UMA LIÇÃO DE AMOR (I am Sam, 2001, New Line Cinema, 132min) Direção: Jessie Nelson. Roteiro: Jessie Nelson, Kristine Johnson. Fotografia: Elliot Davis. Montagem: Richard Chew. Música: John Powell. Figurino: Susie DeSanto. Direção de arte/cenários: Aaron Osborne/Jennifer M. Gentile, Garrett Lewis. Produção executiva: Michael De Luca, Claire Rudnick Polstein, David Rubin. Produção: Marshall Herskovitz, Jessie Nelson, Richard Solomon, Edward Zwick. Elenco: Sean Penn, Michelle Pfeiffer Dakota Fanning, Dianne Wiest, Laura Dern, Richard Schiff, Doug Hutchinson. Estreia: 03/12/01
Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Sean Penn)
Em "Trovão tropical", de 2008, o ator interpretado por Ben Stiller (também diretor do filme) sofria com o fracasso de sua atuação como um jovem com problemas mentais - que ele julgava ser o caminho mais fácil para um Oscar. É difícil não pensar na comédia de Stiller quando se assiste à "Uma lição de amor", drama lacrimoso pelo qual Sean Penn - sem a menor dúvida um dos maiores atores de sua geração - foi indicado a uma estatueta da Academia. Carregando nas tintas de sua interpretação, Penn chega perto da caricatura como Sam Dawson, um homem com a idade mental de um criança de sete anos que vai aos tribunais para garantir a guarda da pequena Lucy (Dakota Fanning), de quem cuida desde seu nascimento - e que, segundo a justiça, precisa de uma família capaz de mantê-la em segurança e estabilidade financeira.
Dirigido sem o menor traço de sutileza, "Uma lição de amor" força a lágrima do espectador sem dó nem piedade, ainda que justamente o exagero de sentimentalismo possa surtir efeito contrário ao público menos propenso a manipulações emocionais. Sam, o personagem encarnado por Penn, pode até ser amoroso e dedicado à pequena Lucy (estreia da sensacional Dakota Fanning), mas, a despeito de seus bons sentimentos, é incapaz de proporcionar a ela mais do que isso. A maneira com que o roteiro conduz a situação - Sam é um homem sem defeito algum, exceto sua deficiência mental, enquanto todos os outros são poços de insensibilidade - é maniqueísta ao extremo, chegando ao cúmulo de fazer com que sua advogada, a bem-sucedida Rita Harrison (Michelle Pfeiffer, sempre linda e carismática), repense sua própria vida e sua relação com o filho pequeno. Clichês às vezes fazem bem a um filme. Uma coleção deles, portanto, enfraquece o resultado final.
Além do fato de não explicar de forma satisfatória como Sam - que é incapaz de coisas básicas do dia-a-dia - conseguiu tornar-se pai, o roteiro de "Uma lição de amor" apela constantemente para cenas lacrimosas, com golpes baixos em busca da reação desejada. Se Dakota Fanning rouba a cena com sua madura Lucy - responsável pelos raros bons momentos do filme - e Michelle Pfeiffer tem pouco a fazer com sua advogada fria transformada em um ser humano melhor pelo poder do amor, o elenco coadjuvante tenta dar dignidade a diálogos de novela das nove. Dianne Wiest, por exemplo, está soberba como sempre como a vizinha de Sam, que tem na cena de seu depoimento no tribunal uma chance de mostrar porque é uma das atrizes preferidas de Woody Allen. E Laura Dern faz o que pode para sobreviver à sua personagem, a mãe adotiva de Lucy que entra em conflito com Sam e sua advogada.
Mas não resta dúvidas de que, à parte Dakota e seu talento inverso a seu tamanho, o que existe de melhor em "Uma lição de amor" é sua trilha sonora. Composta por canções dos Beatles - ídolos do protagonista, que tem a capacidade de divagar sobre eles por horas a fio - interpretadas por artistas contemporâneos com Sheryl Crow, Rufus Weinright e Eddie Vedder, ela dá um interesse extra ao projeto, deixando as mais de duas horas de projeção menos pesadas. No entanto, o que fica é a conclusão definitiva de que Penn é muito melhor do que o filme, apesar do equívoco de sua atuação.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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