Praticamente um especialista em cinebiografias políticas nacionais, o cineasta Sergio Rezende tem no currículo filmes importantes, como "O homem da capa preta", "Lamarca" e "Mauá - O imperador e o rei". Dando continuidade a seu invejável currículo, "Zuzu Angel" dá um passo a frente em sua obra, injetando emoção e dor a uma técnica competente e eficaz. Evitando contar a vida inteira da estilista brasileira que dá nome ao filme e preferindo focar sua atenção a um determinado período de tempo - mais precisamente na história de sua trágica busca pela verdade a respeito do único filho homem, preso pela ditadura militar que manchou de sangue e pólvora a história do Brasil de 1964 a 1979.
Contando com uma caprichada reconstituição de época, Rezende joga o espectador em seu filme, aproximando-o corajosamente do drama de Zuzu (uma bela e competentíssima Patrícia Pillar) sem rodeios e sem medo de parecer sentimental. Mesclando um thriller político eletrizante com momentos de pura emoção - em especial quando estão em cena Patrícia e Daniel de Oliveira, que vive seu filho, Stuart Angel - o filme de Rezende, co-escrito em parceria com Marcos Bernstein atinge a plateia sem maiores dificuldades. Linear e claro, o roteiro não se furta a apontar culpados e eleger sua protagonista como heroína, mas foge do maniqueísmo por uma razão bastante simples: ela o é, como sua trajetória deixa bem explícito.
Uma das estilistas nacionais mais respeitadas no exterior, Zuzu Angel - mãe da jornalista e atriz Hildegard Angel, interpretada por Regiane Alves no filme - estava no auge de sua carreira quando uma sombra negra ofuscou seu sucesso. Seu único filho, Stuart (mais um grande trabalho de Daniel de Oliveira), é preso pelo DOPS, que nega a operação e se recusa a informar seu paradeiro. Desesperada - e contando com a ajuda velada de testemunhas temerosas - ela parte em busca de informações e, quando finalmente se conforma com a ideia da morte do rapaz, de seu corpo. Nesse meio tempo, passa a ser acuada, ameaçada e desacreditada pelos órgãos do governo, chegando inclusive a tentar chamar a atenção internacional, através do contato com Kissinger. Utilizando até mesmo suas coleções como forma de expressão, ela inspirou Chico Buarque a compor a bela "Angélica" - canção extraordinária que encerra o filme melancolicamente.
Realizado como drama político, mas sem as intermináveis cenas de burocratas discutindo em volta de uma mesa, "Zuz Angel" tem a seu favor a força de sua história (recente, real e brutal) e um elenco espetacular. Patrícia Pillar brilha soberana com uma atuação sutil mas extremamente realista, que atrai a empatia do público sem maiores esforços. Daniel de Oliveira e Leandra Leal (ela como a esposa de Stuart, que também é capturada pela ditadura) estão perfeitos em sua mescla de inocência e pavor. E até mesmo Elke Maravilha - personagem da história real que aqui faz uma ponta afetiva como cantora de uma boate - se sai bem, apesar de sua caracterização na tela (na pele da insossa Luana Piovani) carecer de força e veracidade.
Um dos filmes brasileiros mais bem acabados, interessantes e pungentes da chamada retomada iniciada no início dos anos 90, "Zuzu Angel" é mais um belo gol de placa de Sergio Rezende - que ainda conta com a participação especialíssima de Paulo Betti vivendo o mesmo Lamarca do filme que fizeram juntos em 1994.
Um comentário:
Achei o filme redondinho, mas muito melancólico e pouco melodramático para conquistar o público brasileiro
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