quarta-feira

LANTERNAS VERMELHAS

LANTERNAS VERMELHAS (Da hong deng long gao gao gua, 1991, 125min) Direção: Zhang Yimou. Roteiro: Su Tong, Ni Zhen. Fotografia: Lun Yang, Fei Zhao. Montagem: Yuan Du. Música: Naoki Tachikawa, Jiping Zhao. Figurino: Huamiao Tong. Direção de arte: Juiping Cao. Produção executiva: Hsiao-hsien Hou, Wenze Zhang. Produção: Fu-Sheng Chiu. Elenco: Gong Li, He Saifei, Cao Cuifen, Zhao Qi, Jingwu Ma. Estreia: 10/9/91

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

No início dos anos 90, o Oriente rendeu-se à cinematografia chinesa, graças a diretores como Zhang Yimou e Chen Kaige, que, donos de imenso talento e visão política, encantaram as plateias cinéfilas com filmes como "Adeus, minha concubina", do segundo e "Lanternas vermelhas", dirigido pelo primeiro. Além de retratarem a história e as tradições de sua terra, os cineastas tinham ainda um apuradíssimo senso estético, o que fica claro quando se assiste a suas obras. "Lanternas vermelhas", por exemplo, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um belo exercício de equilibrar uma história fascinante com um visual arrebatador. Não bastasse isso, ainda tem seu elenco liderado por Gong Li, que tornou-se uma espécie de musa do cinema chinês de sua época. Dona de uma beleza clássica e delicada, Gong Li apresenta, em "Lanternas vermelhas" uma de suas melhores atuações.

Ela vive Songlian, uma jovem de 20 anos que é obrigada, depois da morte do pai, a abandonar os estudos e aceitar o casamento com um homem muito mais velho e que já tem três esposas. É na China dos anos 20 que tudo se passa, e Songlian, tão logo chega na vasta propriedade do marido (cujo rosto nunca aparece nitidamente) toma contato com as regras e tradições do lugar. A mais importante delas diz respeito às lanternas vermelhas que são acesas diante dos aposentos da mulher escolhida pelo senhor da casa: ao ser escolhida para ter a presença do marido em sua cama, a esposa tem direito a regalias tais como massagens e escolha do cardápio. No entanto, ser escolhida também implica em ser invejada pelas outras, o que Songlian logo também descobre. A Primeira Esposa, Yuru (Shuyuan Jin) é mais velha e conformada com o fato de não ter mais a juventude e o sabor de novidade de seus primeiros dias. A Segunda Esposa, Zhuoyan (Cuifen Cao) é simpática, agradável e compreensiva, dando à nova dona-de-casa dicas importantes sobre a convivência da casa. E a Terceira Esposa, Meishan (Saifei He), uma ex-cantora da ópera de Pequim, é bela, invejosa e ciumenta. Além de ter que acostumar-se com tudo que acontece à sua volta, Songlian tem também que lidar com a criada traiçoeira e com as intrigas, conspirações e jogos de poder que se desenrolam nos aposentos do marido e suas esposas.

Um estudo psicológico e social extremamente bem acurado da China do início do século XX, "Lanternas vermelhas" é também um forte manifesto contra o papel de inferioridade a que as mulheres eram relegadas na época. O paradoxo de utilizar personagens femininas fortíssimas para contar uma história passada em uma época em que isso era absolutamente proibido - e qualquer tentativa de rebelião poderia condenar à morte - é apenas um dos lances de mestre da trama, contada em capítulos bem definidos, marcados pelas estações do ano. Narrada dentro de um período de doze meses, a saga de Songlian é fotografada com maestria, em cores fortes e quentes. Muitas cenas são filmadas de longe, deixando ainda mais evidente o cuidado com que Yimou tem com a plasticidade de seus filmes. A trilha sonora empolgante também se destaca, em especial nos momentos mais dramáticos, dando o tom exato de cada surpresa do imprevisível roteiro.

Ao jamais deixar que o público antecipe a cena seguinte - uma qualidade rara em roteiros dramáticos - a trama de "Lanternas vermelhas" surpreende com o desenrolar das desventuras de Songlian em busca do controle de seu destino. Aparentemente frágil, a protagonista se transforma em uma mulher capaz de lutar em pé de igualdade com todas as falsidades e meias-verdades de seu novo universo, repleto de mentiras que, desvendadas perante seus olhos atônitos - e da plateia embevecida - a transformam de jovem inexperiente em mulher decidida e irredutível em suas decisões, mesmo que elas levem a uma tragédia inesperada.

"Lanternas vermelhas" é um filme apaixonante, que consegue unir a cultura de um país fascinante com um drama bem escrito, dirigido e fotografado com primor. É inteligente, belo e trágico como o bom cinema deve ser! Imperdível para quem quer começar a conhecer a filmografia chinesa e para quem deseja apenas ser deslumbrado.

5 comentários:

Elton Telles disse...

Gostei do texto. Todos rasgam elogios por "Lanternas Vermelhas". Este eu comprei na Americanas por 12,90 rs, mas, sem motivo algum, acabei engavetando.

As férias estão chegando e vou ter tempo para colocar os filmes em dia =)

Gosto muito do Zhang Yimou, "Herói" é um absurdo de beleza. No entanto, os demais filmes da trilogia dele, eu achei mais estética do que conteúdo, mas ainda são bons.


abs!

Hugo disse...

Apesar da fama de Zhang Yimou, eu assisti apenas a um drama chamado "Nenhum a Menos", sobre crianças em uma escola num vilarejo chinês. Um bom filme por sinal.

Abraço

Película Criativa disse...

Lanternas vermelhas é um ótimo filme. Assisti há um bom tempo atrás e nem lembrava mais dele.

Também gosto do trabalho de Zhang Yimou, seus filmes sempre tem visuais interessantes.

parabéns pelo blog!

Lucinha disse...

Gosto da maioria dos filmes de "Yimou", Lanternas Vermelhas não seria diferente.
Meu filme preferido desse genial diretor é " O Caminho Para Casa".

Aline disse...

FANTÁSTICO - SEM MAIS.

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