quinta-feira

ZELIG



ZELIG (Zelig, 1983, Orion Pictures, 79min) Direção e roteiro: Woody Allen. Fotografia: Gordon Willis. Montagem: Susan E. Morse. Música: Dick Hyman. Figurino: Santo Loquasto. Direção de arte/cenários: Mel Bourne/Les Bloom, Janet Rosenbloom. Casting: Juliet Taylor. Produção executiva: Charles H. Joffe, Jack Rollins. Produção: Robert Greenhut. Elenco: Woody Allen, Mia Farrow, Patrick Horgan, John Buckwalter. Estreia: 15/7/83

2 indicações ao Oscar: Fotografia, Figurino


Os detratores de Woody Allen, que o acusam de ser repetitivo e sem criatividade provavelmente nunca assistiram a "Zelig", uma de suas mais sensacionais obras. Ao contar a história de seu protagonista através de um documentário fake mas absolutamente crível em formato e linguagem, ele adiantou em dez anos a tecnologia que faria a glória de Robert Zemeckis em "Forrest Gump" e de quebra mostrou que é muito mais do que um cineasta limitado ao circuito do humor judaico-intelectual-neurótico com o qual foi rotulado por parte da crítica - e até mesmo por alguns fãs.

O próprio Allen interpreta Leonard Zelig, um homem aparente comum, que, a partir do final dos anos 20, torna-se mania no mundo inteiro devido à sua condição médica: por algum motivo desconhecido, ele é capaz de metamorfosear-se em qualquer tipo de pessoa que esteja por perto. Ao lado de burgueses, ele é um deles. Perto de um obeso, torna-se obeso, e assim por diante. Intrigada com essa surpreendente novidade, a psiquiatra Eudora Fletcher (Mia Farrow) resolve tratá-lo e os dois acabam se apaixonando.

"Zelig" é, sem sombra de dúvida, um dos filmes mais criativos realizados em Hollywood nos anos 80. Irônico ao extremo e ao mesmo tempo carinhoso com seus protagonistas, o roteiro de Allen brinca com tudo que tem direito, sem nunca apelar para o riso escancarado: seu filme faz uma engraçada homenagem aos documentários, aos anos 20 de Fitzgerald e do charleston, ao nascimento da terapia, aos exageros da mídia e debocha descaradamente do nazismo e da busca por fama fácil. Além de tudo isso, ainda encontra espaço para questionar até que ponto os seres humanos podem chegar em sua procura por aceitação.


Se não bastasse seu roteiro espetacular, "Zelig" ainda conta com uma parte técnica além do excepcional. A fotografia de Gordon Willis (envelhecida propositalmente para dar o efeito de antiguidade) e a reconstituição de época são primorosas - não à toa, tanto Willis quanto o figurinista Santo Loquasto foram indicados ao Oscar por seus trabalhos. E é genial a maneira com que o diretor mistura seus protagonistas a celebridades verdadeiras (Charles Chaplin, por exemplo) e cenas de arquivo da época retratada, sem nunca perder o seu principal foco: a hilariante mas nunca pouco comovente história de Zelig e seu problema de auto-ajuste à sociedade.

"Zelig" é o perfeito exemplo de filme que merece ser visto para que se descubra suas vastas qualidades. Tudo que se disser a respeito dele sempre será incompleto, pois é, talvez, o trabalho de Woody Allen mais repleto de nuances e detalhes visuais e contextuais. Uma obra-prima irretocável!

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