quinta-feira

ÍNTIMO & PESSOAL

ÍNTIMO & PESSOAL (Up close & personal, 1996, Touchstone Pictures/Cinergi Pictures Entertainment, 124min) Direção: Jon Avnet. Roteiro: Joan Didion, John Gregory Dunne, inspirado no livro de Alanna Nash. Fotografia: Karl Walter Lindenlaub. Montagem: Debra Neil-Fisher. Música: Thomas Newman. Figurino: Albert Wolsky. Direção de arte/cenários: Jeremy Conway/Doree Cooper. Produção executiva: John Foreman, Ed Hookstratten. Produção: Jon Avnet, Jordan Kerner, David Nicksay. Elenco: Robert Redford, Michelle Pfeiffer, Stockard Channing, Joe Mantegna, Kate Nelligan, Glenn Plummer, James Rebhorn, Scott Bryce. Estreia: 01/3/96

Indicado ao Oscar de Canção Original ("Because you loved me")



Primeiro foi o sucesso da Touchstone Pictures em conseguir os direitos do livro "Almost golden: The Jessica Savitch Story", escrito por Allana Nash. Depois, a expectativa em realizar um filme capaz de chamar a atenção do público e da crítica - além de faturar estatuetas douradas pelo caminho. E no fim, o desespero de perceber que o material que tinham em mãos era radicalmente o oposto do que se poderia esperar de uma produção com o selo Disney. É de imaginar o que um estúdio conhecido por seus filmes realizados para a família poderia pensar ao ler uma história sombria e trágica, com uma protagonista envolvida com álcool, drogas, maridos abusivos e até suicídio. Tendo isso em conta, é compreensível que a trajetória de Savitch - uma das primeiras mulheres a assumir o cargo de âncora em um telejornal nos EUA, no final dos anos 70 - tenha se metamorfoseado, então, em "Íntimo & pessoal", um açucarado drama romântico que em nada (ou quase nada) lembra sua origem dramática e que, por ironia, passou batido nas cerimônias de premiação e nem mesmo entusiasmou seu público-alvo. Um entretenimento apenas razoável, o filme de Jon Avnet (do bem-sucedido "Tomates verdes fritos", de 1991) só não é totalmente esquecível graças à beleza e ao carisma de sua estrela, Michelle Pfeiffer - que, por sua vez, deve ter sido a mais frustrada da história toda.

Recém saída de um parto e sem disposição para filmagens extensas e cansativas fora dos EUA, Pfeiffer recusou o papel principal de "Mistress of the sea" - um filme de ação sobre piratas do sexo feminino e que nunca chegou a ser realizado - para estrelar "Íntimo & pessoal" quando o filme de Avnet ainda era sobre Jessica Savitch e sua história, tragicamente encerrada em decorrência de um acidente de carro em outubro de 1983. Conhecida nacionalmente por seu trabalho como repórter e apresentadora, Savitch cobriu eventos importantes para o país, como as convenções dos partidos Democrata e Republicano de 1980 - mas era mais conhecida por seu carisma e pela naturalidade diante das câmeras (apesar de ter seu talento ser frequentemente questionado por detratores, que a consideravam apenas um rosto bonito). Poucas semanas antes de sua morte, em um incidente que muitos consideraram um forte indício de que ela poderia realmente estar abusando de drogas, Savitch fez uma desastrosa aparição ao vivo na NBC, parecendo completamente perdida e incoerente. Sua morte não encerrou as discussões sobre o assunto - mas sua vida pessoal era muito mais complexa do que todos pensavam, mas tudo que fazia dela tão especial em termos dramáticos foi simplesmente apagado do roteiro quando a Touchstone decidiu que, ao invés de explorar os demônios de sua protagonista, iria direcionar o foco do filme para uma história de amor que não tinha absolutamente nada a ver com a realidade.



Surgia assim, então, Sally Atwater, uma jovem e ambiciosa modelo que, disposta a tornar-se conhecida como repórter televisiva, abandona seu estado natal, a Pensilvânia, e parte para Miami. Contratada como assistente, ela não demora a demonstrar garra o bastante para ser escolhida como a "moça do tempo" da NBC - e, em seguida, passar a fazer pequenas reportagens para a emissora. Com o apoio do experiente Warren Justice (Robert Redford), Sally (já devidamente rebatizada como Tally) aos poucos começa a subir mais degraus na carreira, e os dois iniciam um romance maduro e honesto. O futuro do relacionamento, porém, é posto à prova quando Tally se torna um rosto conhecido no país inteiro - e Justice se vê diante de uma séria crise que lhe coloca em posição inferior no campo profissional. Enquanto Tally ascende cada vez mais, ele busca uma maneira de continuar trabalhando e encontrando desafios que o façam sentir-se vivo e importante.

Uma espécie de "Nasce uma estrela" dentro do jornalismo, "Íntimo & pessoal" é uma produção que não atinge todos os seus potenciais. Nem de longe perto do brilhantismo de seu "Tomates verdes fritos", Jon Avnet entrega um trabalho apenas correto, ainda que muitas vezes de uma simplicidade narrativa excessiva. Robert Redford não tem muito o que fazer na pele de Warren Justice, um personagem sem grande complexidade, e até mesmo Michelle Pfeiffer, apesar do carisma e do talento, não consegue ultrapassar os limites de uma protagonista retratada com insegurança pelo roteiro: na primeira metade do filme, Tally é uma personagem de comédia romântica, com direito até mesmo a cenas bem-humoradas (que nem sempre funcionam); e na reta final assume ares de heroína trágica, com momentos lacrimosos sublinhados pela bela "Because you loved me", na voz de Céline Dion. Essa quase esquizofrenia do filme é que dificulta à plateia envolver-se totalmente em sua história - pode até emocionar aos mais sensíveis, mas, perto do que poderia ter sido (especialmente com todos os dramas vividos por Savitch, sua inspiração original), é apenas um drama derivativo e previsível. Fácil de assistir, mas igualmente fácil de esquecer.

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