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GREEN CARD, PASSAPORTE PARA O AMOR

GREEN CARD, PASSAPORTE PARA O AMOR (Green card, 1990, Touchstone Pictures, 107min) Direção e roteiro: Peter Weir. Fotografia: Geoffrey Simpson. Montagem: William Anderson. Música: Hans Zimmer. Direção de arte/cenários: Wendy Stites/John Anderson, Ted Glass. Casting: Dianne Crittenden. Elenco: Gerard Depardieu, Andie MacDowell, Bebe Neuwirth, Gregg Edelman, Robert Prosky, Lois Smith. Estreia: 23/12/90

Indicado ao Oscar de Roteiro Original
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Ator Comédia/Musical (Gerard Depardieu)

Apesar de contar em seu currículo com filmes densos como "O ano em que vivemos em perigo", "A testemunha" e "Sociedade dos poetas mortos" - todos eles merecidamente incensados pela crítica - o australiano Peter Weir sabe ser leve e divertido. Uma prova disso é "Green card, passaporte para o amor", uma saborosa comédia romântica que foge dos padrões do gênero ao acrescentar a eles uma inteligência rara. Não à toa, o filme de Weir recebeu uma merecida indicação ao Oscar de roteiro original - que perdeu para o blockbuster "Ghost, do outro lado da vida". Escrito pelo próprio diretor para ser a estreia em Hollywood de Gerard Depardieu, "Green Card "consegue ser doce, esperto e, mais do que qualquer outra coisa, consegue se desvencilhar das armadilhas que tramas como a sua normalmente possui. Pode não ser o filme dos sonhos para um público que gosta de romances tradicionais, mas entrega mais à audiência do que paisagens fotogênicas, piadas engraçadinhas e rostos bonitos dá a ela um roteiro consistente, coerência e um casal de atores acima da média interpretando personagens críveis e humanos.

Bronte Parrish (Andie MacDowell) é uma ambientalista que precisa de um marido para que consiga alugar um apartamento que tem uma estufa que é seu sonho de consumo. Georges Faure (Gerard Depardieu) é um francês que precisa de uma esposa americana para que possa conseguir seu visto definitivo de permanência nos EUA. Unidos por suas necessidades, eles se casam no papel e se afastam. No entanto, quando agentes da Imigração desconfiam que há algo de errado no relacionamento entre os dois, a vegetariana, politicamente ativa e discreta Bronte e o carnívoro, fumante e exuberante Georges são obrigados a passar um tempo juntos, descobrindo mais um sobre o outro. O que antes não passava de uma relação de interesse mútuo acaba se transformando em uma grande paixão.



É óbvio que a estrutura do roteiro de "Green card" - e os caminhos que ele segue rumo a seu final - não tem nada de novo e qualquer fã de cinema enxerga suas engrenagens. Mas o texto de Weir não deixa espaço para epifanias repentinas ou cenas dramática e forçadamente construídas para atingir seus objetivos de cativar a plateia. Ao invés de artifícios narrativos, ele apenas apresenta seus protagonistas como eles são, através de atos e não de palavras. Bronte não se diz ambientalista - ela o prova em diversas cenas. Georges não é apenas um estrangeiro em busca de seu espaço - ele é um homem um tanto perdido querendo provar seu valor como compositor. Separados eles são duas pessoas normais. Juntos, eles descobrem coisas a seu respeito que jamais poderiam descobrir sozinhos - ela, a tolerância; ele, a delicadeza. Transitando por uma Nova York fotografada longe dos cartões postais - e onde mais poderia se passar um filme que tanto valoriza o multiculturalismo? - eles são mais do que apenas personagens: soam reais, e isso faz toda a diferença.

Além do mais, Peter Weir não poderia ter escolhido melhor elenco para seu romance. Depardieu faz sua estreia hollywoodiana em grande estilo, demonstrando que por trás do ator sério consagrado na Europa esconde-se um ator versátil com bom timing para comédia - o que seu Golden Globe comprovou - e Andie MacDowell - uma escolha nada convencional - transmite a placidez e a sofisticação de sua personagem sem aparentar muito esforço. A química entre o casal é das melhores e não é preciso longas cenas de beijo ou sexo para comprovar isso. A torcida do público por seu final feliz é inevitável. E até nisso Weir consegue ser original.

Ao contrário do que se poderia esperar, o caminho de Bronte e Georges em direção à felicidade não acontece conforme a cartilha do cinema mainstream. Espertamente o cineasta não tenta subverter radicalmente as regras do jogo a que se propõe. Ele tenta - e consegue com louvor - escapar do previsível, do dèja-vu e do humor fácil, mas jamais nega ao espectador o prazer de assistir a uma história bem contada. No final das contas, é isso que "Green Card" é: uma história de amor que conquista pela simplicidade e pela inteligência.

4 comentários:

Hugo disse...

Seu texto diz tudo, é uma história de amor com toques de comédia dirigida pelo talentoso Weir.

O casal principal ajuda e muito no bom desenrolar da história.

Abraço

História é Pop! disse...

Mais uma deliciosa e inesquecível comédia romântica da década de 90.
Andie MacDowell para variar está linda e impecável.
Amo ve-la em Feitiço do Tempo e Primeiro ano do resto de Nossas vidas

renatocinema disse...

Essa é uma bela comédia romântica. Existe melhores "Uma Linda Mulher","Feitiço no Tempo". Porém, essa é uma boa opção.

Anônimo disse...

O texto sobre o filme acerta, precisamente, na essência da história: apesar de tão diferentes "Juntos, eles descobrem coisas a seu respeito que jamais poderiam descobrir sozinhos".
Este filme faz rir e faz a gente amar o amor dos protagonistas porque o diretor consegue fazer um roteiro e um filme simplesmene espontâneo...
Mariana

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