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DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA


DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA (Twelve angry men, 1957, United Artists, 96min) Direção: Sidney Lumet. Roteiro: Reginald Rose. Fotografia: Boris Kaufman. Montagem: Carl Lerner. Música: Kenyon Hopkins. Produção: Reginald Rose, Henry Fonda. Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, Jack Warden, Ed Begley, Martin Balsam, John Fiedler, E.G. Marshall, Edward Binns, Joseph Sweeney, George Voskovec, Robert Webber, Jack Klugman. Estreia: 13/4/57

3 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Sidney Lumet), Roteiro Adaptado

Um rapaz de origem latina é acusado de assassinar o próprio pai com um golpe de canivete. Sem um álibi concreto e tendo duas testemunhas do crime (um vizinho idoso do andar de baixo e uma mulher de meia-idade que assistiu ao homicídio pela sua janela), sua sorte parece não ser das melhores. Com o julgamento encerrado, basta apenas as deliberações do júri para que a justiça seja feita (ou não). Então, uma dúzia de cidadãos de idades, classes sociais e situações financeiras distintas são fechados em uma sala para dar o veredicto. Fim da história, sim? Não, absolutamente não. É justamente nesse ponto onde a maioria esmagadora dos filmes de tribunal acaba é que começa "Doze homens e uma sentença", de Sidney Lumet.

Escrito por Reginald Rose (co-produtor do filme, ao lado do ator Henry Fonda), "Doze homens" não foi um sucesso de público, apesar dos rasgados elogios da crítica e das três importantes indicações ao Oscar que conquistou: filme, diretor e roteiro. Não é difícil entender, uma vez que não é exatamente o tipo de produto que plateias ávidas por ação e astros de primeira grandeza costumam consumir. É um filme com uma inteligência bem acima da média, um elenco escolhido pelo talento e não pelo poder de fogo nas bilheterias, um ritmo teatral (mas nunca enfadonho como podem pensar os avessos ao estilo) e principalmente um filme que dá importância aos diálogos mais do que a movimentos de câmera e afins. É uma prova inconteste da força de uma boa escalação de elenco para elevar um filme à categoria de uma obra-prima.

Quando "Doze homens e uma sentença" começa, o julgamento em si já acabou. O público não tem acesso a quase nenhuma imagem do tribunal (exceção feita à bancada dos jurados e ao rosto angustiado do réu). É apenas quando os doze homens do título sentam à volta de uma mesa para discutir o caso é que o roteiro de Rose agarra a plateia pelo cérebro e não larga mais. O caso, aparentemente fácil de ser julgado passa a ser um desafio aos membros do júri quando, na primeira votação, o jurado de número 8 (Henry Fonda) afirma não ter certeza absoluta da culpa do réu. Contestado pelos outros colegas, ele explica, então, suas dúvidas em relação ao caso. Aos poucos sua retórica passa a contaminar outros parceiros de missão, que, mesmo a princípio certos da culpabilidade do rapaz acusado do crime, começam a questionar suas certezas, para desespero do jurado número 3 (Lee J. Cobb), que não entende como eles podem ter mudado de ideia a respeito de algo que, para ele, é tão cristalino.


O grande diferencial de "Doze homens e uma sentença" são seus diálogos. Fortes, contundentes e realistas, as falas criadas por Reginald Rose são mais do que suficientes para apresentar à audiência tudo que é necessário, sem buscar subterfúgios que o cinema tranquilamente poderia proporcionar. O grau de competência dos diálogos é tão alto que em nenhum momento o público assiste ao julgamento, mas ao final dos 96 minutos de projeção, a impressão que se tem é que ele foi visto com detalhes. E o que é mais importante: apenas o que é importante é mencionado. Em um corriqueiro filme de tribunal, isso ficaria a cargo do editor. Aqui, Carl Lerner tem pouco (mas importante) trabalho.

A importância do trabalho do editor Carl Lerner em "Doze homens e uma sentença" pode parecer pequena, uma vez que aparentemente não é preciso esforço para montar um filme sem maiores cortes. No entanto, é justamente ele quem, ao lado do diretor Sidney Lumet (que viria ainda a comandar pelo menos outro grande filme, "Um dia de cão", em 1975), dá ao filme a cara de cinema que ele tem. Inteligentemente, Lumet e Lerner optaram por uma edição tranquila, suave, delicada, que dá a cada detalhe do roteiro a importância que ele tem. Em teatro é difícil, por exemplo, concentrar-se em um único ator sem perder todo o restante do quadro. Aqui, o diretor e seu editor resolvem esse problema com facilidade e parcimônia, dando a cada ator seu momento certo de brilhar.

E que brilho! Há de se louvar o responsável pelo casting de "Doze homens..." Mesmo que de certa forma Henry Fonda seja uma espécie de protagonista (afinal, é ele quem dá o pontapé inicial no conflito retratado), seus colegas de elenco não ficam para trás em termos de desempenho. Lee J. Cobb como o truculento e quase irascível jurado número 3 (o que tem mais dificuldade em se deixar convencer pelas dúvidas dos colegas) rouba a cena sem nenhuma vergonha e a outra dezena de atores é de tirar o chapéu. Generoso, o texto de Reginald Rose (refilmado para a TV americana em 1997, com Jack Lemmon no lugar de Fonda) dá espaço para todos demonstrarem seu talento, mesmo que - e isso é outra jogada de mestre - suas vidas, ao menos para o espectador, possa ser resumida apenas às horas em que eles estão na sala de jurados. Durante a duração do filme - e da discussão entre as personagens - o mundo fora do tribunal é vislumbrado apenas pelo calor, pela chuva e pelo jogo de baseball que uma das personagens anseia em assistir. Eles estão ali para definir a vida ou a morte de um rapaz e apesar de nem todos terem a mesma consciência da importãncia do fato, o que acontece no mundo exterior não tem mais a mesma urgência. O fato de seus nomes não serem sequer mencionados (com exceção de dois deles, na cena final) apenas reitera sua condição de anônimos.

"Doze homens e uma sentença" é obrigatório. Para fãs de cinema, para estudantes de Direito, para todos que sentem prazer em assistir a uma boa história, contada por gente que entende do riscado. Imperdível!

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