segunda-feira

A VIDA EM PRETO E BRANCO

A VIDA EM PRETO E BRANCO (Pleasantville, 1998, New Line Cinema, 124min) Direção e roteiro: Gary Ross. Fotografia: John Lindley. Montagem: William Goldenberg. Música: Randy Newman. Figurino: Judianna Makovsky. Direção de arte/cenários: Jeannine Oppewall/Jay Hart. Produção executiva: Michael De Luca, Mary Parent. Produção: Robert J. Degus, Jon Kilik, Gary Ross, Steven Soderbergh. Elenco: Tobey Maguire, Joan Allen, Jeff Daniels, Reese Witherspoon, William H. Macy, J.T. Walsh, Paul Walker. Estreia: 17/9/98 (Festival de Toronto)

3 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original (Drama), Figurino, Direção de Arte/Cenários

De vez em quando, apesar da mesmice do cinemão americano, surge uma pequena pérola, um filme que, dentro de sua aparente simplicidade, conquista pela inteligência e pela delicadeza. Em 1998, esse filme foi "A vida em preto e branco", uma deliciosa comédia romântica que, por trás de uma sátira carinhosa aos seriados de televisão dos anos 50 - com suas famílias perfeitas e um mundo cor-de-rosa - esconde uma poderosa crítica ao fascismo moral e ao preconceito. Escrita e dirigida por Gary Ross - que cinco anos depois veria seu quadradinho "Seabiscuit, alma de herói" ser alçado à importante indicação ao Oscar de melhor filme - a co- produção de Steven Soderbergh é um deleite para os olhos e para a alma.

A princípio, parece bem bobinho - e talvez seja essa a intenção de Ross: um casal de irmãos gêmeos, a exuberante Jennifer (Reese Witherspoon antes da fama que acabou lhe rendendo um Oscar) e o introvertido David (Tobey Maguire) começam a brigar pela posse do controle remoto da televisão, cada um acreditando ter motivos mais fortes que o outro para ter o domínio da programação. Enquanto Jennifer espera assistir a um programa musical ao lado do colega de escola por quem tem uma forte atração, David prefere dedicar-se à "Maratona Pleasantville", que irá mostrar, sem interrupção, diversos episódios de sua série preferida - e acabar com um quiz que pode lhe dar um prêmio. A briga é interrompida quando o controle quebra e eles recebem a visita de um misterioso homem, que, ao invés de consertá-lo, joga os dois dentro do programa adorado por David. De uma hora pra outra, os dois adolescentes dos anos 90 - acostumados com refeições saudáveis e uma vida sem normas muito rígidas de comportamento social - se veem em um mundo totalmente diferente, tanto em termos morais quanto estéticos.


Enquanto David - acostumado com as regras desse novo mundo e ciente de todos os meandros de sua sociedade - sai-se bastante bem na suas tentativas de integrar-se a ele, Jennifer, rebelde por natureza, passa a questionar um por um dos itens que fazem da cidade um exemplo de convivência pacífica e apática. Seu desejo liberador por Skip Martin (Paul Walker) é o catalisador de uma profunda transformação na pacata Pleasantville, que nunca antes havia falado, pensado ou imaginado qualquer coisa relacionada à sexo ou sentimentos que pudessem abalar o status quo. Com a chegada dos irmãos, o mundinho em preto-e-branco da cidade começa a colorir-se conforme as pessoas passam a experimentar novas sensações - e até a mãe do casal, Betty (Joan Allen) descobre que amor é algo bem diferente da comodidade indiferente que sente ao lado do marido (em uma sequência genial onde ela encontra o caminho para a satisfação sexual em um banho de banheira que acaba dando trabalho aos bombeiros da cidade, que até então não faziam nada mais do que salvar gatinhos em árvores).

Utilizando-se de metáforas visuais para atacar o conformismo - e as tentativas ditatoriais para mantê-lo como forma de controle - "A vida em preto e branco" tem o mérito de não esquecer, em momento algum, que, antes de receber uma mensagem, o público procura uma boa história, narrada com coerência e clareza. E isso não é negado à plateia do filme de Ross, que testemunha, diante de seus olhos, uma trama delicada, por vezes engraçada e muito comovente, contada com recursos visuais deslumbrantes. Da fotografia de John Lindley até a criação de toda a Pleasantville - passando pela trilha sonora emocionante de Randy Newman, que comporta inclusive um versão de "Across the universe" na voz de Fiona Apple - tudo conflui para um resultado nunca aquém de soberbo, capaz de encantar qualquer audiência que se disponha a abrir o coração. Um pequena obra-prima.

Um comentário:

Hugo disse...

É um ótimo filme com uma belíssima fotografia e um roteiro muito bem elaborado que toca em temas como frustração e preconceito, sem contar o elenco muito bom.

Abraço

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