quarta-feira

TAXI DRIVER


TAXI DRIVER (Taxi driver, 1976, Columbia Pictures, 113min) Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Paul Schrader. Fotografia: Michael Chapman. Montagem: Tom Rolf, Melvin Shapiro. Música: Bernard Herrmann. Figurino: Ruth Morley. Direção de arte/cenários: Charles Rosen/Herbert Mulligan. Casting: Juliet Taylor. Produção: Julia Phillips, Michael Phillips. Elenco: Robert DeNiro, Sybil Sheperd, Jodie Foster, Harvey Keitel, Albert Brooks, Peter Boyle, Martin Scorsese. Estreia: 08/02/76

4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Robert DeNiro), Atriz Coadjuvante (Jodie Foster), Trilha Sonora Original
Palma de Ouro (Melhor Filme) no Festival de Cannes


Nada como a garra e a ousadia da juventude. Em 1976, aos 34 anos, Martin Scorsese - recém saído do sucesso de crítica de "Alice não mora mais aqui", que deu o Oscar de melhor atriz a Ellen Burstyn - concebeu um dos filmes mais perturbadores e fascinantes de uma carreira que ainda viria a legar ao mundo obras-primas como "Touro indomável" e "Os bons companheiros". Unido ao roteirista Paul Schrader e ao ator Robert DeNiro, o cineasta nova-iorquino criou uma sufocante fábula sobre solidão, obsessão e violência passada nas ruas escuras e úmidas de Times Square: "Taxi driver", vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes de 1976.

De Niro, em uma atuação irretocável, vive Travis Bickle, um ex-combatente do Vietnã que começa a trabalhar como motorista de táxi no horário noturno como forma de lidar com a insônia. Convivendo com passageiros excêntricos e/ou patéticos, ele se torna obcecado pela bela Betsy (Sybil Sheperd), que trabalha no comitê eleitoral de um candidato à Presidência. Enquanto tenta conquistá-la a seu modo um tanto grosseiro e equivocado (em seu primeiro encontro, por exemplo, ele a leva a um cinema pornô), ele também conhece e fica interessado na história de Iris (Jodie Foster, aos 12 anos de idade), uma prostituta adolescente que ele acredita ser explorada por seu cafetão Matthew "Sport" (Harvey Keitel). Fascinado pelas duas, Travis decide impressioná-las usando de violência como cartão de visitas, o que o leva a uma carnificina.

Escrito por Schrader em apenas 5 dias - sempre com a arma carregada do roteirista em seu campo de visão como objeto de inspiração e motivação, segundo reza a lenda - "Taxi driver" encantou vários estúdios que se interessaram em produzí-lo, mesmo que alguns deles tivessem algumas ideias estapafúrdias para seu elenco: até mesmo o cantor Neil Diamond foi sugerido para o papel principal, escrito por Schrader com o ator Jeff Bridges em mente. Quando Scorsese assumiu a função de diretor no lugar de Brian de Palma, chamou seu amigo e colaborador Robert DeNiro para viver o protagonista e o resto é história.


Para as personagens femininas é que as coisas não foram assim tão fáceis. A bela e etérea Betsy, por exemplo, teve possibilidade de ser interpretada por dezenas de atrizes hoje bastante conhecidas: Farrah Fawcett, Jane Seymour, Glenn Close, Susan Sarandon, Meryl Streep, Sigourney Weaver, Liza Minelli, Barbara Hershey, Mary Steenburgen, Mia Farrow e Goldie Hawn. Cybil Sheperd ficou com o papel que foi escrito inspirado em sua imagem somente depois que sua agente ficou sabendo desse pequeno detalhe, mas sua dificuldade em decorar as falas foi motivo de muitos conflitos durante as filmagens, principalmente em relação aos produtores, o casal Julia e Michael Phillips. Mas se Sheperd, apesar de lindíssima não atrapalha nem impressiona, o mesmo não pode ser dito a respeito de Jodie Foster que, aos 12 anos, mostra que seu talento já vem de longe.

Para viver a prostituta-mirim Iris - que lhe deu uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante - Foster teve que bater 250 candidatas ao papel. Entre essas candidatas estavam, Melanie Griffith, Kim Basinger, Geena Davis, Michelle Pfeiffer, Brooke Shields, Debra Winger, Linda Blair, Carrie Fisher, Mariel Hemingway e, acreditem ou não, Kim Cattrall, a famosa Samantha Jones da série "Sex and the city". Seu trabalho, no entanto, é impecável. Mesmo com sua pouca idade, ela demonstra um talento incomum, que, anos depois a consagraria como uma das melhores atrizes de sua geração.

Na verdade, é difícil dizer o que funciona mais nesse impressionante trabalho de um cineasta-autor. O trabalho de atores, liderados por um Robert De Niro assustador e completo com uma juvenil Jodie Foster e um supreendente Harvey Keitel (que transformou uma personagem negra em uma branca) é cuidadoso, detalhista e seguro. A música hipnotizante de Bernard Herrman (em seu último trabalho, uma vez que morreu uma semana depois de concluí-lo) impõe-se como um pesadelo, especialmente em contato com a fotografia quase polidimensional de Michael Chapman, que deixa de lado o visual de cartão-postal de Nova York para mostrar uma cidade tensa, angustiada e nervosa como deseja o roteiro sufocante de Paul Schrader, transformado em imagens por um Scorsese em um de seus melhores trabalhos como diretor, cheio da energia e da garra dos cineastas iniciantes e engajados.

Sem fazer concessões ao agradável e a finais felizes incoerentes e desnecessários, “Taxi driver” é um dos filmes obrigatórios dos anos 70.

2 comentários:

Alan Raspante disse...

Esse é mais um daqueles filmes que apenas conheço de nome e fama. to doido pra ver! =)

Renato disse...

Essa é uma das grandes obras de Martin Scorsese. Em "Ilha do Medo", na cena no começo do filme, apareceu uma neblina que na hora me remeteu à Taxi Driver. Difícil de esquecer
Abs
Renato

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