quarta-feira

CAMPO DOS SONHOS

CAMPO DOS SONHOS (Field of dreams, 1989, Universal Pictures, 107min) Direção: Phil Alden Robinson. Roteiro: Phil Alden Robinson, romance "Shoeless Jackson", de W.P. Kinsella.  Fotografia: John Lindley. Montagem: Ian Crafford. Música: James Horner. Figurino: Linda Bass. Direção de arte/cenários: Dennis Gassner/Nancy Haigh. Produção executiva: Brian Frankish. Produção: Charles Gordon, Lawrence Gordon. Elenco: Kevin Costner, James Earl Jones, Amy Madigan, Ray Liotta, Burt Lancaster, Frank Whaley, Gabby Hoffman. Estreia: 21/4/89

3 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original

No início dos anos 90 não havia ator mais quente em Hollywood do que Kevin Costner - que chegou a ver sua estreia como diretor, "Dança com lobos" sair da festa do Oscar 91 com sete estatuetas, incluindo filme e direção. Um dos pontapés iniciais dessa febre foi "Campo dos sonhos", um drama com toques espirituais e o beisebol como pano de fundo que surpreendeu nas bilheterias e foi indicado ao Oscar de melhor filme e roteiro adaptado. Ainda que já tivesse dois sucessos no currículo, foi o papel de Ray Kinsella, um íntegro fazendeiro do Iowa que arrisca sua propriedade ao seguir vozes do além que o transformou em astro de primeira grandeza - afinal de contas, "Os intocáveis" tinha a direção de Brian DePalma e o nome de Robert DeNiro como chamarizes.

Baseado no romance "Shoeless Jackson" - inédito no Brasil - "Campo dos sonhos" exige do espectador uma entrega total à história, quase inimaginável nos cínicos anos 80 e 90. Em sua personalização de James Stewart de seu tempo, Costner esbanja simpatia e carisma em uma trama que mescla espiritualismo, relações familiares, lembranças do passado e esporte sem exagerar em nenhum quesito e emociona sem apelar demasiadamente para o lacrimoso. Se suas indicações ao Oscar foram exageradas - em um ano onde estavam na disputa os poderosos "Nascido em 4 de julho" e "Sociedade dos poetas mortos" - é inegável que o filme de Phil Alden Robinson (que mais de dez anos depois assinaria "A soma de todos os medos" e mostraria que entende de adrenalina) cumpre o que promete, mesmo para o público que não tem pelo beisebol nada mais do que indiferença.


O beisebol é apenas o pano de fundo de "Campo dos sonhos", podendo ser substituído por qualquer esporte sem a perda da essência de sua narrativa. Ray Kinsella (Costner) é dono de uma fazenda de milho no interior do Iowa que um dia, do nada, começa a ouvir vozes que repetem sempre a mesma sentença: "Se você construí-lo, ele virá!" Sem saber exatamente o motivo, ele interpreta a mensagem como uma ordem para que construa um estádio de beisebol onde está sua plantação de milho. Mesmo arriscado a perder tudo, ele conta com o apoio da esposa Annie (Amy Madigan) e se surpreende quando, depois do estádio pronto, recebe a visita de Shoeless Joe Jackson (Ray Liotta), um jogador de beisebol banido do esporte em 1919 depois de um escândalo. Aos poucos, diante dos olhos atônitos de Ray, um grupo inteiro de jogadores já mortos começa a frequentar seu estádio. Já que as vozes continuam a orientá-lo, o fazendeiro inicia então uma jornada em direção aos reais objetivos de sua missão. Para isso, ele precisa da ajuda do recluso escritor Terence Mann (James Earl Jones).

Inspirado no escritor J.D. Salinger, Terence Mann é um personagem fictício que remete Kinsella diretamente a seus dias de juventude idealista em que, ao lado da esposa, lutava contra as injustiças sociais. É Mann quem irá ajudar o protagonista em sua busca e é ele quem irá testemunhar o encontro do rapaz com um jovem Archibald Graham (Frank Whaley) - que mais tarde irá revelar-se mais importante do que parece a princípio. No fundo de tudo, está a relação de Kinsella com seu falecido pai - uma relação marcada pelo rancor e por palavras não ditas e que encontrará no estádio de beisebol uma forma de redenção.

Se Costner é a mola-mestra do filme, servindo como ponto de partida e retorno, o elenco coadjuvante de "Campo dos sonhos" não poderia ser mais adequado. James Earl Jones brilha como o irascível Terence Mann, que mostra seu lado gentil no decorrer da trama. Burt Lancaster tem uma participação afetiva brilhante como o velho doutor Archibald Graham em um momento crucial - ainda que pouco explorado pela direção de Robinson. E Ray Liotta quase rouba a cena como o rebelde Shoelles Jackson do título do romance - antes de protagonizar "Os bons companheiros", de Scorsese, o ator transmite todas as emoções do personagem sem precisar de muitos diálogos.

"Campo dos sonhos" é um belo e sensível filme que tira partido do carisma de Kevin Costner e de uma história sentimental (e não piegas) que trata de amor, sonhos despedaçados e da força da fé.

Um comentário:

Hugo disse...

É um belíssimo filme com ótimas atuações que mostram que Costner e Liotta tem talento, pena que fizeram muitas escolhas ruins durante a carreira.

A história dos jogadores da beisebol expulsos da liga em 1919 rendeu também um belo filme chamado "Fora da Jogada", dirigido por John Sayles.

Abraço

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