lyall. Direção de arte/cenários: William Barclay/Harriet Zucker. Produção executiva: Michael Nozik, Robert Redford. Produção: Edward Burns, Ted Hope, James Schamus. Elenco: Edward Burns, Jennifer Aniston, Mike McGlone, Cameron Diaz, John Mahoney, Maxine Bahns, Amanda Peet. Estreia: 23/8/96

Por mais que Woody Allen, com sua habitual modéstia, acredite que não influencia a obra de ninguém, é impossível assistir-se a "Nosso tipo de mulher", uma comédia romântica a respeito dos relacionamentos de nova-iorquinos um tanto neuróticos e sempre com uma frase sarcástica na ponta da língua. Excetuando-se os fatos de que os personagens criados por Edward Burns são católicos descendentes de irlandeses  e que não são exatamente sofisticados, existe muito de Allen em "Nosso tipo de mulher". Felizmente, coisas boas.

Segunda parte de uma espécie de trilogia do jovem ator/roteirista/diretor/produtor Edward Burns - iniciada com "Os irmãos McMullen" (1995) e finalizada com "No looking back" (1998) - o filme conta as aventuras amorosas de dois irmãos de personalidades opostas (uma espécie de "Razão e sensibilidade" masculino e moderno): o mais velho, Mickey (vivido pelo diretor) trabalha como taxista desde que flagrou a noiva transando com outro homem e, em uma de suas viagens, conhece e se apaixona por Hope (Maxine Bahns), uma garçonete que sonha morar em Paris mas que, no momento, mora em um apartamento caindo aos pedaços. Em um ato impulsivo, eles se casam no mesmo dia em que se conhecem, o que pega toda a família de surpresa. O pai machista (John Mahoney) acredita que ela deseja o green card (mesmo que ela seja americana), a mãe (que jamais aparece em cena) acha que a nora está grávida. Mas quem fica mais chocado com a notícia é seu irmão caçula, Francis (Mike McGlone). Executivo de Wall Street, ambicioso e certinho, ele vê o casamento de Mickey causar um alvoroço em sua própria vida amorosa: não apenas passa a ser cobrado pela esposa Renee (Jennifer Aniston) como ainda entra em crise com a amante, Heather (Cameron Diaz), que vem a ser justamente a ex-noiva de seu irmão.



A ciranda amorosa bolada por Burns propicia bons momentos de humor, em especial quando o roteiro dá oportunidade para que os três membros masculinos da família Fitzpatrick estejam juntos, normalmente se preparando para uma pescaria. As diferenças entre seus pontos de vista e a forma como elas empurram o filme em direção a um clímax não poderoso mas coerente e romântico fazem com que tudo soe verossímil e o elenco escalado ajuda muito nesse quesito. A estrela maior é Cameron Diaz, já entrando na melhor fase de sua carreira - que culminaria com "Quem vai ficar com Mary?" cerca de um ano depois - e não tendo muito trabalho em parecer bonita e sexy. Jennifer Aniston, dando seus primeiros passos reais no cinema, não foge muito dos trejeitos de sua Rachel Green da série "Friends", mas é tão agradável que dá pra perdoar facilmente. E Maxine Bahns, que interpreta Hope, a mulher que entra em cena para desestabilizar a harmonia familiar, era namorada do diretor na época das filmagens, o que talvez explique sua escalação, já que não é especialmente bonita nem uma grande e carismática atriz.

Mas não deixa de ser irônico que em um filme chamado "Nosso tipo de mulher" seja justamente os homens que se destaquem. A química entre Burns e Mike McGlone (que já haviam atuado juntos em "Os irmãos McMullen") é palpável, e a aquisição do ótimo John Mahoney para o time não poderia ter sido melhor. Mahoney é engraçado, sério e convincente em cada cena, dando verdade a todos os diálogos que lhe cabem e simplesmente roubando o filme para si - mesmo porque Burns, apesar de talentoso como roteirista e cineasta parece estar sempre com uma certa preguiça para atuar (estilo, talvez...)

No fim das contas, "Nosso tipo de mulher" é uma comédia romântica inofensiva como todas elas devem ser. É irônica, é engraçada e é extremamente agradável. Não muda a vida de ninguém, mas é um passatempo bastante honesto.

Um comentário:

Silvano Vianna disse...

Muito bom.
Inclusive tem um texto meu sobre esse filme nos primórdios do Cinema Detalhado.
Abraços!

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