BIRDMAN ou (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA) (Birdman or (The unexcpected virtue of ignorance, 2014, New Regency Pictures, 119min) Direção: Alejandro González Iñárritu. Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dineralis Jr., Armando Bo. Fotografia: Emmanuel Lubezki. Montagem: Douglas Crise, Stephen Mirrione. Música: Antonio Sanchez. Figurino: Albert Wolsky. Direção de arte/cenários: Kevin Thompson/George De Titta Jr.. Produção executiva: Molly Conners, Sarah E. Johnson, Christopher Woodrow. Produção: Alejandro G. Iñárritu, John Lesher, Arnon Milchan, James W. Skotchdopole. Elenco: Michael Keaton, Edward Norton, Naomi Watts, Emma Stone, Zach Galifianakis. Estreia: 27/8/14 (Festival de Veneza)
9 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Alejandro González Iñárritu), Ator (Michael Keaton), Ator Coadjuvante (Edward Norton), Atriz Coadjuvante (Emma Stone), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Edição de Som, Mixagem de Som
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Alejandro González Iñárritu), Roteiro Original, Fotografia
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Ator Comédia/Musical (Michael Keaton), Roteiro
Quem estava acostumado a ver o nome de Alejandro Gonzalez Iñárritu nos
créditos de filmes densos e praticamente desprovidos de qualquer tipo de
senso de humor como "Amores brutos" (00), "21 gramas" (03), "Babel"
(06) e "Biutiful" (10) provavelmente levou um susto ao deparar-se
com seu "Birdman ou (A inesperada virtude da
ignorância)", que entrou firme e forte na disputa pelo Oscar de melhor
filme de 2014 e deixou pra trás outros elogiados trabalhos da temporada - como "Boyhood, da infância à juventude" e "O Grande Hotel Budapeste" - ao abocanhar 4 estatuetas, incluindo filme e diretor. Abandonado o pessimismo realista que permeava seus
três primeiros filmes - e sua parceria com o roteirista Guillermo
Arriaga - o cineasta mexicano realizou seu trabalho mais poético,
recheado de metáforas brilhantes sobre a arte, a vida e as relações
interpessoais e dotado de um tom onírico e sarcástico que contrasta com o
habitual realismo de sua cinematografia anterior. Amparado ainda em uma
atuação arrebatadora do até então canastrão Michael Keaton - a maior de
suas ferramentas de metalinguagem - o filme de Iñárritu discute, sem
parecer pedante ou hermético, o culto vazio às celebridades, a
efemeridade da fama, o sensacionalismo e a irresponsabilidade da mídia
(Internet incluída) ao contar a aparentemente simples história de um
decadente ator popular de cinema tentando provar-se um intérprete sério
ao estrelar um peça de teatro na Broadway. Tecnicamente impecável e
sombriamente engraçado, "Birdman" é, acima de tudo, um filme sobre a
paixão pelo teatro, pela busca incessante da transcendência através da
arte.
Riggan Thompson (Michael Keaton) é o que pode-se chamar de um ex-astro:
protagonista de uma série de três filmes onde interpretou um super-herói
chamado Birdman, ele viu sua carreira entrar em decadência vertiginosa
depois de ter recusado um quarto capítulo, há mais de vinte anos.
Considerando-se um fracassado quase irrecuperável, ele resolve dar uma
última cartada para retomar sua autoestima e conquistar o respeito da
crítica e do público: escrever, dirigir, produzir e estrelar uma peça de
teatro na Broadway. Sua insegurança, porém, ameaça a estreia do
espetáculo, assim como a gama de personagens surreais que o rodeiam,
como Mike Shiner (Edward Norton, sensacional como sempre), ator de
métodos tradicionais que se considera superior à toda a equipe por ter
construído sua carreira nos palcos e não nas telas, e a filha de Riggan,
Sam (Emma Stone), que acaba de sair de uma clínica de reabilitação.
Além dos problemas normais de uma produção teatral, o ídolo de uma
geração de cinéfilos também precisa enfrentar a má-vontade pré-concebida
da crítica e lidar com a voz do próprio Birdman - que surge como uma
espécie de conselheiro invisível que o empurra adiante em suas ambições.
"Birdman" é uma festa para os olhos, os ouvidos e o cérebro da plateia. A
fotografia de Emmanuel Lubezki integra-se à narrativa de forma tão
orgânica que parece quase invisível diante dos ilusórios
planos-sequência criados por Iñárritu, que conduzem a plateia pelos
corredores estreitos do teatro onde se passa a maior parte da ação
apenas para culminar em um clímax de extrema poesia e força dramática. O
roteiro - equilibrado com maestria entre o humor cáustico e o drama
existencial de uma geração exposta ao nada admirável mundo novo da
tecnologia que torna tudo vorazmente fugaz - soa como um bálsamo para um
público acostumado a diálogos pobres e ginasiais. E as questões que
discute - a prostituição da arte, o amor pelo teatro, a dicotomia
prestígio/popularidade, a falta de sentido na fama pela fama - nunca
foram tão prementes quanto hoje em dia, quando talento vem sendo
mercadoria dispensável na fogueira das vaidades do sucesso instantâneo.
Somados a tudo isso há ainda o elenco em dias de extrema inspiração:
Michael Keaton, no papel de sua vida (literalmente), tinha tudo para
ganhar um Oscar de melhor ator, caso a Academia não tivesse se rendido ao óbvio e
homenageado Eddie Redmayne por sua caracterização de Stephen Hawking. E
Edward Norton - duas vezes indicado anteriormente e duas vezes
descaradamente roubado - teve o azar de encontrar J.K. Simmons pela frente:
uma vitória sua teria sido surpreendente, mas jamais injusta.
Talvez uma parte do público - menos disposta a experiências que fujam do
banal - rejeitem "Birdman" por sua estética, sua narrativa, seu tema.
Mas provavelmente não seja essa parte da audiência que Alejandro
Gonzalez Iñárritu queira atingir com sua magistral fábula. Encantar-se
com a inteligência e a sutileza de seu trabalho é privilégio de quem
consegue sonhar acordado apesar dos pesares. "Birdman" é para quem tem a
arte na alma.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Birdman é definitivamente um dos melhores filmes de Michael Keaton atualmente. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores, o demonstrou em Fome de Poder um filme sobre a verdadeira historia do McDonalds que se converteu em um dos meus preferidos. Se vocês são amantes do trabalho do ator este é um filme que não devem deixar de ver. Fez uma grande química com todo o elenco, vai além dos seus limites e se entrego ao personagem. A verdade vale a pena.
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