quarta-feira

ASSÉDIO SEXUAL


ASSÉDIO SEXUAL (Disclosure, 1994, Warner Bros., 128min) Direção: Barry Levinson. Roteiro: Paul Attanasio, romance de Michael Crichton. Fotografia: Tony Pierce-Roberts. Montagem: Stu Linder. Música: Ennio Morricone. Figurino: Gloria Gresham. Direção de arte/cenários: Neil Spisak/Garrett Lewis. Produção executiva: Peter Giuliano. Produção: Michael Crichton, Barry Levinson. Elenco: Michael Douglas, Demi Moore, Donald Sutherland, Caroline Goodall, Roma Maffia, Dylan Baker, Dennis Miller. Donal Logue. Estreia: 28/11/94

Não tinha como dar errado. Em 1994, quando foi lançado, o filme "Assédio sexual" apresentava todos os ingredientes de um grande sucesso: além do tema polêmico, contava com a assinatura de Barry Levinson (diretor oscarizado por "Rain Man", de 1988, e indicado novamente à estatueta, por "Bugsy", de 1991), uma história criada por Michael Crichton (cujo "Jurassic Park" acabava de ser adaptado às telas por Steven Spielberg e se tornava uma das maiores bilheterias da história) e a presença de dois astros de primeira grandeza, Michael Douglas e Demi Moore. E não deu - pelo menos em parte. Com mais de 200 milhões de dólares de arrecadação mundial, a produção deu o que falar em mesas de bar, em artigos de jornal e em reuniões de família, colocando em pauta um assunto ainda delicado (cuja interessante inversão de papéis ajudou no marketing espontâneo) e reforçando a popularidade de seus atores principais. Porém, à parte sua controvérsia e o talento dos envolvidos, o filme de Levinson não deixa de ser uma decepção àqueles que procuram um bom drama de tribunal: superficial e com sérios problemas de foco, "Assédio sexual" é um passatempo correto, mas que perdeu a chance de se tornar um clássico de seu tempo.

Não deixou de ser uma jogada de mestre mudar o foco do romance "Disclosure", de Michael Crichton, para buscar as plateias que lotaram as salas de exibição para ver Michael Douglas sofrendo as consequências de seu caso extraconjugal em "Atração fatal" (1987) ou Demi Moore despertando a luxúria do milionário Robert Redford em "Proposta indecente" (1993) - ambos dirigidos, por coincidência ou não, por Adrian Lyne. Cientes de que o público formaria filas para ver a normalmente delicada Demi assediando sem meias-palavras o frequentemente garanhão Douglas, os produtores transformaram uma subtrama do livro de Crichton em tema principal - e relegaram a história central do romance, que girava em torno de intrigas corporativas em uma empresa de tecnologia, a segundo plano. A estratégia se mostrou acertada em termos comerciais, mas, como efeito colateral, enfatizou a fragilidade com que o escritor desenvolveu o tema. Nem mesmo um roteirista experiente como Paul Attanasio - indicado ao Oscar por "Quiz show: a verdade dos bastidores" (1994) - foi capaz de disfarçar a inconsistência de tamanha alteração de foco: o que era para ser o grande trunfo do filme acabou esvaziado por uma reviravolta anticlimática que funcionou nas páginas mas se despedaçou nas telas.

 

A trama do filme gira em torno de Tom Sanders (Michael Douglas), gerente de uma importante empresa de tecnologia de Seattle, às vésperas de uma fusão milionária que a colocará dentre as grandes companhias do mundo. No dia em que esperava ser promovido a vice-presidente, porém, o pacato Tom, pai de família correto e leal, é pego de surpresa ao reencontrar uma antiga namorada, Meredith Johnson (Demi Moore): não apenas ela vai trabalhar na mesma empresa que ele, como é anunciada no cargo que seria seu. Frustrado e com medo de perder o emprego ao qual se dedica incansavelmente, Tom entra em uma situação ainda mais delicada quando, depois do expediente, em uma reunião com a bela e decidida executiva, é quase forçado a fazer sexo com ela. No dia seguinte, a coisa fica pior: invertendo completamente os fatos, Meredith o acusa de assédio sexual - e caberá a ele provar que uma mulher linda, sensual e poderosa teria necessidade de obrigar um homem a envolver-se com ela. Nem mesmo seu antigo chefe, Bob Garvin (Donald Sutherland), acredita em sua versão, e as consequências do embate poderão acabar com sua carreira e sua família.

Não há grandes problemas em "Assédio sexual", assim como tampouco há grandes qualidades. A impressão que se tem é que todos estão no piloto automático. A direção de Barry Levinson é burocrática - mesmo a comentada cena do assédio não se decide entre ser quente ou incômoda. Michael Douglas faz muito pouco além do corriqueiro, sem oferecer muitas nuances a sua performance, correta mas sem brilho. Nem a trilha sonora do celebrado Ennio Morricone consegue ser marcante, sublinhando apenas com eficiência as sequências propostas pelo roteiro mas nunca chegando à excelência que lhe é costumeira. Quem acaba se beneficiando desse resultado morno é Demi Moore, que se destaca mesmo com uma personagem tão maniqueísta quanto Meredith Johnson. Na pele da antagonista principal - papel para o qual foram consideradas Michelle Pfeiffer, Geena Davis e Annette Bening -, Demi coroava um período fértil para uma carreira que pouco depois cairia em um melancólico limbo, alavancado por fracassos de bilheteria como "Striptease" (1996) e "Até o limite da honra" (1997). Linda e esforçada, é ela quem se sobressai em uma produção apenas mediana e sem brilho.

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