segunda-feira

ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Pakula, romance de Scott Turow. Fotografia: Gordon Willis. Montagem: Evan Lottman. Música: John Williams. Figurino: John Boxer. Direção de arte/cenários: George Jenkins/Carol Joffe. Casting: Alixe Gordin. Produção executiva: Susan Solt. Produção: Sydney Pollack, Mark Rosenberg. Elenco: Harrison Ford, Brian Dennehy, Raul Julia, Bonnie Bedelia, Greta Scacchi, Paul Winfield, Bradley Whitford, Jesse Bradford, Joseph Mazzello, Jeffrey Wright. Estreia: 27/7/90

Publicado em 1988, o livro "Acima de qualquer suspeita", escrito pelo advogado Scott Turow, transformou-se imediatamente em um fenômeno de vendas. Sua prosa inteligente, que desvendava os meandros da justiça americana, aliada a uma intrigante história policial, encantou milhares de leitores e não demorou para que vários estúdios de Hollywood disputassem seus direitos a peso de ouro. A Warner Bros foi quem se deu melhor na guerra e, com o veterano Alan J. Pakula - de "Todos os homens do presidente" - no comando e Harrison Ford no papel principal, não tinha como dar errado. Mas, ao assistir-se à adaptação cinematográfica do best-seller de Turow, fica-se com a clara impressão de que certo também não deu.

"Acima de qualquer suspeita" tem todos os ingredientes de que um bom filme policial precisa para conquistar a audiência: uma trama coerente e recheada de pistas falsas, suspeitos interessantes e um final surpreendente, além de um algo a mais que sempre faz a diferença em termos comerciais: um grande astro. No entanto, a interpretação apática de Harrison Ford como o protagonista Rusty Sabitch, em vez de ajudar, apenas atrapalha o que já não é tão bom como poderia. Somado à direção anêmica de Pakula, o trabalho de Ford deixa bastante claras suas deficiências como ator em um papel que poderia render muito mais nas mãos de um Michael Douglas, por exemplo.

Rusty Sabitch (vivido no piloto-automático por Ford) é um bem-sucedido promotor público de Nova York que tem sua vida transformada quando é escalado por seu mentor (Brian Dennehy) para investigar o violento assassinato de Carolyn Polhemus (Greta Scaachi), sua colega de promotoria. Bela, ambiciosa e pouco afeita a coisas como ética e sentimentalismos, Carolyn foi estuprada e morta a golpes na cabeça e Rusty, em sua investigação, começa a descobrir as sujeiras por trás dos cargos públicos de sua profissão - além de particularidades pouco lisonjeiras sobre a vítima, com quem teve um tórrido e obsessivo caso extra-conjugal. As investigações sofrem uma reviravolta, no entanto, quando todas as pistas levam a um principal suspeito do crime: o próprio Rusty. Sem o apoio de seus superiores, ele conta apenas com a ajuda do talentoso advogado Sandy Stern (Raul Julia) e da esposa, Barbara (Bonnie Bedelia).

É difícil acreditar que um cineasta competente como Alan J. Pakula pôde ter errado a mão de maneira tão errônea quanto aqui. "Acima de qualquer suspeita" é um filme policial preguiçoso, que não dá à sua audiência o gostinho de brincar de detetive nem ao menos conta com consistência a história de seu protagonista, envolvido em uma trama rocambolesca e um caso de amor frustrado. Nem mesmo a chocante (para quem não leu o livro) revelação final consegue empolgar o público, em parte graças à absoluta falta de vontade do elenco. Com a gloriosa exceção de Raul Julia - que faz o que pode com o pouco que lhe dá o roteiro mal adaptado - ninguém no filme está além de corriqueiro ou banal - quando não está simplesmente péssimo, como é o caso de Greta Scaachi, que, de posse de um papel crucial, não faz mais do que piscar os olhos para mostrar que está interessada romanticamente em alguém ou fechar a cara para dizer o contrário.

É uma pena que "Acima de qualquer suspeita" - um belo livro policial, bem escrito e com coerência rara - não tenha tido uma adaptação mais bem-sucedida. Frustrante para os fãs do livro e para os entusiastas do gênero, é um pálido exemplar, se comparado à sua origem literária e ao currículo de seu diretor.

2 comentários:

pseudo-autor disse...

Eu não cheguei a ler o livro, mas na época que vi o filme do Pakula gostei muito do resultado. É um dos melhores filmes jurídicos que vi até hoje!

Cultura em geral:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Hugo disse...

Pode não ter sido um grande filme, mas ainda é melhor que as adaptações dos livros de John Grisham.

Lembro que na época os críticos reclamaram até do corte de cabelo do Harrison Ford. rs

Abraço

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