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IMITAÇÃO DA VIDA


IMITAÇÃO DA VIDA (Imitation of life, 1959, Universal Pictures, 124min) Direção: Douglas Sirk. Roteiro: Eleanore Griffin e Allan Scott, baseado no romance de Fannie Hurst. Fotografia: Russell Metty. Montagem: Milton Carruth. Música: Frank Skinner. Produção: Ross Hunter. Elenco: Lana Turner, John Gavin, Juanita Moore, Sandra Dee, Susan Kohner, Troy Donahue, Robert Alda, Dan O'Herlihy. Estreia: 30/4/59

2 indicações ao Oscar: Melhor Atriz Coadjuvante (Susan Kohner, Juanita Moore)
Vencedor do Golden Globe de Atriz Coadjuvante (Susan Kohner)

Antes de abandonar Hollywood e voltar para a sua Alemanha natal, o cineasta Douglas Sirk realizou o que talvez seja, ao lado de "Palavras ao vento", seu filme mais emocional e característico: baseado em um romance de Fannie Hurst, "Imitação da vida" tornou-se seu filme mais bem sucedido em termos de bilheteria, acrescentando um polêmico ingrediente à sua receita de melodramas familiares: o racismo.

Em 1959, Martin Luther King estava no auge de sua luta a favor dos direitos civis dos negros e o romance de Hurst serviu perfeitamente para que Sirk juntasse seu fascínio pelos problemas entre pais e filhos com a nascente preocupação de uma parcela do povo americano com o problema do preconceito racial. Dessa união surgiu um filme poderosamente tocante sobre duas mulheres aparentemente diferentes que se unem na busca pela felicidade das filhas.

A trama de "Imitação da vida" começa no verão de 1947 quando a aspirante a atriz Lora Meredith (Lana Turner), a mãe viúva de uma menina de seis anos de idade, conhece Annie Johnson (Juanita Moore), uma mulher negra que procura um lugar para trabalhar e morar com a filha pequena. As duas acabam se acertando e Annie vai trabalhar com Lora, aproveitando a amizade que surge entre as duas meninas. Aos poucos Lora começa a fazer carreira nos palcos - o que a leva a afastar-se do fotógrafo Steve Archer (John Gavin), apaixonado por ela - e melhorar de vida, deixando de lado a educação da própria filha, que passa a ver em Annie uma figura materna bem mais presente e dedicada - ainda que a filha verdadeira da criada, Sarah Jane, filha de um pai branco, a rejeite por ser negra.

Dez anos depois, quando as meninas estão entrando na juventude, as coisas estão bem diferentes. Lora está famosa e é uma atriz muito bem-sucedida, enquanto Annie é seu braço-direito e melhor amiga. Sarah Jane (Susan Kohner), ainda revoltada com sua origem, esconde de seus amigos e pretendentes que tem sangue negro correndo nas veias, envolvendo-se em situações sempre perigosas e degradantes. E a filha de Lora, Susie (Sandra Dee) se descobre apaixonada por Steve, que volta à vida de sua mãe depois de anos.

"Imitação da vida" é um dramalhão típico, repleto de situações dramáticas que hoje fazem a glória dos autores de telenovelas. Mas ainda assim tem uma aura clássica que o mantém acima de seus congêneres - nem que seja como exemplo de um estilo datado para as gerações posteriores. Lana Turner - recém-saída do escândalo da morte de seu amante Johnny Stompanato - brilha como uma mulher dividida entre uma vida familiar e um universo de glamour e sucesso (talvez como a própria atriz se sentisse na época), mas é a trama paralela que analisa a problemática relação entre Annie e Sarah Jane que mais chama a atenção no resultado final.


Sintomaticamente, foram justamente Juanita Moore e Susan Kohner que conquistaram as únicas indicações ao Oscar do filme. Moore comove sempre que tem a chance de mostrar seu rosto martirizado pela dor da rejeição da própria filha - uma rejeição que não sofre da parte de Susie, que vê nela um exemplo materno mais eficiente do que sua própria mãe biológica. E Kohner apresenta um trabalho eficiente em um papel ingrato mas rico em seus conflitos psicológicos e sentimentais (como curiosidade, Kohner é mãe dos cineastas Chris e Paul Weitz, da série "American pie").

Visualmente "Imitação da vida" usa e abusa do kitsch, mas de forma bem mais discreta do que em trabalhos anteriores de Sirk, o que demonstra sua maturidade em termos visuais. A fotografia de Russell Metty é esplendorosa e casa perfeitamente com o ideal "romântico de fotonovela" proposto pelo cineasta - especialmente na segunda metade do filme, quando a vida de Lora Meredith transforma-se em uma espécie de conto de fadas escondendo graves problemas de relacionamento por trás de seus sorrisos de mentira. Pode-se dizer que a marca registrada de Sirk era justamente desconstruir as fachadas de vidas aparentemente perfeitas. E aqui, mais uma vez, ele o faz com delicadeza e contundência.

"Imitação da vida", assim como toda a obra de Douglas Sirk, não é do agrado de todo mundo. É preciso deixar de lado o preconceito contra melodramas e embarcar na viagem proposta pelo cineasta. Uma vez aceito o convite para penetrar seu universo é relaxar e se emocionar.

Um comentário:

odilon da silva rocha disse...

Um dos maiores filmes de todos os tempos, também na opinião do crítico Luiz Carlos Merten, do jornal 'O Estado de S Paulo". em São Paulo o filme foi lançado no cine Marrocos, onde ficou semanas em cartaz, um grande sucesso. A canção-tema era cantada por earl grant, que na época ficou conhecido com a música 'At the end"...e no início era confundido com Nat King cole. Recentemente, em 2018, faleceu o galã John Gavin, que teve em Imitação da Vida um de seus mais importantes paéis. em 1962 ele veio a São Paulo, na estréia do filme "Esquina do Pecado", outro filme de grande sucesso.

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