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PSICOSE


PSICOSE (Psycho, 1960, Paramount Pictures, 109min) Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Joseph Stefano, baseado em romance de Robert Bloch. Fotografia: John L. Russell. Montagem: George Tomasini. Música: Bernard Herrmann. Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, John Gavin, Vera Miles, Martin Balsam. Estreia: 16/6/60

4 indicações ao Oscar: Diretor (Alfred Hitchcock), Atriz Coadjuvante (Janet Leigh), Fotografia em preto-e-branco, Direção de Arte em preto-e-branco

Vivien Leigh recortada contra um crepúsculo jurando nunca mais passar fome. Gene Kelly sapateando em poças d'água. Humphrey Bogart se despedindo de Ingrid Bergman em uma pista de voo escondida pela neblina. Marilyn Monroe tendo o vestido levantado pelo ar do metrô. O cinema hollywoodiano é pródigo em legar cenas inesquecíveis aos olhos dos fãs e ninguém pode negar que entre esses momentos-chaves da sétima arte um deles ainda assombra o público por sua ousadia e genialidade técnica: o violento assassinato de Janet Leigh durante um banho de chuveiro, em "Psicose", a obra máxima de Alfred Hitchcock, lançada em 1960. Ao som da trilha sonora absurdamente perfeita de Bernard Herrman, uma das sequências mais brilhantes da história do cinema foi incansavelmente analisada, estudada e imitada, mas ainda mantém-se tão chocante e inesperada como se vista pela primeira vez.

O filme "Psicose" é baseado no romance homônimo de Robert Bloch, por sua vez, inspirado em um fato real, no caso, a história de Ed Gein, um dos serial killers mais conhecidos dos EUA. Escrito pelo jovem Joseph Stefano, o roteiro do filme é provavelmente o mais surpreendente da carreira do cineasta inglês, principalmente por enganar sua audiência da forma mais descarada possível durante sua primeira metade. Tudo começa em uma tarde quente em Phoenix, Arizona, quando a jovem secretária Marion Crane (Janet Leigh) se encontra com seu amante, Sam Loomis (John Gavin), um homem em processo de separação. O romance dos dois sofre com a falta de dinheiro e por esse motivo, Crane toma a decisão impensada de roubar os 40 mil dólares que seu chefe lhe confia para depositar no banco. Fugindo da cidade, ela enfrenta uma tempestade e vai parar no Bates Motel, um afastado hotel prejudicado pelo desvio da estrada principal e que é dirigido pelo solícito Norman Bates (Anthony Perkins). Depois de uma conversa com o rapaz - que vive com a mãe doente em uma sombria mansão localizada ao lado do hotel - a jovem decide voltar atrás em sua decisão e devolver o produto do roubo. Antes que isso aconteça, no entanto, ela é violentamente assassinada pela mãe de Bates, durante um banho de chuveiro.



É justamente aqui, aos 47 minutos de projeção, que Hitchcock demonstra a potência de seu talento em conduzir a plateia pelo caminho que ele deseja. Ao matar a estrela do filme antes mesmo de sua metade (coisa jamais pensada dentro dos tradicionais moldes hollywoodianos), Hitch imediatamente sinaliza ao público que eles estão enganados sobre quem realmente é a personagem central da trama: não é de Marion e seus dólares roubados que se está falando e sim de Norman Bates e sua truculenta mãe. O fato da plateia, a partir daí, passar a simpatizar com Bates, um jovem aterrorizado pelo desequilíbrio mental de sua genitora (uma vez que ele é o protagonista da trama) apenas conduz a história rumo a mais uma desconcertante surpresa.

Tudo bem, não há quem não saiba o desenlace de "Psicose" (e dá uma certa inveja de quem o vai assistir pela primeira vez). O cineasta Gus Van Sant realizou uma desnecessária refilmagem em 1998, quadro a quadro, dando ao péssimo Vince Vaughn a chance de arruinar a personagem mais ambígua da história do cinema de suspense e com isso apresentou a trama a uma nova geração - a pergunta é: por que essa nova geração não foi à locadora pra assistir à versão original? A resposta pode ser: porque é preto-e-branco.

Na verdade, a opção de Hitchcock em filmar "Psicose" em preto-e-branco tem um motivo bastante prosaico: o cineasta achava (com razão) que o sangue fotografado em sua vermelhidão natural seria muito grotesco. O resultado não poderia ter sido melhor: a espetacular fotografia de John L. Russell (substituindo seu colaborador habitual Robert Burks) contribui muito para o clima claustrofóbico desejado pelo diretor e hoje fica difícil imaginar Janet Leigh sendo apunhalada em cores (Van Sant tentou... e deu no que deu).

"Psicose" é genial até em seu trailer (disponível na edição em DVD do filme), e seu enorme sucesso de bilheteria (é o maior êxito comercial do cineasta) mostra que, de vez em quando, o público acerta e vai aos cinemas ver produtos de qualidade. E, em um deserto de boas produções do gênero, voltar a rever a obra-prima de um cineasta como Hitchcock não deixa de ser um bálsamo!

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Mais um filme que quero e preciso ver !
A não ser a famosa cena do banheiro eu ainda não vi esse filme....
Abs.

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