terça-feira

ALPHA DOG

ALPHA DOG (Alpha dog, 2006, Sidney Kimmel Entertainment, 122min) Direção e roteiro: Nick Cassavetes. Fotografia: Robert Fraisse. Montagem: Alan Heim. Música: Aaron Zigman. Figurino: Sarah Jane Slotnick. Direção de arte/cenários: Dominic Watkins/Faince MacCarthy. Produção executiva: Robert Geringer, Marina Grasic, Andreas Grosch, Avram Butch Kaplan, Jan Korbelin, Steve Markoff. Produção: Sidney Kimmel, Chuck Pacheco. Elenco: Bruce Willis, Sharon Stone, Emile Hirsch, Justin Timberlake, Ben Foster, Shawn Hatosy, Anton Yelchin, Dominique Swain, Amanda Seyfried, Harry Dean Stanton, Lukas Haas. Estreia: 27/01/06 (Festival de Sundance)

Em 1994, Larry Clark tornou-se um nome quente dentro de Hollywood graças ao controverso "Kids", que narrava o estilo de vida de um grupo de adolescentes que passava os dias às voltas com drogas pesadas e sexo promíscuo. O filme - que lançou as carreiras de Rosario Dawson e Chloe Sevigny - chocou o público e despertou acaloradas discussões, mas falhava flagrantemente em ser bom cinema, talvez pela vocação de seu diretor, mais propenso ao escândalo do que a uma boa história. Reprovado no teste do tempo, "Kids" é, hoje em dia, no máximo o retrato cru de uma geração perdida. Em oposição a essa sua fragilidade narrativa, outro filme com temática semelhante - e lançado mais de uma década depois - consegue ser muito mais eficaz e impactante: "Alpha dog", escrito e dirigido por Nick Cassavetes, é contundente e tocante na mesma medida, proporcionando ao público tanto um filme policial angustiante quanto um drama familiar potente e dramaticamente sólido.

Baseado em um fato real - do qual Cassavetes foi obrigado a fazer pequenas alterações por motivos judiciais - "Alpha dog" é uma denúncia de grande impacto, sem nunca transformar-se, porém, em uma obra panfletária e vazia. Excepcional diretor de atores (herança de seu pai, o ator e diretor John Cassavetes), Nick arranca de seu elenco - tanto o veterano quanto o jovem - interpretações de grande intensidade, devido em parte ao roteiro realista e repleto de cenas que dão espaço a belos trabalhos de construção de personagens. Ben Foster, por exemplo, brilha como Jake Mazursky, jovem viciado em drogas explosivo e violento que acaba sendo o catalisador da tragédia ao dever dinheiro - e um tanto de respeito - ao traficante Johnny Truelove (Emile Hirsch, sensacional), filho de uma família de classe média desacostumado a ter seus caprichos negados. Furioso com a dívida e com as agressões de Mazursky, Truelove resolve, em um impulso inconsequente, sequestrar seu irmão caçula, Zach (Anton Yelchin, na medida exata de ingenuidade e docilidade), de apenas 15 anos. Enquanto a família do rapaz entra em desespero com seu desaparecimento, o traficante confia a seu melhor amigo, Frankie (Justin Timberlake), a posse do menino. Zach, um garotão virgem e em conflito com a mãe superprotetora (Sharon Stone), vê em Frankie e seu grupo - cercado de belas garotas e uma liberdade com que apenas sonha em sua casa - uma nova forma de vida e nem de longe percebe que, quanto mais o tempo passa, menores ficam suas chances de ser libertado.


Abrindo seu filme com vídeos caseiros de seus atores jovens ao som de "Over the rainbow" - e encerrando com a bela "Wild is the wind", na voz de David Bowie - Nick Cassavetes tem a sensibilidade ideal para contar uma história sufocante, que constrói sua tensão passo a passo, que permite à audiência entender os atos de seus protagonistas por mais equivocados que eles estejam. É certo que a simpatia da plateia fica com Zach, o inocente útil pego no meio de um furacão, mas o carisma de Justin Timberlake e Emile Hirsch consegue amenizar a falta de caráter de seus personagens - em especial de Frankie, criado por Timberlake com um misto de insegurança e compaixão que quase lhe transforma em mais uma vítima da violência que ele mesmo causa - voluntariamente ou não. E é fascinante a maneira como Cassavetes extrai de Sharon Stone seu melhor desempenho desde sua indicação ao Oscar por "Cassino", realizado onze anos antes: a entrevista de sua personagem no desfecho do filme é, provavelmente, uma das cenas mais emocionalmente brutais do cinema americano independente dos últimos anos.

"Alpha dog" é violento, é triste, é chocante. Conquista o público com personagens amorais e pouco simpáticos justamente por sua neutralidade ao falar de um estilo de vida irresponsável e cínico, capaz de destruir vidas sem grandes remorsos. E é o melhor trabalho de um cineasta que gosta de atores e de personagens de carne-e-osso, coisa rara na robotizada Hollywood das grandes bilheterias.

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