quinta-feira

AMADEUS


AMADEUS (Amadeus, 1984, The Saul Zaentz Company, 160min) Direção: Milos Forman. Roteiro: Peter Shaffer, peça teatral homônima do mesmo autor. Fotografia: Miroslav Ondricek. Montagem: Michael Chandler, Nena Danevic. Figurino: Theodor Pistek. Direção de arte/cenários: Patrizia Von Brandenstein/Karel Cerny. Produção executiva: Michael Hausman, Bertil Ohlsson. Produção: Saul Zaentz. Elenco: Tom Hulce, F. Murray Abraham, Elizabeth Berridge, Simon Callow, Jeffrey Jones, Cynthia Nixon. Estreia: 06/9/84

11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Milos Forman), Ator (F. Murray Abraham, Tom Hulce), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Figurino, Direção de Arte, Som, Maquiagem
Vencedor de 8 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Milos Forman), Ator (F. Murray Abraham), Roteiro Adaptado, Figurino, Direção de Arte, Som, Maquiagem
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Milos Forman), Ator/Drama (F. Murray Abraham), Roteiro


"Obra-prima" não é um adjetivo que foi criado para ser usado levianamente. Mas não existe definição melhor para o que o tcheco Milos Forman conseguiu fazer com "Amadeus", sua adaptação da peça teatral de Peter Schaffer que foi o merecidíssimo vencedor de 8 Oscar em 1984. Poucas vezes o cinema conseguiu unir com tanta qualidade sucesso de crítica e comercial falando de um assunto teoricamente hermético: música clássica. E talvez a chave de seu êxito seja justamente o fato de que, apesar de falar de música clássica sim, ele centra-se principalmente na relação entre o genial compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart e seu arqui-rival, o italiano Salieri. Ao focar sua atenção em tão ricos personagens, Forman e cia se dão ao luxo de utilizar a obra inigualável do músico apenas como pano de fundo - um senhor pano de fundo, que ilustra com maestria a fogueira de vaidades retratada no roteiro.

"Amadeus" é narrado em flashback através da voz de Salieri, que, envelhecido e internado em um hospital psiquiátrico depois de uma tentativa de suicídio, conta a um padre sua relação de admiração/inveja com Mozart. Considerando que o músico austríaco foi escolhido por Deus como seu instrumento na Terra a despeito de seus modos vulgares e da dissipação de sua vida pessoal, ele utiliza de sarcasmo e amargura para mostrar a forma como Mozart tornou-se o compositor mais respeitado e popular de sua época. Surpreendentemente, ele assume inclusive uma parcela de responsabilidade em sua morte.


Se fosse necessário escolher apenas uma das inúmeras qualidades do filme de Forman - e é inegável que ele tem uma quantidade considerável delas - provavelmente a grande vitória seria da atuação de F. Murray Abraham como Salieri. Apesar de defender um papel ingrato e tratado com certo maniqueísmo pelo roteiro (que se dedica a retratá-lo como invejoso e sem o talento que o verdadeiro compositor possuía), Abraham se agiganta a tal ponto de relegar a personagem-título a um quase segundo plano. Na verdade, os reais protagonistas de "Amadeus" são Salieri e seus sentimentos negativos, que impulsionam a narrativa do dramaturgo Peter Shaffer em direção a mais do que simplesmente uma cinebiografia. "Amadeus" é, além de uma sublime história de genialidade, o retrato, em cores vibrantes (e até mesmo em um noir extraordinário), de uma época e uma sociedade.

Fotografado com maestria e utilizando-se apenas de luz natural, é um filme visualmente deslumbrante, capaz de deixar de queixo caído até o mais indiferente espectador. As sequências que apresentam as óperas de Mozart, por exemplo, são exuberantes, viscerais e emocionantes, saindo do espectro limitatório a que sua música erroneamente é imposto. Milos Forman fez questão de filmar "Don Giovanni", por exemplo, no mesmo palco onde a ópera estreou, e esses detalhes acabam sendo a alma de "Amadeus" - só para constar: todos os estudiosos de música afirmam que todos os movimentos musicais apresentados no filme são exatos e sincronizados, um toque de perfeccionismo que, não apenas respeitoso com o público, é um toque de gênio a mais, oportunizando à audiência um espetáculo completo e verdadeiro. Um espetáculo, diga-se de passagem, que encontra em seus dois intérpretes centrais a base para seu impressionante êxito.

Se Murray Abraham hipnotiza com sua atuação impecável, Tom Hulce entrega uma interpretação irreverente e moderna de Mozart, retratado no filme como um homem dono de uma quase imaturidade e de um prazer de viver além de qualquer sucesso e fama. Apesar de não encontrar eco nas descrições do compositor feitas por historiadores, a gargalhada insana do protagonista acabou se tornando a marca registrada do filme, o ponto pelo qual ele é mais frequentemente lembrado. No entanto, os fãs de bom cinema e boa música jamais conseguirão esquecer a majestade de "Amadeus", que merece, mais do que qualquer filme que se pretenda erudito, a classificação de obra-prima!

Um comentário:

Rodrigo Mendes disse...

Um filme sem nenhum defeito.

Milos Forman em grande forma (Estranho No Ninho, Hair, O Mundo de Andy) igualmente obras magníficas!

Você gostou do filme dele sobre o Goya? Porque eu não curti muito e achei uma pena!

Abs,
Rodrigo

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