ECOS
DO ALÉM (Stir of echoes, 1999, Artisan Entertainment, 99min) Direção:
David Koepp. Roteiro: David Koepp, romance de Richard Matheson.
Fotografia: Fred Murphy. Montagem: Jill Savitt. Música: James Newton
Howard. Figurino: Leesa Evans. Direção de arte/cenários: Nelson
Coates/David Krummel. Produção executiva: Michele Weisler. Produção:
Judy Hofflund, Gavin Polone. Elenco: Kevin Bacon, Illeana Douglas,
Kathryn Erbe, Zachary David Cope, Kevin Dunn. Estreia: 28/7/99
Em
1999, um filme estrelado por um astro dos anos 80 voltando a chamar a
atenção da crítica e um menino com o poder de ver e falar com fantasmas
chegou às telas de cinema para assustar às plateias e deixá-la grudada
na poltrona. Não, não estamos falando de "O sexto sentido", que, com
Bruce Willis à frente dos créditos e um roteiro pra lá de bem amarrado
seduziu o público do mundo todo, transformando-se em um dos maiores
sucessos de bilheteria da história, e sim de "Ecos do além", que, com
trazendo alguns elementos semelhantes, teve o azar de estrear poucos
meses depois, quando todos ainda estavam encantados e/ou assombrados
pela trama de M. Night Shyamalan e mal perceberam suas qualidades.
Baseado em um livro de Richard Matheson, autor de clássicos
sobrenaturais com o romântico "Em algum lugar do passado", o filme de
David Koepp - cuja estreia como diretor foi o subestimado "Efeito
dominó", de 1996, não fez feio nas bilheterias, mas foi eclipsado sem
pena pela obra do cineasta indiano. Merece, depois de mais de uma
década, ser descoberto pela audiência.
Kevin Bacon - um
ator de extrema competência, que sai-se bem tanto como herois quanto
como vilões - interpreta o personagem principal, Tom Witzky, um músico
frustrado que vive do emprego na companhia telefônica para manter a
família, a esposa Maggie (Kathryn Erbe) e o filho pequeno, Jake (Zachary
David Cope). Na mesma noite em que fica sabendo que será pai pela
segunda vez - fato que o afunda ainda mais na mediocridade de um
cotidiano que não o faz feliz - ele aceita ser hipnotizado pela cunhada,
Lisa (Illeana Douglas), em uma festa da vizinhança. Sem lembranças do
que aconteceu durante o período em que esteve desacordado, ele tenta
seguir sua vida normal, mas começa a ser assombrado por visões de uma
jovem fantasmagórica e flashes incompreensíveis de um crime cujos
detalhes ele não consegue discernir. Ao mesmo tempo, seu filho também
mantém contato com a garota, que ele descobre chamar-se Samantha Kozac
(Jennifer Morrison) e ter desaparecido há algum tempo, antes mesmo de
sua mudança para o bairro. Aos poucos, Tom vai perdendo o equilíbrio
emocional, envolvendo toda a família em sua loucura.
Com
um tom bastante diferente daquele mostrado em "O sexto sentido" - que
equilibrava o suspense com toques emocionais sofisticados e sutis -
"Ecos do além" mescla os sustos de um filme de fantasmas com uma trama
policial consistente e verossímil, apesar de resvalar em um clímax
desnecessariamente barulhento e lugar-comum, que substitui a tensão
construída com cuidado até então por um desfecho quase preguiçoso.
Sustentada por uma trilha sonora adequada de James Newton Howard -
coincidentemente ou não também o autor da música do filme de Shyamalan -
e um clima de angústia crescente proposto pela fotografia de Fred
Murphy, que utiliza com precisão a luz noturna para sublinhar a
escuridão cada vez mais profunda em que Tom vai penetrando, a trama de
Matheson ganha contornos bem reais quando se percebe que, por trás de
ectoplasmas misteriosos e hipnoses profundas, é a maldade humana quem
está por trás de todo o drama. Esse pé fincado na realidade é a maior
qualidade do filme, valorizado pela presença forte e contundente de
Kevin Bacon.
Não fosse a presença de Bacon em seu papel
central, "Ecos do além" estaria fadado a ser confundido com apenas mais
um suspense feijão-com-arroz, daqueles que abarrotam as prateleiras das
videolocadoras. Sua presença, porém, confere autenticidade e
credibilidade ao filme, transformando-o em uma produção bem acima da
média do gênero. Pode não ser um "O sexto sentido", mas quantos filmes o
são??
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sábado
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