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O PODEROSO CHEFÃO - PARTE II


O PODEROSO CHEFÃO - PARTE II (The godfather - Part II, 1974, Paramount Pictures, 200min) Direção: Francis Ford Coppola. Roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo, baseado no romance de Mario Puzo. Fotografia: Gordon Willis. Montagem: Barry Malkin, Richard Marks, Peter Ziner. Música: Nino Rota. Figurino: Theadora Von Runkle. Direção de arte/cenários: Dean Tavoularis/George R.Nelson. Casting: Jane Feinberg, Michael Fenton, Vic Ramos. Produção: Francis Ford Coppola. Elenco: Al Pacino, Robert DeNiro, Robert Duvall, John Cazale, Diane Keaton, Talia Shire, Lee Strasberg, Bruno Kirby, Troy Donahue, Michael V. Gazzo. Estreia: 20/12/74

11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Francis Ford Coppola), Ator (Al Pacino), Ator Coadjuvante (Robert DeNiro, Michael V.Gazzo, Lee Strasberg), Atriz Coadjuvante (Talia Shire), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original, Figurino, Direção de Arte
Vencedor de 6 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Francis Ford Coppola), Ator Coadjuvante (Robert DeNiro), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original, Direção de Arte
Vencedor de 6 Golden Globe: Melhor Filme/Drama, Diretor (Francis Ford Coppola), Ator/Drama (Al Pacino), Roteiro, Trilha Sonora, Most Promising Newcomer (Lee Strasberg)


Continuações de filmes de sucesso são, via de regra, caça-níqueis realizados para salvar estúdios da bancarrota ou alimentar ainda mais seus cofres. A preocupação com a integridade obra original inexiste na maioria esmagadora dos casos, uma vez que normalmente as sequências de campeões de bilheteria esgotam a ideia central dos filmes e humilham suas personagens sem pena nem dó. Felizmente, toda regra tem exceção e, neste caso, nenhuma exceção é mais gloriosa do que "O poderoso chefão - Parte II" - , que, lançado meros dois anos depois da estreia de seu primeiro capítulo, não só o superou em sucesso artístico - inclusive dobrando o número de Oscar recebidos - como comprovou o talento e o gênio de seu diretor, roteirista e produtor Francis Ford Coppola. Em "O poderoso chefão - Parte II", ele não apenas continuou contando a trajetória de Michael Corleone rumo ao poder absoluto; ele intercalou a ela o início de toda a família, apresentando ao público a juventude do patriarca Don Vito Corleone, aqui interpretado por um jovem e já excelente Robert DeNiro.

Apesar de ter ganho o Oscar de roteiro adaptado, a segunda parte da saga Corleone não é totalmente baseada no livro "O chefão", que inspirou o filme original. Apenas um capítulo do livro, que conta a chegada de Vito à Nova York, em 1901, e o início de seu caminho ao poder já estabelecido no primeiro filme, foi utilizado no script do diretor e do autor do livro, Mario Puzo. Toda a trama envolvendo Michael Corleone e a família em Las Vegas e Cuba foi criado especificamente para o filme, e fortalece o conceito de máfia insinuado em 1972 e aqui abertamente declarado em cenas que mostram uma CPI a respeito das atividades dos Corleone. A genialidade desse segundo filme reside principalmente na divisão da história em dois núcleos separados que juntos, formam uma unidade coesa e sólida.

