ABC DO AMOR (Little Manhattan, 2005, New Regency Pictures, 84min) Direção: Mark Levin. Roteiro: Jennifer Flackett. Fotografia: Tim Orr. Montagem: Alan Edward Bell. Música: Chad Fischer. Figurino: Kasia Walicka-Maimone. Direção de arte/cenários: Stuart Wurtzel/Diane Lederman. Produção executiva: Vivian Cannon, Kara Francis. Produção: Gavin Polone. Elenco: Josh Hutcherson, Charlie Ray, Bradley Whitford, Cynthia Nixon. Estreia: 26/9/05 (Festival de Cinema do Rio de Janeiro)
A trama de "ABC do amor" segue o padrão do gênero: rapaz se apaixona perdidamente por uma colega de karatê, tenta conquistá-la, vive momentos inesquecíveis a seu lado, fica inseguro quando um outro homem surge no caminho de seu relacionamento e sofre com todas as agonias que o amor acarreta. O que diferencia o filme de Mark Levin dos demais exemplares das comédias românticas, então? O fato simples de que Gabe, o protagonista, tem apenas 10 anos de idade e está experimentando, com sua paixão avassaladora pela pequena Rosemary Telesco, o primeiro amor de sua vida. Com roteiro escrito por sua mulher, Jennifer Flackett, Levin criou uma pequena obra-prima de delicadeza, sensibilidade e bom-humor conduzido pela interpretação encantadora de Josh Hutcherson - que posteriormente faria sucesso como um dos protagonistas da série de filmes "Jogos vorazes".
Hutcherson interpreta Gabe - o filho único de um casal de pais separados que ainda moram no mesmo apartamento em Nova York - com carisma de gente grande. É graças a seu encanto que o público embarca sem reservas na sua dramática/engraçada/lírica história de amor com Rosemary (Charlie Ray), uma colega de jardim-de-infância que ele reencontra depois de um tempo e por quem se apaixona perdidamente. Através de Gabe e seus dramas e paranoias- adequadamente exagerados por serem vistos pelos olhos de uma criança - a audiência revive um momento no tempo em que amar é a única coisa que existe. O sorriso de Gabe ao sentir os braços da amada ao redor de seu corpo, suas lágrimas sentidas quando prevê a separação (que pode ou não ocorrer), a angústia do ciúme e o sentimento de impotência diante de situações imprevistas são postas sob uma lente de aumento, retratando uma espécie de amor que, querendo ou não, a plateia anseia reviver na maturidade.
Vendido como um filme infanto-juvenil, "ABC do amor" é, na verdade, uma obra que pode - e deve - ser vista como um romance qualquer, com a diferença de que é muito superior à boa parte das comédias que são lançadas a granel pelos estúdios. Mesmo que não ultrapasse um inocente primeiro beijo e deixe de lado as elocubrações erótico/desesperadas da maioria de seus congêneres, o filme de Levin ganha pontos ao proporcionar ao público uma espécie de nostalgia sentimental normalmente tida como sentimentaloide pelos críticos de plantão. A docilidade do amor de Gabe por Rosemary - refletida em sua liberdade pelas ruas que frequenta com propriedade a bordo de seu patinete - não é tratada com condescendência irresponsável, e sim com o carinho que somente sobreviventes de um primeiro amor conseguem retratar. E é praticamente impossível não sorrir diante das desventuras amorosas de um personagem como Gabe.
Apresentando também um senso de humor bastante engraçado - e apropriadamente puro, como a relação entre seus protagonistas - "ABC do amor" é um filme sem contra-indicações, exceto, é claro, para aqueles cínicos e fãs de piadas grosseiras e histórias violentas e desprovidas de poesia. O filme de Mark Levin é poesia juvenil, cheia de bons sentimentos e um elenco impecável que inclui Cynthia Nixon - a Miranda da série "Sex and the city" - e Bradley Whitford, um dos atores mais subaproveitados de Hollywood. É um exemplo de sessão da tarde das mais competentes e fascinantes.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
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Um comentário:
Achei fofo, eu era assim aos 11...
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