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HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA

HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA (Harry Potter and the chamber of secrets, 2002, Warner Bros, 161min) Direção: Chris Columbus. Roteiro: Steve Kloves, romance de J. K. Rowling. Fotografia: Roger Pratt. Montagem: Peter Honess. Música: John Williams. Figurino: Lindy Hemming. Direção de arte/cenários: Stuart Craig/Stephenie McMillan. Produção executiva: Michael Barnathan, David Barron, Chris Columbus, Mark Radcliffe. Produção: David Heyman. Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Richard Harris, Maggie Smith, Kenneth Branagh, Julie Walters, Alan Rickman, Robbie Coltrane, Jason Isaacs, Tom Felton. Estreia: 03/11/02

Quando "Harry Potter e a câmara secreta" estreou, no final de 2002, até mesmo o público que não acompanhava a saga do jovem bruxo em sua encarnação literária já conhecia seu universo mágico: graças à "Harry Potter e a pedra filosofal", o primeiro capítulo de uma coleção que prometia estender-se até um sétimo volume, o mundo inteiro estava tomado por uma febre que não atingia apenas seu público-alvo (o infantojuvenil), mas que havia se espalhado também entre aqueles adultos sem medo de entregar-se à fantasia. Com uma renda mundial de quase 980 milhões de dólares e elogiado pela maioria dos críticos, o filme de Chris Columbus - diretor também de "Esqueceram de mim" (1990) e "Uma babá quase perfeita" (1993) - estabeleceu as regras do jogo, apresentou seus personagens e confirmou o apelo comercial que há muito tempo as editoras já conheciam (e festejavam). Sem mexer em um time já ganhando, a Warner manteve a mesma equipe do primeiro filme para a realização do segundo e, para a surpresa de ninguém, voltou a cativar plateias ao redor do mundo - e mais uma vez chegou perto de um sucesso quase bilionário, com uma bilheteria de 88 milhões de dólares em seu fim-de-semana de estreia. 

Mais sombrio do que o primeiro filme - em uma transformação gradual da série, que vai ficando menos ingênua conforme a trama vai caminhando e os protagonistas vão de crianças a adolescentes, "Harry Potter e a câmara secreta" é o filme mais longo da série, a despeito do fato de o livro no qual ele é baseado é o segundo mais curto da saga, e começou a ser filmado apenas três dias após a estreia de "Harry Potter e a pedra filosofal". Tal pressa tinha motivo: não apenas o elenco infantil logo começaria a passar pela puberdade (a tragédia de qualquer produtor) como o ator Richard Harris, que vivia um personagem crucial nos filmes, Alvo Dumbledore - um dos professores mais importantes de Hogwarts e peça fundamental na trajetória do protagonista - estava com a saúde debilitada a ponto de ser quase afastado das filmagens; Harris morreu poucas semanas antes do lançamento do filme, e foi substituído, nas produções seguintes, por Michael Gambon. Com o elenco reforçado pela presença de Jason Isaacs e Kenneth Branagh, "Harry Potter e a câmara secreta" consegue uma façanha e tanto: mantém o alto nível de entretenimento do primeiro filme (se é que não o eleva) e agrada em cheio aos fãs dos livros.


"Harry Potter e a câmara secreta" começa com um tom leve, mas não demora a mergulhar aos poucos em uma tensa jornada: ainda na casa de seus tios, Potter é visitado por um atrapalhado elfo doméstico, Dobby (voz de Tony Jones), que não apenas coloca o bruxinho em péssimos lençóis, graças a suas interferências em outros membros da família. Sua aparição, no entanto, tem motivos bastante sinistros: segundo ele, coisas horríveis estão para acontecer em Hogwarts, e Potter deve evitar voltar à escola. É claro que seus avisos de nada adiantam: Potter retorna para mais um ano letivo, assim como seus melhores amigos, Ron e Hermione, e logo de cara percebe que os conselhos que não seguiu estavam mais do que certos. Vozes vindas das paredes, escritos de sangue com mensagens enigmáticas e alunos sendo petrificados sem motivo aparente levam Harry a uma investigação que revela muito mais do que ele esperava e remete à uma misteriosa câmara secreta, cujo histórico é ligado à presença malévola de Voldemort, que controla (não se sabe como) o lendário quarto da escola.

Assim como em "Harry Potter e a pedra filosofal", o segundo filme dirigido por Columbus ainda mostra seus protagonistas aprendendo a lidar com seus novos dons e lutando contra o mal, seja ele na forma de um apavorante guardião da câmara secreta, na pele do maquiavélico Draco Malfoy (Tom Felton) ou na figura pouco amistosa de Voldemort - além das dúbias ações do professor Severo Snape (Alan Rickman). A primeira metade do filme é dedicada a ilustrar os acontecimentos funestos que ameaçam fechar a escola, e sua segunda parte hipnotiza o espectador com revelações surpreendentes e constrói um clímax dos mais interessantes. Kenneth Branagh - substituindo Hugh Grant, que não pode participar do filme por problemas de agenda - é a melhor e mais acertada aquisição neste segundo capítulo, interpretando um falastrão e vaidoso Gilderoy Lockhart, professor que mostra sua real personalidade quando é chamado a desafiar o mal vindo do tétrico cômodo. É ele quem equilibra o tom entre a comédia (especialidade de Ron) e a tragédia (cortesia de Voldemort em si). O elenco juvenil se mostra mais à vontade nas peles dos protagonistas, e os veteranos do grupo (Harris, Maggie Smith, Julie Walters, Alan Rickman) aproveitam cada minuto em cena para provar que, mesmo em um filme direcionado a uma plateia menos madura, são capazes de roubar a cena - coisa que os efeitos visuais, discretos mas eficientíssimos, ajuda a ressaltar. Tão bom quanto o primeiro capítulo da saga, "Harry Potter e a câmara secreta" é, também, o último da série dirigido por Chris Columbus - um cineasta acostumado com o sucesso e com o diálogo com a audiência mais jovem. Columbus deu o pontapé inicial a um universo que se tornaria, a cada filme, mais e mais escuro e surpreendente.

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