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MOMENTO DE DECISÃO


MOMENTO DE DECISÃO (The turning point, 1977, 20th Century Fox, 119min) Direção: Herbert Ross. Roteiro: Arthur Laurents. Fotografia: Robert Surtees. Montagem: William Reynolds. Figurino: Tony Faso, Albert Wolski. Direção de arte/cenários: Albert Brenner/Marvin March. Casting: David Graham, Juliet Taylor. Produção executiva: Nora Kaye. Produção: Arthur Laurents, Herbert Ross. Elenco: Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Leslie Browne, Mikhail Baryshnikov, Martha Scott, Alexandra Danilova. Estreia: 14/11/77

11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Herbert Ross), Atriz (Anne Bancroft, Shirley MacLaine), Ator Coadjuvante (Mikhail Baryshnikov), Atriz Coadjuvante (Leslie Browne), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Direção de arte, Som
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Herbert Ross)


No início de 1978, o cineasta americano Herbert Ross se viu em uma situação um tanto rara em seu meio, ainda que de certa forma bastante agradável. Seus dois trabalhos lançados no ano anterior concorriam ao Oscar de Melhor Filme, tornando-o rival dele mesmo. A comédia romântica "A garota do adeus" deu o prêmio de melhor ator a Richard Dreyfuss, enquanto sua maior aposta, o drama familiar "Momento de decisão" saiu da cerimônia de mãos abanando, apesar de suas generosas 11 indicações à estatueta. No entanto, sua fragorosa derrota - que faz dele, até hoje, empatado com "A cor púrpura", de Steven Spielberg, o maior perdedor da história do Oscar - no entanto, não espelha suas inúmeras qualidades. Tivesse tido mais sorte na noite que consagrou Woody Allen e seu "Noivo neurótico, noiva nervosa", o filme de Ross certamente estaria eternizado como um dos mais consistentes dramas sobre os bastidores do balé, mesmo que o utilize apenas como pano de fundo de uma história humana e envolvente.

Escrito por Arthur Laurents (o mesmo roteirista de "Nosso amor de ontem"), "Momento de decisão" conta a história de duas mulheres de mundos aparentemente diferentes mas que possuem dentro delas muito mais em comum do que aparentam. Shirley MacLaine (deixando de lado o frescor juvenil de filmes como "Se meu apartamento falasse") vive Deedee Rodgers, uma dona-de-casa que abandonou uma promissora carreira como bailarina profissional para dedicar-se à família. Ao lado do marido (Tom Skerrit), cuida de uma escola de dança, enquanto vê o tempo passar e os filhos - dois dos quais também nutrem a mesma paixão pelo balé - crescerem. Sua amiga de juventude, Emma Jacklin (Anne Bancroft, elegantíssima e a excelente atriz de sempre) é exatamente seu contrário. Ao abdicar da vida pessoal para cuidar da carreira, tornou-se uma admirada, famosa e invejada bailarina, protagonista dos maiores clássicos coreografados para os palcos. Quando as duas se reencontram, o conflito se instala logo que as doces lembranças começam a realmente soar como lembranças; Emilia (Leslie Browne) é aceita na companhia de Emma e resolve morar em Nova York. Temerosa com essa mudança tão radical na vida da filha, Deedee decide acompanhá-la, mas a proximidade com seu passado e com Emma a faz questionar suas escolhas, o que leva as duas a uma dura batalha emocional pelo amor e pela atenção da adolescente.


É notável a maneira com que Laurents consegue equilibrar os dois polos de seu roteiro sem torná-lo maniqueísta ou apelar para o dramalhão choroso. Suas duas protagonistas soam verdadeiras e honestas, sem o ranço dos melodramas familiares que poluem as telas de cinema em busca de premiações. Deedee é uma mulher realizada com sua vida familiar, mas que não consegue deixar de lado as dúvidas sobre a opção que fez para seu futuro, principalmente quando surge diante de seus olhos um dèja-vu de sua história, protagonizado por sua filha. Emma, por sua vez, atingiu o ápice de sua carreira, o máximo de sucesso que poderia almejar, mas esbarra no beco sem saída de um amanhã incerto quanto à dança e solitário quanto a relações familiares. Entre as duas, no epicentro do furacão, Emilia tenta seguir seu próprio caminho, que se complica quando ela se apaixona por Yuri (Mikhail Baryshnikov), um bailarino russo com quem divide os palcos e suas primeiras noites.

"Momento de decisão" tinha tudo para ser um daqueles filmes lacrimosos que testam a paciência do espectador. Mas Herbert Ross não foi indicado ao Oscar à toa. Contando com o estofo de suas grandes atrizes centrais (Audrey Hepburn chegou a cobiçar o papel que ficou com Anne Bancroft), ele criou uma história sobre sonhos destruídos, segundas chances e a força inquebrável da amizade sem abusar dos clichês que tinha à disposição. O clímax poderoso - que acontece logo depois dos belíssimos números musicais que contam inclusive com a participação da brasileira Marcia Haydée - apenas comprova a força de sua trama e de seu elenco. Elegante, sofisticado mas nunca chato ou aborrecido, é um filme que merece uma revisão, nem que seja para que seja feita justiça a sua dupla principal.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá. Excelente sua resenha sobre TURNING POINT. Revi esse filme há pouco tempo e, incrível como compartilhamos de ideias semelhantes. Não sei se você sabe — e como você também tem um blog orientado a novelas — mas a cena da briga entre Bancroft e McLaine inspirou Gilberto Braga e Daniel Filho para a cena final de Dancin' Days. Gostaria de ter seu contato, pois seria um prazer trocar experiências com alguém como você, sobre o que lemos, ouvimos e assistimos. Abraços.

Clenio disse...

Oi, tudo bem? Desculpa a demora na resposta - 4 anos e meio, que absurdo! - mas o Google estava me escondendo as notificações a respeito de comentários.
Sim, eu sei sobre a inspiração para Dancin'days... Gilberto Braga também se inspirou em "A malvada" e "Gente como a gente" em "Celebridade"... enfim, saudade dele.
Meu email é viegas.clenio@gmail.com
Abraços.

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