segunda-feira

TIROS NA BROADWAY

TIROS NA BROADWAY (Bullets over Broadway, 1994, Miramax Films/Sweetland Films, 98min) Direção: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen, Douglas McGrath. Fotografia: Carlo Di Palma. Montagem: Susan E. Morse. Figurino: Jeffrey Kurland. Direção de arte/cenários: Santo Loquasto/Susan Bode, Amy Marshall. Produção executiva: J.E. Beaucaire, Jean Doumanian. Produção: Robert Greenhut. Elenco: John Cusack, Dianne Wiest, Chazz Palminteri, Rob Reiner, Jennifer Tilly, Mary-Louise Parker, Jim Broadbent, Tracey Ulman, Joe Viterelli, Jack Warden, Harvey Fierstein. Estreia: 01/10/94

7 indicações ao Oscar: Diretor (Woody Allen), Roteiro Original, Ator Coadjuvante (Chazz Palminteri), Atriz Coadjuvante (Jennifer Tilly/Dianne Wiest), Figurino, Direção de Arte/Cenários
Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante (Dianne Wiest)
Vencedor do Golden Globe de Atriz Coadjuvante (Dianne Wiest)

Poucas vezes um filme de Woody Allen teve uma acolhida tão generosa por parte da Academia quanto "Tiros na Broadway". Indicada a sete Oscar, a divertida comédia passada nos bastidores do teatro dos anos 20 conquista pelo humor inteligente e sarcástico, pela reconstituição de época caprichada e, como é de costume na obra do cineasta nova-iorquino, pelo elenco impecável. Não foi à toa que três de seus atores foram indicados a um estatueta e Dianne Wiest tenha arrebatado a sua segunda - a primeira, por outro filme de Allen, "Hannah e suas irmãs", ela recebeu em 1986. Na pele de Helen Sinclair, uma diva dos palcos com tendências alcóolicas e egocêntricas, Wiest só não rouba a cena porque, a seu lado, estão os surpreendentes Chazz Palminteri (dramaturgo até então desconhecido pelos fãs de cinema) e Jennifer Tilly (que deixou pra trás trabalhos esquecíveis como "A fuga", com Alec Baldwin e Kim Basinger graças a seu desempenho hilariante).

Liderando o elenco de peso está John Cusack, que interpreta David Shayne, um jovem dramaturgo que, a despeito da qualidade de seu texto, acumula fracasso em cima de fracasso. Sua grande chance acontece quando sua última peça, "O deus dos nossos pais" encontra um patrocinador inesperado, o mafioso (Joe Viterelli), cuja única exigência é que sua amante, Olive Neal (Jennifer Tilly), tenha um papel de destaque. A princípio irredutível em vender sua arte, David acaba convencido por seu empresário Nick Valenti (Jack Warden) a aceitar a ideia, principalmente porque, com o financiamento, poderá contar com a presença de Helen Sinclair (Wiest), uma atriz de primeira grandeza. Porém, a presença histérica da péssima Olive é a apenas o primeiro problema na trajetória do espetáculo: quando os ensaios começam, os atores passam a questionar o texto e as ideias do dramaturgo, e o segurança de Olive, o agressivo Cheech (Chazz Palminteri) começa a dar suas próprias ideias para mudar o desenrolar da trama.


Afiado como nunca - e dividindo os créditos do roteiro com Douglas McGrath, em um acontecimento raríssimo em sua carreira - Allen não dá ao espectador tempo para recuperar-se de um diálogo sensacional para presenteá-lo imediatamente com outro. Enquanto Wiest desfila seu festival de ironias pela tela - e lega um clássico "Don't speak!" para a posteridade - os demais atores deitam e rolam com personagens bem delineados e de importância para o desenvolvimento da comédia proposta. Jim Broadbent, por exemplo, antes do Oscar de coadjuvante por "Iris", vive um ator que engorda a olhos vistos durante o processo de ensaios e acaba sendo responsável por uma crise nas coxias quando se envolve romanticamente com quem não devia - erro que o próprio David também comete quando se apaixona por Helen mesmo já tendo um relacionamento sério.

Divertido, inteligente e irônico na medida certa, "Tiros na Broadway" comprova as qualidades de Woody Allen como cineasta e roteirista popular - contrariando sua fama de hermético. As piadas, mesmo que sejam muito mais interessantes a um público que conheça os bastidores do teatro, são de um sarcasmo a toda prova e o desfecho - coerente e imprevisível - faz jus a todo o alvoroço que o filme provocou e suas indicações aos Oscar de direção e roteiro original. Um Allen dos melhores!

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro! A contradição do dramaturgo versus mafiosos é sensacional... vida de dramaturgo não é fácil !

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