segunda-feira

W.

W. (W., 2008, Lionsgate, 129min) Direção: Oliver Stone. Stanley Weiser. Fotografia: Phedon Papamichael. Montagem: Alexis Chavez, Joe Hutsching, Julie Monroe. Música: Paul Cantelon. Figurino: Direção de arte/cenários: Derek R. Hill/Mel Cooper. Produção executiva: Teresa Cheung, Elliot Ferwerda, Peter Graves, Johnny Honn, Christopher Mapp, Tom Ortenberg, Thomas Stertchi, Matthew Street, David Whealey, Albert Yeung. Produção: Bill Block, Moritz Borman, Paul Hanson, Eric Kopeloff. Elenco: Josh Brolin, James Cromwell, Richard Dreyfuss, Elizabeth Banks, Ellen Burstyn, Scott Glenn, Jeffrey Wright, Thandie Newton, Toby Jones, Jason Ritter, Noah Whyle, Ioan Gruffudd, Jesse Bradford. Elenco: 16/8/08 (Festival de Austin)


Levando-se em conta as simpatias democratas de Oliver Stone e sua falta de meias-palavras quando o assunto é política, não deixa de ser surpreendente o quanto “W.”, sua cinebiografia do presidente norte-americano George W. Bush, é relativamente suave e quase benevolente em relação ao protagonista. Tudo bem que o próprio cineasta já havia relutado em contar sua trajetória tão prematuramente – em 2004 ele mesmo declarou que ainda era muito cedo para perspectivas históricas sobre o então candidato à reeleição -, mas nada fazia prever que seu filme fugiria de maiores polêmicas, principalmente quando se trata do autor de obras tão inflamáveis quanto “JFK” (91) e “Assassinos por natureza” (94), que despertaram furor na crítica e no público. Contado de forma a não utilizar os artifícios narrativos comuns à filmografia de Stone, “W.” é uma biografia convencional, acadêmica e, por vezes, bastante tediosa. Nem de longe lembra os melhores momentos do diretor – ainda que conte com uma atuação surpreendente de Josh Brolin no papel central.

Substituindo Christian Bale – que abandonou o projeto pouco antes do começo das filmagens -, Brolin aproveitou-se de uma ótima fase de sua então renascida carreira para ser escolhido por Stone para viver Bush. Vindo dos sucessos de crítica “O gânster” e “Onde os fracos não tem vez” (ambos de 2007), o outrora astro juvenil demonstra segurança ímpar em dar vida a um personagem ambíguo, complexo e pouco carismático, mas que assumiu importância absoluta no comando dos EUA por dois mandatos consecutivos – e protagonizou algumas das passagens mais sombrias da história do país, como o atentado às Torres Gêmeas e a guerra a Saddam Hussein. Não necessariamente parecido fisicamente com Bush, o ator incorpora o personagem em sotaque, expressão corporal e maneirismos sutis – e brilha sempre que o roteiro lhe permite. Tem mais sorte que o restante do (vasto e conhecido) elenco, que parece estar em cena apenas como meros figurantes: apenas James Cromwell como George Bush pai tem chances de mostrar serviço, enquanto nomes como Ellen Burstyn (como Barbara Bush), Thandie Newton (Condoleeza Rice) e Richard Dreyfuss (o vice-presidente Dick Cheney) soam perdidos em meio à edição vai-e-volta (único resquício do velho Oliver Stone): Dreyfuss, inclusive, teve sérios problemas com o cineasta e nenhum deles parece disposto a repetir a parceria – talvez a primeira opção para o papel, Robert Duvall, fosse menos complicada para a produção.



Se em “Nixon” (95) o foco de Oliver Stone foi, como se poderia esperar, o escândalo Watergate (que servia como ponto de convergência para uma narrativa fora de ordem cronológica), em “W.” o cineasta escolhe como ponto de partida a crise estabelecida pelo trauma pós-11 de setembro, quando Bush se vê obrigado a lidar com a ameaça terrorista em pleno solo pátrio – e responder à altura de um líder de sua importância. O presidente precisa tomar a atitude certa, não apenas para demonstrar seu controle sobre a situação, mas também para conquistar o que mais lhe importa na vida: o aplauso de seu próprio pai. É essa odisseia de Bush – a busca pela aprovação e respeito paterno – a base do roteiro de Stanley Weiser: mais do que esmiuçar os bastidores da política americana, o filme de Oliver Stone investiga (sem maior profundidade, mas com respeito e sensibilidade quase inesperadas) a carência de seu protagonista e sua necessidade quase doentia de provar-se capaz aos olhos do pai. Por ele, o jovem Bush é capaz de abandonar a vida no Texas e partir rumo a Washington com a esposa, Laura (Elizabeth Banks), para ajudar em sua campanha para presidente – mas nem ele é motivo suficiente para demover o ambicioso político a desistir da candidatura a governador, alguns anos mais tarde. Essa dubiedade entre a vontade de agradar ao pai e a ambição de ascender ao poder é um dos pontos mais interessantes da trama, e é sublinhada por algumas belas tomadas de Bush flertando com seu sonho de tornar-se jogador de beisebol. Infelizmente o roteiro não se aprofunda nessa questão e nem tampouco em sua relação com Jeb (Jason Ritter), seu irmão caçula e principal responsável por sua imagem quase patética diante do pai. Quando juntos em cena, Josh Brolin e James Cromwell estão impecáveis, mas Stone perde a oportunidade de explorar com mais ênfase a relação entre os dois, sugerindo bem mais do que mostrando.

É impossível negar que “W.” é um produto com tudo de melhor que Hollywood pode oferecer: da fotografia inspirada de Phedon Papamichael à trilha sonora de Paul Cantelon, tudo funciona como deveria, todas as peças estão no devido lugar. O problema, para choque de todos, é justamente o que poderia ser maior trunfo: a direção de Oliver Stone. A quilômetros de distância de seus momentos mais provocativos, Stone parece estar no piloto automático, sem a contundência habitual ou até mesmo a ferocidade em questionar uma das personalidades mais controversas de sua geração. Não à toa, o filme passou em brancas nuvens tanto nas bilheterias quanto nas cerimônias de premiação, uma situação pouco comum na carreira do cineasta. Fica a impressão de um filme que tinha tudo para marcar época, mas que teve medo de explorar todas a sua potencialidade. Ainda que não seja ruim, é muito pouco perto do talento de seu realizador.

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