"O poderoso chefão - Parte II", começa em 1958, em Lake Tahoe, Nevada, na festa da primeira comunhão de Anthony, o filho mais velho de Michael (Al Pacino) e Kay (Diane Keaton). A reunião - não apenas familiar, mas que também junta no mesmo ambiente os diversos colaboradores do clã - ecoa o casamento de Connie (Talia Shire), que abria o primeiro "Chefão". Nessa festa, fica-se sabendo dos negócios de Michael em Las Vegas, dirigidos com mão não muito firme por Fredo (John Cazale), seu irmão mais velho. Enquanto tenta lidar com uma traição por parte do próprio irmão, Michael se vê cada vez mais solitário e afastando-se das pessoas que ama, além de participar ativamente da revolução cubana. Paralelamente, o filme narra a chegada de Vito Corleone (Robert DeNiro) aos EUA. Chegado da Sicília com apenas nove anos de idade, na juventude mesmo ele trava conhecimento com Clemenza (Bruno Kirby), um vizinho metido com tramoias escusas e que se tornará seu homem de confiança quando ele mata o chefe do bairro e assume seu lugar, dando origem a toda a saga contada por Coppola e Puzo.


Um pouco mais longo do que seu antecessor, mas ainda assim dono de um invejável ritmo, "O poderoso chefão - Parte II", tornou-se a primeira sequência a ganhar o Oscar de Melhor Filme (feito repetido apenas 30 anos depois com "O Senhor dos anéis - O retorno do rei"). E motivos para tal homenagem não faltam; poucas vezes o cinema conseguiu ser tão fascinante quanto aqui, com um primoroso roteiro que privilegia os detalhes mais do que a grandiosidade que um projeto dessa envergadura poderia pressupor. Da maneira como Coppola conta sua história os olhares são mais pungentes do que os tiros, o subtexto é mais claro do que discursos e as relações familiares são muito mais importantes do que os negócios financeiros - mesmo que essa teoria seja de certa forma derrubada com as cenas finais, dignas da mais trágica peça vitoriana.

E é aqui, em "O poderoso chefão - Parte II", que Michael Corleone assume de vez sua persona shakespereana. Envolvido em uma paranoia cada vez mais avassaladora, o rapaz idealista que defendeu seu país na II Guerra começa seu caminho indelével para a solidão. É admirável a maneira com que o diretor consegue equilibrar - sem perder o interesse da audiência - sequências absurdamente violentas (visual e psicologicamente falando) e cenas de partir o coração, interpretadas por atores no auge de seu domínio artístico. Na pele de um juvenil Vito Corleone, Robert DeNiro já demonstra o imenso talento que viria a consagrá-lo nos anos subsequentes como o melhor ator de sua geração, e o Oscar de ator coadjuvante apenas coroou seu desempenho irretocável. John Cazale, como Fredo, tem algumas das melhores cenas de sua curta carreira, em uma memorável e comovente atuação. Diane Keaton também tem, aqui, as maiores oportunidades de sua personagem na série e os dois veteranos atores que conquistaram indicações ao Oscar de coadjuvante (Lee Strasberg e Michael V.Gazzo) fazem jus a sua fama de mestres: Strasberg é, inclusive, um dos fundadores do Actors Studio, que formou nomes como os próprios Brando, DeNiro e Pacino.

Mas é Al Pacino o corpo e a alma de "O poderoso chefão - Parte II". Em uma interpretação silenciosa, raivosa, paranoica e melancólica, o ator transmite a variada gama de nuances de sua complexa personagem sem jamais perder sua essência. Michael Corleone e Al Pacino formam o exemplo mais impressionante de casamento entre ator e personagem da história do cinema. Ainda bem que se pode assistir a isso sempre que der vontade.

2 comentários:

Unknown disse...

Ola
Parabéns pelo blog!
Abcs
Alexandre Taleb
Consultor de Imagem/Personal Stylist
Blog: http://ataleb.wordpress.com/

Juliana SCCP disse...

Bela critica. Concordo em gênero, número e grau quando você diz que Al Pacino é a alma do filme e isso vai além do fato dele ser o protagonista, ele deu vida e evolução ao personagem de tal forma que eu não consigo imaginar outro ator interpretando este papel e olha que ele viinha de uma safra de ótimos atores. Realmente é o melhor exemplo de casamento entre personagem e ator. Arrisco a dizer que ele ainda repetiu esta proeza em scent of a woman onde ele confirmou o quanto sua força de atuação é impressionante e sobre tudo, envolvente.

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