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ARTHUR: O MILIONÁRIO SEDUTOR


ARTHUR: O MILIONÁRIO SEDUTOR (Arthur, 1981, Orion Pictures, 97min) Direção e roteiro: Steve Gordon. Fotografia: Fred Schuler. Montagem: Susan E. Morse. Música: Burt Bacharach. Figurino: Jane Greenwood. Direção de Arte/Cenários: Stephen Hendrickson/Carol Joffe, Steven J. Jordan. Produção executiva: Charles H. Joffe. Produção: Robert Greenhut. Elenco: Dudley Moore, Liza Minelli, John Gielgud, Geraldine Fitzgerald, Jill Eikenberry. Estreia: 17/7/81

4 indicações ao Oscar: Ator (Dudley Moore), Ator Coadjuvante (John Gielgud), Roteiro Original, Canção Original ("Arthur's Theme (Best you can do")

Vencedor do Oscar de Canção Original: "Arthur's Theme (Best you can do)"

Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme Comédia/Musical, Ator Comédia/Musical (Dudley Moore), Ator Coadjuvante (John Gielgud), Canção Original ("Arthur's Theme (Best you can do)")

Nem só de dramas lacrimosos e épicos históricos vive a cerimônia do Oscar. Em 1981, mesmo ano em que "Carruagens de fogo" surgiu como o grande vencedor da festa da Academia, contra pesos-pesados como "Num lago dourado", "Reds" e "Caçadores da arca perdida", uma comédia romântica de grande sucesso popular demonstrou um poder de fogo inesperado, arrebatando duas das quatro estatuetas douradas a que estava indicada. "Arthur, o milionário sedutor", único filme escrito e dirigido por Steve Gordon (que morreu precocemente, aos 44 anos, em novembro de 1982) não apenas acabou a temporada como a quarta maior bilheteria do ano (com quase 100 milhões de dólares arrecadados pelo mundo) como conquistou a crítica a ponto de ganhar quatro Golden Globes (incluindo melhor filme e ator em comédia/musical) e chegar ao Oscar com moral suficiente para colocar Dudley Moore na disputa com nomes fortes como Paul Newman, Burt Lancaster e Henry Fonda - que acabou prevalecendo depois de uma carreira longa e vitoriosa. Estrelado ainda por uma Liza Minelli no auge da graça e da popularidade e por um John Gielgud brilhante em sua elegância britânica, "Arthur" se tornou, com o tempo, um incontestável clássico contemporâneo que nem mesmo a refilmagem desnecessária e sofrível estrelada por Russell Brand e Helen Mirren em 2011 conseguiu estragar.

Excêntrico, alcóolatra contumaz, mulherengo e de língua ferina, Arthur Bach não é apenas o personagem-título do longa de Gordon, mas seu centro absoluto - assim como suas relações com o fiel mordomo Hobson (John Gielgud) e a espevitada Linda Marolla (Liza Minnelli). Mas se é impensável imaginar ator mais apropriado do que o impagável Dudley Moore para vivê-lo, é preciso saber que o britânico estava bem longe de ser a primeira escolha do diretor. E nem apenas George Segal foi substituído por ele, como já havia acontecido em "Mulher nota dez" (1979): na lista de possíveis intérpretes para Arthur figuraram Al Pacino, James Caan, John Travolta, John Belushi, Robert Redford, Jeff Bridges, Chevy Chase, Steve Martin, Bill Murray, Jack Nicholson, Sylvester Stallone, Robin Williams, Burt Reynolds e Tom Selleck - um verdadeiro quem é quem na indústria no começo dos anos 1980. O êxito absoluto de Moore no papel não deixa de ser mérito do cineasta, que admitiu depois do lançamento, que suas dúvidas a respeito do ator central não eram as únicas a lhe atormentar: nada menos que quatro finais diferentes foram filmados e somente no processo de edição as coisas finalmente entraram nos eixos - detalhe que não impediu que o roteiro original fosse indicado ao Oscar e de certa forma servisse de influência a todas as comédias românticas que viriam a seguir.


A trama de "Arthur" não é exatamente inovadora - e nem o era à época de seu lançamento: o protagonista é um milionário irresponsável mas de bom coração que passa seus dias (ou melhor, noites) bebendo e dando em cima de toda bela mulher que passa em seu caminho. Seu fiel escudeiro, o mordomo Hobson, está sempre à espreita, consertando seus erros e tentando amenizar as consequências de seus atos tresloucados causados pelo excesso de bebida. Por trás da existência errática de Arthur, no entanto, existe um grande problema: a pressão para que se case com outra milionária, a deslumbrada Susan Johnson (Jill Eikenberry), única condição para que não tenha todo o seu dinheiro bloqueado por seu pai e sua avó. Pouco tempo antes de tomar a decisão mais importante de sua vida, porém, Arthur esbarra em Linda Marolla (Liza Minnelli), uma garçonete espevitada e de bem com a vida, que mora com o pai, Ralph (Barney Martin), e lhe mostra uma existência mais leve e distante do luxo a que está acostumado. Apaixonado por ela, o milionário precisa decidir entre o dinheiro e o amor - e descobrirá que a decisão não é tão fácil quanto poderia parecer.

"Arthur" é uma comédia deliciosa, que faz rir de forma orgânica e conquista pela simpatia dos atores principais - uma química preciosa que por pouco não aconteceu. Além da dificuldade de escalar um ator apropriado para viver o protagonista masculino, a produção também sofreu para encontrar uma atriz capaz de dividir a cena com Dudley Moore de forma a não ser eclipsada. Antes que Liza Minnelli entrasse no jogo, Carrie Fisher e Debra Winger já haviam recusado o papel, e na lista de possíveis intérpretes para a carismática Linda Marolla constavam Mia Farrow, Goldie Hawn, Farrah Fawcett, Barbara Hershey, Diane Keaton, Jessica Lange, Bette Midler, Susan Sarandon, Cybill Sheperd e Meryl Streep. A entrada de Minnelli no projeto se aproveitava do sucesso pós-Oscar por "Cabaret" (1977), mas é impossível não perceber que, apesar de seu talento incontestável, sua personagem é pouco desenvolvida, praticamente vivendo em função de seu relacionamento com Arthur. Quando juntos, ela e Dudley Moore brilham cintilantes - mas é uma pena a trama muitas vezes se desloque para as desventuras familiares do ricaço, em detrimento de seu nascente e divertido romance. Isso não impede, no entanto, que o filme de Steve Gordon seja um passatempo dos mais agradáveis e felizes de sua época

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