CÍRCULO DE FOGO (Enemy at the gates, 2001, Paramount Pictures, 131min) Direção: Jean-Jacques Annaud. Roteiro: Jean-Jacques Annaud, Alain Godard. Fotografia: Robert Fraisse. Montagem: Noelle Boisson, Humprhey Dixon. Música: James Horner. Figurino: Janty Yates. Direção de arte/cenários: Wolf Kroeger/Simon Wakefield. Produção executiva: Alain Godard, Roland Pellegrino, Jorg Reichl, Alisa Tager. Produção: Jean-Jacques Annaud, John D. Schofield. Elenco: Jude Law, Joseph Fiennes, Rachel Weisz, Ed Harris, Bob Hoskins, Ron Pearlman. Estreia: 07/02/01 (Festival de Berlim)
Acostumado que está a ver a II Guerra Mundial pelos olhos de seus cineastas, o público americano não ficou exatamente empolgado com a recriação do diretor francês Jean-Jacques Annaud de uma parte importante da história do conflito, passada na Rússia. Dono de um orçamento de quase 70 milhões de dólares - o mais caro filme europeu até então - "Círculo de fogo" nem chegou a se pagar no mercado ianque (e foi praticamente ignorado no Festival de Berlim, onde os alemães não gostaram nem um pouco de se verem como os vilões da trama). No entanto, é inegável que é um dos mais excitantes e inteligentes filmes de guerra da história.
A ação se passa em 1942, quando a cidade de Stalingrado é a última resistência contra a invasão nazista. Espertamente sabendo que os cidadãos precisam de um incentivo para continuar sua luta, o jornalista Danilov (Joseph Fiennes) passa a descrever, em seus artigos, os feitos heróicos de seu melhor amigo, o atirador Vassili Zaitsev (Jude Law), que vem matando atiradores nazistas um a um de forma sistemática. Quando a fama de Vassili atinge os ouvidos alemães, eles não demoram a mandar seu melhor artilheiro, o Major Konig (Ed Harris) para detê-lo. Enquanto os dois homens passam a caçar um ao outro, Danilov tenta seduzir a bela Tania (Rachel Weisz), uma ativista militar apaixonada por Vassili.
Ao situar sua trama em um momento crucial da história da II Guerra Mundial, o diretor Annaud e seu co-roteirista Alain Godard teceram um rico painel sobre classes sociais e paixões de vários tipos - pela pátria, pelos amigos, por ideiais. Em suas duas horas de duração o filme conta várias histórias, todas interessantes e muito bem resolvidas. A amizade entre Danilov e Vassili, ameaçada pela paixão de ambos por Tania é a ponta romântica do roteiro (ainda que alguns insistam em ver algo homoerótico na admiração do jornalista pelo atirador). A iminência da invasão da Rússia pelas tropas de Hitler cumpre a parte de ação do projeto. Mas é a disputa de vaidade e idealismo entre Vassili e Konig que leva "Círculo de fogo" - mais um título nacional inexplicável, diga-se de passagem - a um nível de inteligência e qualidade que o separa dos filmes de guerra mais corriqueiros.
O que o roteiro faz, na verdade, é reduzir uma guerra de proporções gigantescas a uma batalha entre dois homens, ambos capazes, talentosos e certos de seus ideais. É uma metáfora talvez óbvia, mas que funciona à perfeição graças aos talentos envolvidos. Com frequentes closes nos olhos azuis de Ed Harris e Jude Law, a fotografia impressionante de Robert Fraisse tem mais sucesso em jogar o espectador dentro do campo de batalha do que os enquadramentos épicos de filmes como "Coração valente" e "Gladiador", competentíssimos mas um tanto quanto distantes dos sentidos do público. No filme de Annaud, a impressão que se tem é que se está ao lado de Vassili em seu jogo de gato e rato com Konig, impressão tornada ainda mais forte devido ao trabalho espetacular dos dois atores, em atuações irretocáveis - que fazem da interpretação rasa de Rachel Weisz ainda mais gritante.
"Círculo de fogo" tem todas as qualidades de um épicp hollywoodiano e consegue fugir com esperteza dos defeitos de seus congêneres. Enxuto (tem pouco mais de duas horas, enquanto a regra do cinema americano para filmes desse porte manda a duração chegar a três), conciso e quase minimalista, é um filme forte e honesto, que merece ser descoberto e louvado como um dos melhores de seu estilo.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
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3 comentários:
É um filme q gosto muito, principalmente pela atuação de Jude Law e Ed Harris, personagens q se antagonizam, mas tb se admiram.
Gostei do seu espaço, vou te linkar no meu blog. Apareça! Abs
http://umanoem365filmes.blogspot.com/
É um filme que passou várias vezes na tv a cabo e sempre deixei para assistir depois, mesmo gostando do tema e do bom elenco.
Abraço
Lembroo muito pouco dele, mas sei que me prendeu, a atuaçao de Harris e Fiennes me cativou, como sempre - Law sempre chatinho e fraquinho, mas aqui até que convence. Preciso rever, seu texto "refrescou" minha mente quanto à obra! abraço, aparece!
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