BROOKLYN (Brooklyn, 2015, BBC Films/Wildgaze Films, 117min) Direção: John Crowley. Roteiro: Nick Hornby, romance de Colm Tóibín. Fotografia: Yves Bélanger. Montagem: Jake Roberts. Música: Michael Brook. Figurino: Odile Dicks-Mireaux. Direção de arte/cenários: François Séguin/Jenny Oman, Louise Tremblay. Produção executiva: Hussain Amarshi, Rory Gilmartin, Zygi Kamasa, Christine Langan, Alan Moloney, Beth Pattinson, Thorsten Schumacher. Produção: Finola Dwyer, Amanda Posey. Elenco: Saoirse Ronan, Julie Walters, Jim Broadbent, Dohmnall Gleeson, Emory Cohen. Estreia: 26/01/25 (Festival de Sundance)
3 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz (Saoirse Ronan), Roteiro Adaptado
Delicadeza. Simplicidade. Pureza. Com esses três elementos em mão - mais o belo roteiro do escritor Nick Hornby, adaptado do romance de Colm Tóibín - o cineasta John Crowley conseguiu em seu quarto longa-metragem o que muitos diretores mais experientes jamais alcançaram: uma indicação ao Oscar de melhor filme. Desde sua estreia e ovação no Festival de Sundance, em janeiro de 2015, o singelo "Brooklyn" passou a colecionar prêmios da crítica e de festivais, cativados por sua extrema facilidade em transmitir uma imensa gama de sentimentos sem apelar para o dramalhão. Ao contar uma história de autodescoberta e amadurecimento, o filme, estrelado pela ótima Saoirse Ronan - a adolescente inconsequente de "Desejo e reparação" (2007) - é um oásis de inteligência e sutileza em uma época na qual orçamentos gigantescos e desnecessárias continuações mandam e desmandam nas bilheterias. Não por acaso, disputou a estatueta principal com "Mad Max: estrada da fúria", de George Miller e "Perdido em Marte", de Ridley Scott - dois sucessos comerciais que, apesar das inúmeras qualidades, passam longe de qualquer tipo de delicadeza ou despretensão.
A protagonista do filme - verossímil, real, falível e por isso mesmo apaixonante - é Eilis, uma jovem irlandesa que aproveita a chance de viajar para a Nova York pós-guerra (o ano em que a ação começa é 1952) para tentar uma vida melhor, mais próspera e promissora em termos profissionais. Amparada pela ajuda do Padre Flood (Jim Broadbent) e hospedada na pensão da atenciosa Sra. Kehoe (Julie Walters), ela começa a trabalhar em uma loja de departamentos, enquanto estuda para uma carreira como escriturária. Sua vida pacata e repleta de saudades de casa começa a mudar quando ela conhece Tony (Emory Cohen), um descendente de italianos que trabalha como encanador e que se apaixona perdidamente por ela. O romance faz com que Eilis finalmente comece a sentir-se em casa em um país estranho, mas um acontecimento inesperado a leva de volta para a Irlanda, onde ela conhece outro rapaz, Jim (Dohmnall Gleeson), o que a faz questionar seus sentimentos e suas ambições.
Contando sua história sem atropelos e sem grandes reviravoltas, "Brooklyn" conquista o espectador aos poucos, conforme vai apresentando todas as suas qualidades, com um ritmo próprio e suave. Coerente com a proposta do diretor em apostar no minimalismo emocional e visual, a reconstituição de época é detalhista sem jamais chamar a atenção para si em detrimento da trama ou dos personagens - o figurino é sensacional - e a fotografia de Yves Bélanger explora com sensibilidade a beleza dos olhos de sua atriz central, expressivos a ponto de revelarem sozinhos boa parte do turbilhão de sentimentos que a assolam. Para isso é essencial o talento superlativo de Saoirse Ronan, que consegue destacar-se mesmo sem apoiar-se em cenas grandiloquentes ou lacrimosas: quando Eilis sofre, sua angústia é compreensível e verdadeira; quando está feliz, seu brilho é contagiante e sincero. E quando toma atitudes talvez duvidosas, é impossível não perdoá-la e torcer para sua redenção. Com desenvoltura de veterana, Ronan fez por merecer sua indicação ao Oscar: ela consegue fugir de todas as armadilhas do roteiro com extrema segurança, e conquista a empatia do público justamente por assumir para si a responsabilidade de tornar inesquecível uma trama que, a despeito de seu desenvolvimento poético e fluido, não apresenta nenhuma novidade. E talvez seja justamente essa a chave para seu sucesso.
Tomando poucas liberdades em relação ao romance de Tóibín, o roteiro de Nick Hornby - que perdeu o Oscar para o chato "A grande aposta" - mantém seu tom lírico e nostálgico, calcado mais nos personagens do que nas situações dramáticas expostas durante a narrativa. Inteligente e com um sutil senso de humor, o desenvolvimento da ação se concentra em Eilis e naqueles que a rodeiam, desde as colegas de pensão - que para surpresa do espectador NÃO se tornam inimigas da protagonista como acontece normalmente em filmes do gênero - até sua família, cerne de suas preocupações e saudades. O triângulo amoroso formado no ato final do filme também soa orgânico, especialmente devido à química entre Ronan e seus dois colegas de cena, principalmente o encantador Emory Cohen - revelado no seriado "Smash" - na pele de um rapaz pouco instruído que ganha o coração não apenas da personagem principal, mas também da plateia. O romance pueril, ingênuo e sincero dos personagens contrasta com a incipiente relação da garota com Jim, centrado em um futuro mais prático e realista - uma mudança de perspectiva facilmente constatável na palheta de cores utilizada pela fotografia de Bélanger e pelos cenários e figurinos, que vão se tornando mais coloridos conforme a percepção de mundo de Eilis vai mudando. Esse cuidado a pequenos detalhes - quase invisíveis em um primeiro olhar - é que impressiona e seduz em "Brooklyn", um pequeno grande filme capaz de deixar qualquer um com um enorme sorriso estampado no rosto.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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