terça-feira

CHAPLIN

CHAPLIN (Chaplin, 1992, Carolco Pictures, 143min) Direção: Richard Attenborough. Roteiro: William Boyd, Bryan Forbes, William Goldman, história de Diana Hawkins, livros "Chaplin: his life and art", de David Robinson e "My autobiography", de Charles Chaplin. Fotografia: Sven Nykvist. Montagem: Anne V. Coates. Música: John Barry, José Padilla. Figurino: Ellen Mirojnick, John Mollo. Direção de arte/cenários: Stuart Craig/Norman Dorme. Casting: Mike Fenton, Susie Figgis, Valorie Massalas. Produção: Richard Attenborough, Mario Kassar. Elenco: Robert Downey Jr., Geraldine Chaplin, Anthony Hopkins, Moira Kelly, Dan Aykroyd, Marisa Tomei, Penelope Ann Miller, Kevin Kline, Maria Pitillo, Milla Jovovich, Diane Lane, Nancy Travis, James Woods. Estreia: 25/12/92

3 indicações ao Oscar: Ator (Robert Downey Jr.), Trilha Sonora Original, Direção de arte/cenários

Que Charles Chaplin foi um dos maiores gênios da história da humanidade é impossível discordar. Diretor e intérprete de clássicos absolutos como "O garoto", "Luzes da cidade" e "O grande ditador" - apenas para citar alguns de inúmeros títulos sensacionais - o ator inglês é uma das figuras mais reconhecidas da sétima arte, principalmente através de Carlitos, o vagabundo criado por ele e protagonista de muitos de seus filmes. Como a personagem foi criada, como algumas ideias para suas obras surgiram e principalmente como ele foi injustamente expulso dos EUA, acusado de ser simpatizante do comunismo, no entanto, não é material tão conhecido assim. Por isso, o cineasta Richard Attenborough resolveu que era hora de homenagear um de seus maiores ídolos com uma cinebiografia e lançou "Chaplin" no 15º aniversário de sua morte. Porém, ao contrário de sua obra mais famosa  -"Gandhi" - seu filme não apenas ficou aquém do esperado em termos de crítica, mas bombou feio nas bilheterias.

O papel principal de "Chaplin" ficou com o americano Robert Downey Jr., antes que seus problemas com drogas o tirasse das páginas de entretenimento e o colocasse na seção policial. Em uma atuação impressionante, Downey mostra que é, sim, um extraordinário ator, tirando leite de pedra de um roteiro capenga - inspirado em duas biografias do artista - que não ilustra a contento nem a carreira nem a vida pessoal de Charlie. Narrado em flashback, uma vez que a história é contada pelo diretor a um biógrafo (Anthony Hopkins), "Chaplin" começa mostrando a infância miserável do protagonista, que, abandonado pelo pai, substituiu a mãe com problemas mentais (Geraldine Chaplin interpretando sua avó) em um show de vaudeville e conheceu o gosto do sucesso. Contratado para fazer filmes em Hollywood - em saltos temporais que mais prejudicam do que ajudam na compreensão do todo - ele chega à conclusão que precisa de controle total sobre sua obra, entrando em rota de colisão com o então todo poderoso Mack Sennet (Dan Aykroyd) e a cineasta Mabel Normand (Marisa Tomei). De posse de seu talento e de sua fama, ele galga rapidamente os degraus do sucesso, emendando um sucesso atrás do outro. No entanto, sua predileção por mulheres mais jovens - e às vezes menores de idade - e o fato de ter comprado briga com o criador do FBI, J.Edgar Hoover (Kevin Dunn) os leva a ter sérios problemas com a justiça americana, culminando com sua expulsão do país.



"Chaplin" poderia ter sido contado com dois enfoques diferentes e bastante interessantes: Attenborough (que demonstrou um pouco de preguiça na direção) poderia ter explorado os bastidores da Hollywood do início do século XX, com suas brigas por poder, suas fofocas, seu glamour e a construção do cinema mais popular do biografado. Ou poderia ter optado por narrar as aventuras amorosas e sexuais de Chaplin e suas eventuais complicações - o relacionamento com a perturbada Joan Barry (Nancy Travis), o casamento feliz com Paulette Godard (Diane Lane) e a felicidade ao lado de Oona O'Neil (Moira Kelly), por exemplo. Ao tentar reunir tanta informação em um filme de duração comercial - menos de 2 horas e meia - o roteiro impede o espectador de ter um contato mais profundo com qualquer personagem e situação. Fica-se, então, privado do ótimo trabalho de Kevin Kline como Douglas Fairbanks Jr. ou de Diane Lane como Paulette Goddard - sem falar que a simpatia de Chaplin em relação ao povo judeu (e sua subsequente fama de "comunista") tem muita origem em seu casamento com ela. Logicamente seria impossível dentro dos limites do tempo equilibrar tudo que precisa ser contado, mas um pouco de foco não faria mal nenhum e ainda ajudaria na contemplação dos destaques da produção, essa sim, digna de nota.

Não foi à toa que "Chaplin" foi indicado ao Oscar de direção de arte. É visível o capricho na reconstituição da época mostrada no filme, assim como o figurino e a maquiagem. É fascinante a maneira com que Attenborough revela ao público alguns segredos de como eram realizados os filmes nos anos 10 e 20, bem como apresenta de maneira simpática a origem das ideias de Chaplin para resolver - de forma barata e eficiente - seus problemas criativos. Mas nem mesmo esse cuidado todo e a bela e delicada trilha sonora de John Barry - também indicada ao Oscar - não impedem que seja percebido o óbvio: "Chaplin" deve tudo o que é à interpretação arrebatadora de Robert Downey Jr.

Indicado ao Oscar por seu trabalho, Downey entrega uma atuação quase mediúnica. Ele desaparece dentro da personagem, fazendo com que o público esqueça que ali está um ator na pele de uma personalidade real. Para a audiência, Downey e Chaplin são a mesma pessoa, ao menos durante a duração do filme. É uma pena que ele tenha que arrancar essa atuação de dentro de si sem um roteiro que lhe faça jus. É de se imaginar o quão sensacional ele teria sido se tivesse uma base melhor!!!

Um comentário:

renatocinema disse...

Chaplin era um gênio. Robert Downey Jr. faz seu melhor trabalho sem dúvida alguma.

Bela homenagem ao cineasta do humor inteligente, clássico e caricato.

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