sexta-feira

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN (Brokeback Mountain, 2005, Focus Features, 134min) Direção: Ang Lee. Roteiro: Larry McMurtry, Diana Ossana, conto de Anne Proulx. Fotografia: Rodrigo Prieto. Montagem: Geraldine Peroni, Dylan Tichenor. Música: Gustavo Santaolalla. Figurino: Marit Allen. Direção de arte/cenários: Judy Becker/Patricia Cuccia, Catherine Davis. Produção executiva: Michael Hausman, Larry McMurtry, William Pohlad. Produção: Diana Ossana, James Schamus. Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway, Randy Quaid, Linda Cardelini, Anna Faris, David Harbour, Kate Mara. Estreia: 02/9/05 (Festival de Veneza)

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Ang Lee), Ator (Heath Ledger), Ator Coadjuvante (Jake Gyllenhaal), Atriz Coadjuvante (Michelle Williams), Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Sonora Original
Vencedor de 3 Oscar: Diretor (Ang Lee), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Ang Lee), Roteiro, Canção ("A love that will never grow old")
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza

Para meu Yodinha....

A lista de prêmios que "O segredo de Brokeback Mountain" arrebatou em todo e qualquer segmento crítico na temporada 2006 só deixa ainda mais explícito o que qualquer fã de cinema com um mínimo de discernimento enxerga de longe: não há outra explicação para que a obra-prima de Ang Lee não tenha levado também o Oscar de Melhor Filme senão puro e simples preconceito. Seria demais pedir que os veteranos membros da Academia de Hollywood - tão arraigados a valores antigos e defasados - abraçassem a causa de um filme que, mesmo falando do mais nobre dos sentimentos (o amor), o faz colocando como protagonistas não um casal considerado "apropriado" ao consumo de massa que não ameaça a tradição e sim dois homens viris, fortes e cientes de sua masculinidade que, mesmo assim, não resistem ao apelo de seus desejos e de sua paixão. Como resultado, a estatueta de melhor filme do ano foi parar nas mãos do medíocre "Crash, no limite" - que brincava de ser corajoso com sua temática anti-racismo e provavelmente virará apenas nota de rodapé da história do cinema com seu amontoado de clichês.

Ao contrário disso, "O segredo de Brokeback Mountain" é cinema em estado puro, é poesia em celulóide, é drama tão real como a vida. Independente da orientação sexual de seu espectador, é difícil não se deixar emocionar com a história do conto da escritora Anne Proulx, publicado em 1997 pela revista New Yorker. Depois de despertar o interesse de cineastas como Joel Schumacher e Gus Van Sant - ambos homossexuais assumidos, o que talvez desse um tom mais panfletário e menos sutil à narrativa - o roteiro finalmente chegou às mãos de Ang Lee, conhecido por injetar humanismo mesmo em projetos comerciais como a adaptação de "Hulk" para os cinemas (cujo fracasso talvez tenha vindo justamente dessa tendência ao drama pessoal ao invés do espetáculo). Autor de obras consagradas pela critica como "Razão e sensibilidade", "Tempestade de gelo" e "O tigre e o dragão" - que, sem exceção, tinham na força das personagens seu maior destaque - Lee deu às palavras de Proulx a profundidade que somente seu talento em vislumbrar a alma humana poderia conseguir. E para isso teve também a sorte de contar com um elenco nunca aquém de espetacular.



Vindo de filmes que oscilavam entre o bobo - "10 coisas que eu odeio em você" - e o pretensamente épico - "O patriota" - o australiano Heath Ledger deu um salto fenomenal em sua carreira na pele de Ennis Del Mar, que lhe rendeu elogios rasgados e uma indicação ao Oscar de melhor ator. Seu trabalho é intenso, forte e perturbador, como um homem que luta contra os próprios instintos por não ter a capacidade de lutar contra si mesmo - a ponto de usar da violência física como arma de autodestruição. Como Jack Twist, o jovem Jake Gyllenhaal também atingiu o auge de sua carreira - que incluía o sombrio "Donnie Darko" e o elogiado "Soldado anônimo": seu trabalho como o lado romântico e idealista do casal é delicado na medida certa, nunca escapando para o afetado ou o exagerado. Sua indicação ao Oscar na categoria de coadjuvante, porém, é questionável, uma vez que é tão protagonista quanto Ledger. E se os protagonistas são excepcionais, o mesmo pode-se dizer de suas companheiras de cena: Anne Hathaway e Michelle Williams nunca estiveram tão bem quanto em suas interpretações das esposas relegadas a um melancólico segundo plano na vida de seus maridos. Williams em especial merece aplausos por suas cenas encharcadas de tensão e tristeza - é antológico o momento em que flagra o apaixonado beijo entre seu marido e o melhor amigo.

Fotografado magistralmente e ilustrado com uma trilha sonora de deixar qualquer um arrepiado, "O segredo de Brokeback Mountain" é um filme raro, daqueles que só acontecem quando todas as estrelas estão alinhadas. Não fala apenas de um casal gay: fala de solidão, de tolerância, de preconceito, de autoaceitação. Mas fala principalmente sobre amor, mesmo que ele traga dor e angústia. É provavelmente a mais importante história de amor da década. Quem precisa de um Oscar?

3 comentários:

Paulo Alt disse...

Owwn. Não tinha como começar a falar se não fosse assim. Zukm.t

O filme é tão grandioso e especial... Não sei mesmo o motivo de ter ido pra Crash... sem sal... que não chega no propósito, metido a ousado mas com medo de ousar.. e acaba ficando irrelevante.

A cada ano vejo umas 4 ou 5 vezes o filme. E faço dele uma grande sessão. Porque ele é especial pra mim.

E adorei o Yodinha.
beijo

Aline disse...

mais uma vez faço minhas as suas palavras Clenio...esse filme ficou comigo durante muito tempo e de certa forma me deu força para reorganizar minha vida, digamos assim.
Além do amor, eu acho que outro sentimento muito importante que ele aborda é o medo, nossos próprios medos, que nos impedem não apenas de ser feliz, mas viver plenamente.
INESQUECIVEL E INQUESTIONÁVEL.

Anônimo disse...

Ang Lee é um gênio e o filme é ótimo!

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