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HOFFA: UM HOMEM, UMA LENDA

HOFFA: UM HOMEM, UMA LENDA (Hoffa, 1992, 20th Century Fox, 140min) Direção: Danny De Vito. Roteiro: David Mamet. Fotografia: Stephen H. Burum. Montagem: Lynzee Klingman, Ronald Roose. Música: David Newman. Figurino: Deborah Lynn Scott. Direção de arte/cenários: Ida Random/Brian Savegar. Produção executiva: Joseph Isgro. Produção: Caldecot Chubb, Danny De Vito, Edward R. Pressman. Elenco: Jack Nicholson, Danny De Vito, Armand Assante, J.T. Walsh, John C. Reilly, Robert Prosky, Frank Whaley, Bruno Kirby, Kevin Anderson, Paul Guilfoyle. Estreia: 25/12/92

2 indicações ao Oscar: Fotografia, Maquiagem

Para o público brasileiro, o nome de Jimmy Hoffa pode não significar muita coisa, mas para os norte-americanos sua importância é fundamental. Líder do poderoso sindicato dos caminhoneiros entre 1958 e 1971, ele bateu de frente com o então senador Robert Kennedy quando foi acusado de ligações com o crime organizado, foi condenado à prisão e até hoje seu desaparecimento, em 1975, é considerado um dos maiores mistérios policiais dos EUA. Motivo tanto de admiração quanto de desconfiança por suas intenções e métodos pouco ortodoxos, Hoffa acabou sendo tema do filme mais sério do ator/diretor Danny De Vito - que fracassou nas bilheterias e foi praticamente ignorado nas cerimônias de premiação (assim como concorreu ao Golden Globe de melhor ator em drama também recebeu indicações ao Framboesa de Ouro de melhor ator e diretor). Retratado com respeito e sobriedade por De Vito, "Hoffa: um homem, uma lenda" se beneficia do roteiro de David Mamet, da atuação gigantesca de Jack Nicholson e de sua suntuosa fotografia (indicada ao Oscar) para contar uma história que, a despeito de não ser de muito interesse fora dos EUA, é contada de forma correta e inteligente.

Um projeto inicialmente cobiçado por Oliver Stone e Barry Levinson, "Hoffa" custou cerca de 35 milhões de dólares à 20th Century Fox e rendeu pouco mais de 20 milhões no mercado doméstico - o que não chega a ser uma surpresa, haja visto a rejeição do público a filmes com temática política.  A maior surpresa vem do fato de ser dirigido por Danny De Vito, até então o nome por trás de duas comédias de humor negro, "Joga a mamãe do trem" (87) e "A guerra dos Roses" (89): muito mais ambicioso e sério do que em suas incursões anteriores na direção, De Vito demonstra segurança ímpar em desenvolver uma trama repleta de idas e vindas temporais e detalhes a respeito de política americana sem perder o ritmo - ainda que o roteiro de Mamet demore um pouco mais do que deveria para finalmente envolver o espectador e exija da plateia um prévio conhecimento de seus personagens. Com uma maquiagem indicada ao Oscar para transformar-lhe no protagonista, Jack Nicholson está em um grande momento da carreira, engolindo cada cena com os discursos inflamados do sindicalista - seus confrontos com Kennedy (Kevin Anderson) são o ponto alto do filme, oferecendo ao público a dramatização quase literal de um dos duelos políticos mais tensos dos anos 60.





Por incrível que pareça, é o roteiro de David Mamet, um dos mais respeitados dramaturgos americanos de sua geração, um dos problemas de "Hoffa": quando o filme começa, demora a deixar claro para os neófitos quem é o protagonista, quais suas intenções e as circunstâncias de seu relacionamento com o caminhoneiro Bobby Ciaro (Danny De Vito), que acaba por se tornar seu homem de confiança com o passar dos anos. Intercalando passado e presente - quando Hoffa e Ciaro estão em um restaurante à beira da estrada esperando por um encontro de negócios e relembrando sua história -, o roteiro especula sobre o destino do personagem central com um desfecho cru e violento que contrasta com o tom sóbrio e elegante adotado até então. Discordando da versão oficial divulgada pelo FBI, De Vito e Mamet criam um clímax dramaticamente mais envolvente, que surpreende pelo inesperado e pela direção competente. Infelizmente o filme se estende desnecessariamente por duas horas e meia - uma edição mais enxuta, especialmente na primeira parte do filme, faria muito bem ao resultado final e evitaria alguns momentos menos interessantes.

A seu favor, "Hoffa: um homem, uma lenda" tem alguns trunfos redentores: a fotografia de Stephen H. Burum (que perdeu o Oscar para "Nada é para sempre", de Robert Redford) é impecável, em cenas construídas milimetricamente para encher os olhos do espectador; a reconstituição de época também é extremosa e a trilha sonora de Thomas Newman é discreta e pouco invasiva, ajudando a estabelecer o clima de tensão que perpassa todo o filme. No entanto, é a presença de Jack Nicholson que torna a obra de Danny De Vito especial: não à toa, o veterano ator considera Jimmy Hoffa um de seus melhores personagens e uma de suas melhores interpretações. No final das contas, mesmo que tenha seus defeitos de ritmo e seja de interesse restrito, "Hoffa" é um filme acima da média sobre uma das personalidades fundamentais da política norte-americana do século XX.

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