quarta-feira

O FILHO DA NOIVA

O FILHO DA NOIVA (El hijo de la novia, 2001, Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales, 123min) Direção: Juan José Campanella. Roteiro: Juan José Campanella, Fernando Castets. Fotografia: Daniel Shulman. Montagem: Camilo Antolini. Música: Ángel Illarramendi. Figurino: Cecilia Monti. Direção de arte/cenários: Mercedes Alfonsin/Pablo Racioppi. Produção executiva: Juan Pablo Galli, Juan Vera. Produção: Mariela Besuievksy, Fernando Blanco, Pablo Bossi, Gerardo Herrero, Jorge Estrada Mora. Estreia: 16/8/01

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro


Mais do que apenas o representante oficial da Argentina ao Oscar de melhor filme estrangeiro na cerimônia de 2002, “O filho da noiva” marca também a segunda colaboração entre o roteirista/cineasta Juan José Campanella e o ator Ricardo Darín – vindo logo em seguida de “O mesmo amor, a mesma chuva” (99) e imediatamente antes do (esse sim oscarizado) “O segredo dos seus olhos” (2009). Já empregando alguns dos ingredientes que conquistam o espectador de seus trabalhos – a delicadeza da relação entre os personagens, o senso de humor sutil, a crítica discreta à sociedade argentina e doses comedidas de emoção -, o filme tornou-se um sucesso incontestável de público e confirmou Darín como o mais popular astro de cinema de seu país, a cara de uma filmografia que, a despeito da crise econômica, demonstrou uma corajosa vitalidade e uma supreendente criatividade. Dando sequência à boa fase que também ofereceu aos cinéfilos o divertido “Nove rainhas” (2000), “O filho da noiva” é valorizado ainda pela presença luminosa de Norma Aleandro – mesmo em um papel pequeno, a grande dama argentina rouba a cena com uma atuação que estabelece o tom sentimental e familiar da trama criada por Campanella.

Darín, competente como sempre, vive Rafael Belvedere, um quarentão em crise em praticamente todos os setores da vida: separado da primeira mulher, sofre pressão da parte dela para ter maior contato com a filha adolescente; sua nova namorada, Naty (Natalia Verbeke) cobra um comprometimento maior em sua relação; o restaurante de sua família passa por momentos complicados devido à crise econômica do país; e, para completar o panorama, seu pai, Nino (Héctor Alterio) tem planos de comemorar as bodas de prata de seu casamento com uma cerimônia de renovação de votos – um desejo complicado pelo fato de sua esposa, Norma (Norma Aleandro), estar internada em uma clínica, sofrendo de Alzheimer. Um inesperado ataque cardíaco e o reencontro com Juan Carlos (Eduardo Blanco), um amigo de juventude, fazem com que Rafael reflita sobre sua vida e tente encontrar uma saída que o permita levar uma existência menos opressora e mais próxima de seus familiares.

Apesar de situar seu protagonista em meio a um furacão pessoal impiedoso, o roteiro de “O filho da noiva” evita pesar a mão no dramalhão, equilibrando, como é comum na filmografia de Juan José Campanella, momentos de extrema sensibilidade com outros dotados de um delicioso senso de humor. Mais uma vez Ricardo Darín se mostra o intérprete ideal para personagens criados pelo cineasta – seu rosto comum e de fácil empatia com o público traduz com perfeição o homem argentino médio, dividido entre trabalho e vida pessoal e lutando para atravessar suas crises pessoais sem perder a essência do que o faz um ser humano. E se seu carisma fortalece cada cena, ele encontra em Héctor Alterio e Norma Aleandro parceiros inestimáveis: sempre que a dupla de veteranos irrompe em cena, o filme se enche de beleza e emoção – principalmente em seus últimos momentos, quando Campanella finalmente resolve baixar a guarda e permitir que o público se entregue de vez às lágrimas.

Uma mistura agradável de drama familiar e comédia de costumes, “O filho da noiva” é, ao mesmo tempo, uma crítica sutil à sociedade argentina, soterrada por crises econômicas que empurram seus habitantes a sofríveis relações interpessoais enquanto luta pela sobrevivência. Rafael é um retrato vivo do país – alguém que, no fundo, precisa urgentemente reorganizar suas prioridades para reencontrar sua humanidade e autorrespeito. Juan José Campanella consegue o feito admirável de contar sua história de forma a nunca subestimar a emoção do espectador ao mesmo tempo em que o faz pensar sobre sua própria realidade social. Um belo filme – que perdeu o Oscar não para o franco-favorito “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, mas para o esloveno “Terra de ninguém”. Parecia que a Academia sabia que, por melhor que já parecesse, o cineasta conseguiria ser ainda melhor em um futuro próximo – que o diga “O segredo dos seus olhos”!

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