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UM DIA DE CÃO


UM DIA DE CÃO (Dog day afternoon, 1975, Warner Bros, 125min) Direção: Sidney Lumet. Roteiro: Frank Pierson, inspirado em artigo de P.F.Kluge, Thomas Moore. Fotografia: Victor J. Kempster. Montagem: Dede Allen. Figurino: Anna Hill Johnstone. Direção de arte/cenário: Charles Bailey/Robert Drumheller. Casting: Michael Chinich, Don Phillips. Produção: Martin Bregman, Martin Elfand. Elenco: Al Pacino, John Cazale, Charles Durning, Chris Sarandon, Sully Boyar, Penelope Allen,Carol Kane, Lance Henriksen. Estreia: 21/9/75

6 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Sidney Lumet), Ator (Al Pacino), Ator Coadjuvante (Chris Sarandon), Roteiro Original, Montagem
Vencedor do Oscar de Roteiro Original


Ainda bem que não só de heróis bonzinhos e lindos vive o cinema americano e que, de vez em quando um diretor tem a coragem de fuçar nas feridas do mundo ocidental e expor suas mazelas e contradições. John Schlesinger fez isso em “Perdidos na noite” e, apesar das polêmicas, chegou a ganhar o Oscar de melhor filme. Em "Um dia de cão" quem resolveu dar a cara a tapa foi Sidney Lumet, diretor do ótimo “Doze homens e uma sentença”. E pra melhorar ainda mais a notícia, Lumet foi buscar inspiração em uma história real. Apesar de parecer inacreditável, a trama de “Um dia de cão” aconteceu de verdade. E isso faz da experiência de assisti-lo um prazer ainda maior.

A ação se passa em um único dia de verão de 1972, em um banco do Brooklyn. Com a intenção de assaltá-lo, os amigos Sonny (Al Pacino em uma interpretação consagradora) e Sal (John Cazale, excepcional) invadem o local e ao perceberem que escolheram o banco errado, uma vez que quase não há dinheiro para ser levado, descobrem que estão cercados pela polícia, representada pelo Capitão Moretti (Charles Durning). O que era para ser apenas mais um corriqueiro assalto a banco transforma-se aos poucos em um circo, transmitido inclusive pela televisão. Tudo se complica ainda mais quando se descobre que a principal razão de Sonny em roubar o dinheiro é financiar a operação de mudança de sexo de seu amante, o transexual Leon (Chris Sarandon, ex-marido de Susan e indicado ao Oscar de ator coadjuvante), o que ao mesmo tempo lhe transforma em alvo de chacota e ídolo do movimento gay. Aos poucos, Sonny passa de bandido a herói, sendo apoiado pelo público e até pelos funcionários mantidos como reféns.


Criando uma atmosfera claustrofóbica e ao mesmo tempo sem em nenhum momento perder as rédeas da narrativa, em parte devido ao surpreendente bom humor do roteiro premiado com o Oscar, o diretor Lumet mantém seus personagens sempre em uma constante tensão e desespero. A edição de Dede Allen também colabora para sustentar o ritmo sufocante da trama. Ao criticar a ação da mídia em transformar em entretenimento até mesmo o sofrimento alheio, o filme ainda dá um passo a frente de seus contemporâneos, com um senso de momento impressionante e surpreendente.

Mas nada adiantaria a inteligência do roteiro e a precisão da direção se na frente das câmeras não houvesse atores como os escolhidos por Lumet. Al Pacino e John Cazale, irmãos nos dois filmes “O poderoso chefão” sustentam uma química invejável e demonstram a segurança necessária para transmitir a insegurança e o desespero de seus personagens, tragicamente envolvidos em uma inesperada reviravolta do destino. São suas brilhantes atuações que transformam dois anti-heróis em seres humanos com falhas e qualidades como todo espectador. E talvez por isso em determinado momento do filme a plateia é surpreendida torcendo por dois assaltantes de banco a despeito de seu crime. Ainda bem que há filmes em que isso é possível, caso contrário o público de cinema ficaria seriamente tentado a crer que apenas homens loiros, altos e heróicos são capazes de protagonizar um filme de sucesso.

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