quarta-feira

ESCRITORES DA LIBERDADE

ESCRITORES DA LIBERDADE (Freedom writers, 2007, Paramount Pictures, 123min) Direção: Richard LaGravanese. Roteiro: Richard LaGravenese, livro de Erin Grunwell e Escritores da Liberdade. Fotografia: Jim Denault. Montagem: David Moritz. Música: Mark Isham, Will.i.am. Figurino: Cindy Evans. Direção de arte/cenários: Laurence Bennett/Linda Lee Sutton. Produção executiva: Tracey Durning, Dan Levine, Nan Morales, Hilary Swank. Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Imelda Staunton, April Lee Hernandez, Jaclyn Ngan, Deance Wyatt. Estreia: 05/01/2007

Mais conhecido como roteirista - de alguns filmes de sucesso, como "As pontes de Madison" (1995) e "O pescador de ilusões" (1991), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar -, Richard LaGravenese ocasionalmente se aventura na cadeira de diretor. Sendo um homem das letras, então, não é difícil compreender por que ele escolheu o projeto de "Escritores da liberdade", seu segundo longa-metragem: baseado em uma história real, o filme fala sobre o poder da escrita mesmo em situações adversas e enfatiza a luta incansável de uma professora para abrir os horizontes de um grupo de alunos que conhecem mais a violência do que a literatura. Mesmo escorado em alguns clichês - e com uma semelhança bastante perceptível com "Mentes perigosas", estrelado por Michelle Pfeiffer em 1996 -, seu filme conquista justamente por abraçar suas referências e explorá-las de maneira eficaz, sem ousadias narrativas mas com respeito a seus personagens e sua história. "Escritores da liberdade" não é um grande filme - por vezes soa como um filme para a televisão - e tampouco causou barulho nas bilheterias e nas cerimônias de premiação da temporada, mas está bem acima de outras produções estreladas por Hilary Swank depois de seu segundo Oscar, como "Dália negra" (dirigida pelo veterano Brian DePalma) e "Colheita maldita", lançado poucos meses depois.

Também produtora executiva do filme e com um salário reduzido para caber no orçamento, Swank interpreta Erin Grunwell, uma professa idealista e inexperiente que escolhe, para o início de sua carreira, uma escola de Long Beach longe de seus dias de glória e atormentada por alunos cujo principal interesse é chegarem vivos ao fim do dia ou escapar da polícia e dos tiroteios frequentes em seus bairros. Logo de cara Erin encontra dificuldades com a diretora da escola, Margaret Campbell (Imelda Staunton), que nã vê com bons olhos o programa que permitiu o ingresso de tais estudantes. Arriscado seu casamento com Scott (Patrick Dempsey) e comprando briga até mesmo com alguns colegas - já acostumados com o ambiente tenso do local -, a nova professora é também rechaçada pelos próprios alunos, que não entendem como os livros do currículo podem ajudar em seu cotidiano presente e futuro. Com tenacidade e coragem, Erin começa a conquistar a turma quando percebe que precisa aproximar suas teoria do cotidiano. A chave é "O diário de Anne Frank", que abre as mentes dos jovens, incentivando-os a começar um diário onde podem escrever seus pensamentos e seus conflitos.


A trama de "Escritores da liberdade" está longe de ser inovadora, e LaGravenese assume sem pudor, desde as primeiras cenas, que não pretende revolucionar o gênero. Estabelece sua heroína, apresenta os percalços com os quais ela fatalmente irá esbarrar, mostra alguns vislumbres de sua vida pessoal e, como era de se esperar, enfatiza a relação problemática com os estudantes - essa sim o foco principal do filme. A princípio hostilizada pelos alunos, Erin encontra o caminho para sua confiança ao tentar colocar-se no lugar deles: a partir daí, em uma série de cenas curtas mas interessantes, ela os apresenta ao mundo dos livros e abre seus horizontes ao aproximá-los da história de Anne Frank - primeiro com a leitura de seu diário, em seguida com uma visita ao Museu do Holocausto, e por fim com um encontro com uma sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Este paralelo funciona muito bem no filme, e serve também para orientá-lo ao desfecho do filme, talvez um pouco anti-climático mas de certa forma coerente e verossímil.

Hilary Swank não está brilhante como em seus desempenhos premiados com o Oscar, mas ainda assim consegue dar credibilidade a uma personagem que, a despeito de ter sido escrita por um roteirista consagrado, soa um tanto superficial. A transformação de Erin em uma mulher cuja paixão por ensinar é mostrada sem muita profundidade, assim como seu relacionamento com os alunos dá a impressão de ocorrer muito facilmente. Porém, os atores jovens servem como grande parceiro de cena: apesar de ser o principal nome do elenco coadjuvante, a sempre ótima Imelda Staunton (que perdeu o Oscar 2005 justamente para Swank) divide a atenção com nomes desconhecidos que seguram com garra e emoção seu lugares na produção. Como prova dessa homogeneidade, nenhum deles se destaca mais que os outros, como se todos fossem (e de certa forma o são) os retalhos de tecido que, juntos, constroem uma colcha. "Escritores da liberdade" pode não ser o filme mais original e comovente de todos os tempos, mas é um entretenimento suficientemente agradável e bem-intencionado. Ou seja, é como uma boa aula de literatura!

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