quarta-feira

HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL

HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (Harry Potter and the sorcere's stone, 2001, Warner Bros, 152min) Direção: Chris Columbus. Roteiro: Steve Kloves, romance de J. K. Rowling. Fotografia: John Seale. Montagem: Richard Francis-Bruce. Música: John Williams. Figurino: Juddiana Makovsky. Direção de arte/cenários: Stuart Craig/Stephenie McMillan. Produção executiva: Michael Barnathan, Chris Columbus, Duncan Henderson, Mark Radcliffe. Produção: David Heyman. Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Richard Harris, Maggie Smith, Alan Rickman, Ian Hart, Julie Walters, John Hurt, Robbie Coltrane, Fiona Shaw, Richard Griffiths, Harry Melling. Estreia: 04/11/2001

3 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original, Figurino, Direção de Arte/Cenários

Não tinha como dar errado: o primeiro volume de um fenômeno editorial que só crescia a cada livro lançado, um cineasta acostumado a lidar com potenciais blockbusters e todo o capricho que um generoso orçamento de cerca de 125 milhões de dólares pode comprar. Além disso, um marketing poderoso, uma pré-produção que enchia de expectativas os fãs mais ardorosos, e um elenco que reunia jovens iniciantes com veteranos acima de qualquer suspeita. "Harry Potter e a pedra filosofal" não era apenas mais um filme, era um evento de enormes proporções e uma aposta certeira da Warner para bater de frente com outro fenômeno literário que também chegava às telas de cinema: o ambicioso "O Senhor dos Anéis". Mesmo com um público-alvo mais jovem do que aquele dos filmes de Peter Jackson que começavam sua trajetória nas salas de exibição, a comparação entre as duas produções não era completamente equivocada: ambos os filmes davam o pontapé inicial em séries que tanto poderiam passar à história como imensos sucessos ou avassaladores fracassos. Para o bem de todos e felicidade geral dos estúdios, porém, os leitores fiéis - e os neófitos curiosos - correram para os cinemas, e os críticos, normalmente bem avessos à superproduções, aplaudiram de pé e ficaram ansiosos pelo próximo capítulo.

A trajetória de "Harry Potter e a pedra filosofal" para passar das páginas escritas pela britânica J. K. Rowling para os cinemas do mundo inteiro já começou com uma batalha campal para que o estúdio chegasse ao nome mais apropriado para sentar na cadeira de diretor. Rowling sugeriu o nome do excêntrico Terry Gilliam - e provavelmente por seu histórico irregular o cineasta foi dispensado pela Warner. A princípio, o estúdio pensava em transformar os livros em um filme de animação - uma providência que evitaria os problemas que poderiam ter com o elenco infantil, que fatalmente cresceriam durante a produção dos (então) sete livros. Steven Spielberg até demonstrou interesse na primeira fase de negociações, mas acabou recusando o trabalho por, segundo boatos de bastidores, considerá-lo "fácil demais" - o que não deixa de ser verdade, haja visto seu vasto currículo de filmes-evento. A saída de Spielberg do projeto o levou novamente à estaca zero, e sua sugestão para a empreitada, M. Night Shyamalan, tampouco teve sucesso nas negociações. Nomes de vários estilos começaram a pipocar na imprensa especializada como sendo de prováveis diretores do primeiro filme - dos mais sérios (Jonathan Demme, Alan Parker, Peter Weir) aos mais apropriados para desenvolver um universo mais divertido e mais próximo à obra literária (Ivan Reitman, Rob Reiner, Brad Silberling). Quem acabou levando a melhor, no entanto, foi um diretor já acostumado com sucessos de bilheteria infantojuvenis: Chris Columbus, o homem por trás de "Esqueceram de mim" (90) e "Uma babá quase perfeita" (92) se apaixonou pelos livros de Rowling através de sua filha, e insistiu tanto com os executivos da Warner que acabou ganhando o trabalho - não apenas para o primeiro filme, mas também para o segundo.


Mas se encontrar um diretor que agradasse à escritora e respeitasse o desejo do estúdio de uma produção comercialmente viável foi difícil, o pior ainda estava por vir: o elenco. Rowling exigia que os atores escolhidos para o filme fossem britânicos, o que logo de cara excluía alguns fãs do livro que sonhavam em fazer parte do espetáculo, como Robin Williams, Rosie O'Donnell. Rowling em pessoa escolheu Alan Rickman (Severo Snape), Maggie Smith (McGonnagal) e Robbie Coltrane (Hagrid) para papéis fundamentais na trama, e o irlandês Richard Harris (única exceção permitida pela escritora) para viver o sábio Albus Dombledore, mas a grande questão no momento era uma só: quem irá interpretar os fiéis amigos do protagonista e, principalmente, quem emprestaria seu rosto a Harry Potter pela próxima década? Chris Columbus tinha uma ideia bastante clara a esse respeito, e sempre que perguntado sobre o assunto pelos executivos da Warner, mostrava cenas de uma adaptação televisiva de Charles Dickens, "David Copperfield" (1999) e apontava para o jovem Daniel Radcliffe como o intérprete ideal. Foram mais de 5000 testes até que finalmente a diretora de elenco do filme conseguiu o que o diretor mais desejava: convencer os pais do rapaz para que aprovassem sua participação no projeto. Para interpretar seus dois leais companheiros foram escolhidos Rupert Grint (Ronnie Weasley) e Emma Watson (Hermione Granger). No papel do rival de Potter na escola Howgrats de bruxaria, o escolhido foi Tom Felton, que havia feito o teste para viver Harry. E o resto é de conhecimento internacional.

Filmado na Inglaterra e na Escócia entre setembro de 2000 e março de 2001, "Harry Potter e a pedra filosofal" acabou se tornando um capítulo de estreia dos mais empolgantes. Somado ao senso de ritmo e humor de Columbus, o roteiro de Steve Kloves acertou em cheio ao introduzir sua trama e seus personagens de maneira fluida e sem pressa: com 152 minutos de duração, o filme mantém o espectador atento dos primeiros (e cômicos) momentos até seu clímax - um jogo de xadrez sinistro onde o mal começa a mostrar a que veio, fato que irá se aprofundar nos demais filmes (e livros), que vão se tornando gradualmente sombrios. A química entre o elenco de novatos e veteranos é impecável e o visual foi lembrado pela Academia com uma indicação aos Oscar de direção de arte e figurino - a trilha sonora, do onipresente John Williams também foi indicada. Aplaudido pela crítica e pelos fãs mais exigentes, "Harry Potter e a pedra filosofal" arrecadou quase 1 bilhão de dólares pelo mundo - foi a maior bilheteria do ano - e abriu as portas para os demais filmes da série, cada vez menos infantil e mais empolgante. Uma produção infanto-juvenil que ultrapassa sua definição mais óbvia e conquista também a plateia mais velha, o filme de  Chris Columbus é um entretenimento dos mais bem-sucedidos, e se não foi levado tão a sério quanto seu rival direto - "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" - ao menos se mantém fresco e agradável mesmo depois de quase vinte anos. Um clássico instantâneo!

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