terça-feira

ALTA FIDELIDADE

ALTA FIDELIDADE (High fidelity, 2000, Dogstar Films/New Crime Productions/Touchstone Pictures/Working Title Films, 113min) Direção: Stephen Frears. Roteiro: D.V. DeVincentis, Steve Pink, John Cusack, Scott Rosenberg, romance de Nick Hornby. Fotografia: Seamus McGarvey. Montagem: Mick Audsley. Música: Howard Shore. Figurino: Laura Cunningham Bauer. Direção de arte/cenários: David Chapman, Therese Deprez/Larry Lundy. Produção executiva: Liza Chasin, Alan Greenspan, Mike Newell. Produção: Tim Bevan, Rudd Simmons. Elenco: John Cusack, Iben Hjejle, Jack Black, Lisa Bonet, Todd Louiso, Joan Cusack, Natasha Gregson-Wagner, Lili Taylor, Bruce Springsteen, Sara Gilbert, Tim Robbins, Joelle Carter, Catherine Zeta-Jones. Estreia: 31/3/00

Se existe algum escritor moderno que merece ser considerado "pop" esse autor é o inglês Nick Hornby. Bem-humorado, direto e totalmente mergulhado em universo cultural que é a cara dos anos 80/90, Hornby é o autor de alguns dos livros mais deliciosamente divertidos e irônicos do final do primeiro milênio e, como tal, sua prosa não escapou dos olhares gananciosos de Hollywood. Sendo que pouca gente assistiu à adaptação de "Febre de bola" lançada em 1997 e estrelada por Colin Firth, pode-se considerar que seu primeiro grande contato com o sucesso cinematográfico foi "Alta fidelidade", a versão de Stephen Frears para aquele que muitos consideram seu melhor trabalho. Apesar do relativo fracasso de bilheteria (mal cobriu seu custo em terras ianques), o filme protagonizado pelo ótimo John Cusack é uma das melhores comédias românticas da história e um programa obrigatório para aqueles que gostam de diversão inteligente.

Trocando (sem maiores prejuízos) o cenário da trama de Londres para Chicago (assim como a nacionalidade do protagonista), o roteiro co-escrito pelo próprio Cusack segue quase à risca o romance que lhe deu origem, que também originou a peça de teatro "A vida é feita de som e fúria". Ao deixar intactas suas maiores qualidades (o humor bem sacado, o mergulho sem medo no universo pop, o romantismo visto por uma ótica masculina e quase cafajeste), o filme de Frears presta reverência à sua origem sem nunca deixar de aparentar um frescor interno: da forma que está, a história parece ter nascido para a tela grande, tamanha sua identificação com a linguagem cinematográfica.



Rob Gordon (em atuação antológica de John Cusack) é o feliz proprietário de uma loja de discos de vinil chamada Championship Vynil, localizada em Chicago. Fanático por músicas pop e por fazer listas que enumeram suas preferências em vários setores da vida, ele sofre um golpe inesperado quando é abandonado por sua namorada, a bela Laura (Ibjen Hjejle) e fica sozinho ao lado de Harry (Jack Black) e Dick (Todd Louiso), seus funcionários e únicos amigos. Desesperado por esse revés emocional, Gordon faz, então, a lista mais importante de sua vida e resolve entrar em contato com as cinco mulheres que mais o fizeram sofrer por amor. Com isso, ele tenciona compreender porque seus relacionamentos invariavelmente acabam da mesma forma dolorosa. Assim, ele procura seu amor de infância que o trocou por um colega de escola, a namorada da faculdade (Joelle Carter) - que ele mesmo abandonou porque ela não queria sexo-, a esplendorosa Charlie (Catherine Zeta Jones em ótima forma) - que o trocou por um homem menos imaturo - e a deprimida Sarah (Lily Taylor), que também o chutou. Finalmente, ele resolve reconquistar Laura, ao mesmo tempo em que vive um rápido romance com a cantora Marie de Salle (Lisa Bonet).

Ao utilizar o batido - mas sempre eficaz - recurso de fazer seu protagonista dialogar com a câmera, tendo o espectador como confidente e ouvinte, Frears conquista a audiência logo na primeira cena, com um close sofrido de John Cusack desnudando seu coração partido e vociferando contra as músicas de amor. Aqui Cusack está no melhor papel de sua vida, um Ferris Bueller que, em vez de matar aula, resolve viver sua vida amorosa sem amarras apertadas. Seu Rob Gordon pode até parecer egoísta em determinados momentos, quase insensível e galinha, mas a sensibilidade do ator (também produtor executivo do filme e da trilha musical) faz com que o público inteiro se solidarize com ele... e torça para um final feliz entre ele e sua amada Laura.

Sem apelar para piadas fáceis e grosseiras, "Alta fidelidade" ainda tem tempo para apresentar coadjuvantes memoráveis (o asqueroso Harry vivido por Jack Black em seu melhor momento é um exemplo), de contar com participações especialíssimas de Bruce Springsteen e Tim Robbins e ainda por cima legar uma extraordinária trilha sonora, em que convivem harmonicamente Bob Dylan, Elvis Costello, Stevie Wonder e Stereolab, além de uma surpreendente versão da bela "Let's get it on" de Marvin Gaye na voz de... Jack Black (!!!)

"Alta fidelidade" é cinema pop, com tudo o que isso tem de bom e agradável. Um cult de nascimento!

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