segunda-feira

A CALDEIRA DO DIABO


A CALDEIRA DO DIABO (Peyton Place, 1957, 20th Century Fox, 157min) Direção: Mark Robson. Roteiro: John Michael Hayes, baseado no romance de Grace Metalious. Fotografia: William Mellor. Montagem: David Bretherton. Música: Franz Waxman. Produção: Jerry Wald. Elenco: Lana Turner, Lee Philips, Arthur Kennedy, Lloyd Nolan, Russ Tamblyn, Hope Lange, Diane Varsi, David Nelson. Estreia: 13/12/57

9 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Mark Robson), Atriz (Lana Turner), Ator Coadjuvante (Russ Tamblyn, Arthur Kennedy), Atriz Coadjuvante (Hope Lange, Diane Varsi), Fotografia, Roteiro Adaptado

O destino pode realmente ser muito irônico. Uma prova disso? Em "A caldeira do diabo", adaptado do romance de Grace Metalious, a atriz Lana Turner interpreta Constance McKenzie, uma viúva correta que vive em uma pequena cidade do interior dos EUA no início dos anos 40. Dona de uma pequena loja de roupas, ela tem uma relação conflituosa com a filha única, Allison (Diane Varsi), com quem acaba rompendo depois de uma discussão mais séria, causada por revelações sobre seu passado. O reencontro das duas acontece quando a jovem volta à cidadezinha para acompanhar o julgamento de sua melhor amiga, que assassinou o padrasto que a havia violentado. O que há de irônico nisso? Acontece que, pouco depos da cerimônia do Oscar de 1958, Turner (que perdeu o Oscar de melhor atriz para Joanne Woodward) envolveu-se em um escândalo de grandes proporções, envolvendo sua filha, assédio sexual e um assassinato. A vida imita a arte?

Na década de 50, Turner vivia um tórrido caso amoroso com o gângster Johnny Stompanato, a quem sustentava. Na noite de 4 de abril de 1958, alegando estar protegendo sua mãe da violência do amante, sua filha de apenas 14 anos, Cheryl Crane, o assassinou com uma faca de cozinha. Julgada, ela foi inocentada, mas o caso ganhou as manchetes dos tabloides mundiais (sensacionalistas ou não) e dizem que iria virar filme nas mãos de Adrian Lyne (com Keanu Reeves e Catherine Zeta-Jones nos papéis principais). Mas o que é apenas uma história dos bastidores de Hollywood não deixa de ser uma espécie de eco da trama de "A caldeira do diabo".

Peyton Place - o nome do romance que deu origem ao filme - é também o nome da pacata cidade que é seu cenário. A trama começa no final do ano letivo de 1941, quando o confiante Michael Rossi (Lee Philips) assume o posto de diretor da escola secundarista, para desgosto de seus alunos, que esperavam que o trabalho fosse parar nas mãos de uma professora mais antiga e mais querida. Mesmo sendo persona non grata junto aos alunos, Rossi se encanta com Constance McKenzie (Turner), a mãe de uma das estudantes em vias de formar-se, a sensível Allison, cujo sonho é tornar-se escritora e não entende a forma rígida de sua mãe de ver o progresso e a liberdade sexual. Allison é a melhor amiga de Selena Cross (Hope Lange), a filha de sua empregada, uma moça tímida e romântica que tem sua vida transformada quando é estuprada pelo padrasto, Lucas (Arthur Kennedy), um homem bêbado e violento. Para defender-se de um novo ataque, ela o mata e vai parar no banco dos réus. Só quem pode salvá-la é o médico da cidade, Dr. Swain (Lloyd Nolan), que conhece a verdade sobre a saúde da garota.

"A caldeira do diabo" tem ressonâncias de filmes como "Juventude transviada" na sua tentativa bem intencionada de questionar as relações entre pais e filhos, bem como em sua busca de dar luz aos ares de uma liberalidade sexual que chegaria com força à América nos anos 60. Nesse ponto também tem semelhanças com "Clamor do sexo", que Elia Kazan lançaria em 1961, e com os filmes de Douglas Sirk, ao destruir com precisão cirúrgica a aparência de normalidade de uma sociedade baseada em aparências. É o sexo escondido, temido e malvisto que desencadeia todos os dramas no filme de Mark Robson, enredando suas personagens - na maioria jovens desorientados e frustrados em suas descobertas amorosas - em uma avalanche de tristeza, revolta e violência. Não é à toa que Allison deseja fugir de Peyton Place, de sua mãe e das obrigações de uma vida que exige regras que ela não tenciona cumprir. É Allison, em seu desejo por viver da maneira que anseia que, de certa forma, põe sentido na história criada por Grace Metalious - e age como a narradora do drama.

"A Caldeira do diabo" está longe de ser uma obra-prima. Visto hoje, é de um visual datado, com um roteiro por vezes esquemático (escrito surpreendentemente pelo parceiro habitual de Hitchcock, John Michael Hayes) e um elenco nada excepcional (ainda que 5 atores tenham recebido indicações ao Oscar, um recorde na época). Além do mais, tem uma tendência ao melodrama que pode incomodar aos mais exigentes (não é de admirar que alguns anos depois tenha dado origem a uma longeva série de TV com cara de telenovela). Mas suas intenções são admiráveis e ele tem a cara de sua época, com tudo que isso tem de bom e de mau.

Um comentário:

Rodrigo Guedes disse...

Um dos melhores filme da década ❤️

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