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A MULHER DO TENENTE FRANCÊS

A MULHER DO TENENTE FRANCÊS (The French Lieutenant's woman, 1981, United Artists, 124min) Direção: Karel Reisz. Roteiro: Harold Pinter, romance de John Fowles. Fotografia: Freddie Francis. Montagem: John Bloom. Música: Carl Davis. Figurino: Tom Rand. Direção de arte/cenários: Assheton Gordon/Ann Mollo. Produção: Leon Clore. Elenco: Meryl Streep, Jeremy Irons, Hilton McRae, Emily Morgan, Charlotte Mitchell. Estreia: 18/9/81 (Festival de Toronto)

5 indicações ao Oscar: Atriz (Meryl Streep), Roteiro Adaptado, Montagem, Figurino, Direção de Arte/Cenários
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Drama (Meryl Streep) 

Quando Meryl Streep recebeu sua primeira indicação ao Oscar de melhor atriz, por "A mulher do tenente francês" (81), ela já estava acostumada a ser lembrada pela Academia na categoria de coadjuvante - já havia sido indicada por "O franco-atirador" (78) e premiada por "Kramer vs Kramer" (79). Seu desempenho duplo no filme de Karel Reisz lhe valeu um Golden Globe de melhor atriz em drama, um prêmio dos críticos de Los Angeles e o BAFTA - mas, do alto de sua modéstia, ela o considera um dos mais fracos de sua carreira. Basta assistir ao filme uma única vez, no entanto, para constatar que já nos primeiros anos de sua carreira no cinema, Streep já era um fenômeno. Mesmo que Helen Mirren fosse a escolha do escritor John Fowles (autor do livro que deu origem ao filme), é difícil imaginar que alguém pudesse ser tão absolutamente certeira nos papéis centrais. Já brilhando em seu talento de imitar sotaques, a atriz teve lições diárias para aperfeiçoar seu tom britânico - mas é em seu olhar, sua expressão corporal e na vasta gama de emoções que ela transmite que reside seu maior trunfo: a sinceridade.

Sem buscar respostas definitivas a respeito da personagem-título, Streep serve como um canal (espetacular) para que a trama de Fowles (autor também do romance que originou "O colecionador", de 1966) chegue ao espectador da forma mais limpa e emocionante possível. Um livro difícil de ser adaptado (que o digam cineastas como Milos Forman, Mike Nichols, Sidney Lumet e Fred Zinnemann, entre outros que tentaram a façanha durante anos), "A mulher do tenente francês" ganha requintes de sofisticação com o roteiro escrito pelo premiado dramaturgo Harold Pinter. Experiente, Pinter criou uma solução inusitada como forma de comportar dois dos três finais alternativos propostos por Fowles em sua obra: inventou uma trama paralela, contemporânea, que dialogava com a trágica e romântica estória descrita no livro. Nem sempre funciona - em alguns momentos desvia o foco sem necessidade e não tem a força necessária para envolver o público -, mas não deixa de ser um exemplo de criatividade e, de certa forma, liga o passado e o presente com toques poéticos e dramáticos que também realçam as diferenças cruciais na visão do comportamento feminino em circunstâncias e tempos distintos.


A trama original se passa no interior da Inglaterra do século XIX, e é centrada na figura melancólica e desamparada de Sarah (Meryl Streep), que passa seus dias à sombra do preconceito de que é vítima graças a seu infeliz caso de amor com um militar francês, que a abandonou à própria sorte. Seu semblante misterioso acaba por chamar a atenção de Charles (Jeremy Irons), um biólogo que está no lugar para acertar os detalhes de seu casamento. Atraído irremediavelmente pela aura trágica de Sarah - cuja história é contada aos quatro ventos pela cidade -, o rapaz acaba por aproximar-se dela, a princípio por curiosidade e posteriormente por uma paixão avassaladora que arrisca sua reputação e seu noivado. Sarah, no entanto, não é uma personalidade fácil de decifrar - e logo Charles percebe que embarcou em um relacionamento cujas consequências poderão ser desastrosas. Enquanto isso, em uma narrativa paralela, um estúdio de Hollywood está filmando a trajetória de Sarah e Charles - e seus intérpretes, Anna e Mike (novamente Streep e Irons) se descobrem tão apaixonados quanto seus personagens.

A divisão da história em dois tempos - com suas características próprias e personagens distintos - proporciona a Meryl Streep e Jeremy Irons (que voltariam a contracenar em "A casa dos espíritos", em 1994) a chance de mostrar sua versatilidade como intérpretes, dotando cada um de seus personagens com motivações e sentimentos próprios. Mesmo que a subtrama contemporânea não seja tão envolvente quanto o romance entre Sarah e Charles, a química entre os dois atores é brilhante, valorizada pela edição (indicada ao Oscar) e pela diferença de tons na fotografia de Freddie Francis - mais pesada no passado, mais clara no presente. O clima de opressão da vida de Sarah é também ilustrada pela trilha sonora inspirada e pela direção de arte, cinzenta e enevoada como sua alma. Dirigido com precisão pelo tcheco Karel Reisz, "A mulher do tenente francês" é um clássico romântico dos anos 80 - e mesmo que a própria Meryl Streep o contradiga, uma das atuações mais sutis e delicadas de sua carreira.

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