sexta-feira

MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO



MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO (Stranger than fiction, 2006, Columbia Pictures, 113min) Direção: Marc Forster. Roteiro: Zach Helm. Fotografia: Roberto Schaefer. Montagem: Matt Cheese. Música: Britt Daniel, Brian Reitzel. Figurino: Frank Fleming. Direção de arte/cenários: Kevin Thompson/Ford Wheeler. Produção executiva: Joe Drake, Nathan Kahane, Eric Kopeloff. Produção: Lindsay Doran. Elenco: Will Ferrell, Maggie Gyllenhaal, Emma Thompson, Dustin Hoffman, Queen Latifah. Estreia: 05/10/06 (Festival de Chicago)

Em uma área árida de boas e ideias criativas como Hollywood um roteiro original e fresco é motivo de grandes celebrações. Não foi à toa que Charlie Kaufman tornou-se um dos mais celebrados autores da primeira década do século, graças a filmes como "Quero ser John Malkovich", "Confissões de uma mente perigosa", "Adaptação" e "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" - que lhe rendeu um justíssimo Oscar. E em sua busca desesperada por nomes capazes de sacudir a indústria, a capital do cinema logo se assanhou com Zach Helm, autor do script de "Mais estranho que a ficção": ao mesclar com inteligência e bom humor a metalinguagem com os conhecidos ingredientes da comédia, o jovem roteirista encantou a crítica especializada, que lhe concedeu o prêmio do National Board Review. Não foi sem motivos, já que seu roteiro é a maior qualidade do filme dirigido por Marc Forster, o homem por trás de obras tão díspares quanto "Em busca da Terra do Nunca", "A última ceia" e "A passagem".

Demonstrando um insuspeito senso de humor, Forster deixa que o roteiro de Helm e seu elenco de sonhos brilhe mais do que sua direção, o que por si só já é um mérito dos maiores. Sem interferir com ângulos complicados ou inovadores, o cineasta é apenas o sóbrio narrador da trajetória de Harold Crick (Will Ferrell no melhor papel de sua carreira), um auditor da Receita Federal que, de uma hora pra outra descobre ser a personagem de um livro que, para seu desespero, está em vias de morrer. Sua descoberta - através da narração de uma voz feminina que ele passa a ouvir repentinamente - o leva a uma busca angustiada atrás de uma solução que ele nem mesmo sabe se existe. Tentando descobrir quem é a autora do romance que narra a sua tediosa vida, ele chega até o veterano professor de Literatura Jules Hilbert (Dustin Hoffman, divertindo-se notadamente no papel), que passa a guiar sua investigação. Enquanto isso, Crick tenta levar sua vida normalmente, mas se apaixona por Ana Pascal (Maggie Gyllenhaal), a dona de uma confeitaria que tem suas próprias ideias a respeito dos impostos cobrados em seu país. Sua nova paixão e a consciência de seu fim próximo levam o antes certinho executivo a mudar a sua vida.


Além de contar com a ajuda preciosa de Ferrell e Hoffman, "Mais estranho que a ficção" tem ainda uma trama paralela tão interessante (ou até mais) do que as desventuras de Harold Crick. Na pele de uma Emma Thompson sem maquiagem e desprovida do humor ácido que a caracteriza, a escritora Karen Eiffel é talvez a melhor personagem criada por Zach Helm. Mentora do romance que conta a vida de Crick, ela é insegura, melancólica e utiliza sua profissão e talento em criar ficção para fugir de sua própria existência um tanto solitária e é genial a maneira com que a narrativa do filme vai inserindo o espectador dentro de sua mente, imaginando o desfecho trágico que se anuncia no início do filme - e que pode ou não ser alterado de acordo com a imaginação da autora.

Fugindo das gargalhadas óbvias - o que a presença de Will Ferrell como protagonista poderia fazer pressupor - "Mais estranho que a ficção" é quase uma comédia de humor negro com toques de uma melancolia muito bem-vinda. Ao utilizar com propriedade ingredientes de outros gêneros caros ao público - comédia romântica e até um pouco de suspense - o filme de Forster o confirma como um cineasta pau-pra-toda-obra, característica também de seu contemporâneo James Mangold. Logo depois desse híbrido um tanto estranho mas muito eficaz, ele assinaria o drama "O caçador de pipas" e o 007 "Quantum of solace". Nada mal para um diretor chamado pejorativamente de "sem estilo".

4 comentários:

Hugo disse...

É um filme original e interessante que me fez lembrar o ótimo "Adaptação".

Abraço

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gostei da direção e das atuações

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